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Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2005

paginas ou o proximo acto

os dias entretecem-se uns nos outros e as pessoas umas nas outras. momentos que passam a correr e momentos que demoram a passar. querer apanhar o tempo bom e querer despachar o mau. querer ter tempo para saborear. há muitos anos atrás não me conhecia como sou. não me conheço amanhã. falar de ano novo e de dia novo e de segundo seguinte novo. de vida por estrear por construir com os cimentos dos passados. de laços improváveis de laços estranhos de laços simples de laços quebrados e laços desatados. de partilhas corrompidas. de calmarias e tormentas. os balanços são sempre feitos com pólos negativos e positivos, balanças mais ou menos umbilicais. medos, riscos e petiscos. levantar a cabeça e seguir em frente. a minha avó na minha cabeça, a cada passo. ganhei desejos de boas festas, bom natal, bom ano. digo ganhei porque do outro lado de cada um estava uma quente mão estendida. generosa. porque confiante, porque confia em mim. sensação de um abraço, de uma entrega. uma partilha inacreditá

aha

The Movie Of Your Life Is A Black Comedy In your life, things are so twisted that you just have to laugh. You may end up insane, but you'll have fun on the way to the asylum. Your best movie matches: Being John Malkovich, The Royal Tenenbaums, American Psycho If Your Life Was a Movie, What Genre Would It Be?

tacto

procurou o conforto do assento atapetado meio curvo da carruagem, onde as suas costas não encaixavam bem. deixou-se embalar pelos roncos ecoantes da velocidade e pelos espasmos de cada paragem. os cheiros e vozes à sua volta contavam-lhe as histórias de cada um e de ninguém ao certo. também não interessava. a cada zumbido de portas deslizantes a azáfama dos pés apressados e rabugentos. os encontrões surdos e as malas das senhoras a baterem nas cadeiras. "com licença" "desculpe" "quer-se sentar?". os sacos de plástico numa restolhada. os anéis a tinir nos ferros. de súbito, um perfume. não se mexeu, mas os seus músculos retesaram-se sem clemência para os sentidos assustados. nos solavancos ritmados subiu a música há muito adormecida, desperta pelo aroma que agora lhe trazia à lingua o sabor amargo e revitalizante do perfume acabado de pôr. ao seu lado o calor de uma perna. mesmo ao lado da sua. uma simples perna, um membro do corpo humano. que transportava

frases para o dia

"eu olho para ti [no escritório a trabalhar sem gosto] e definho" "agarra-te ao que gostas, não esperes" [JB . actor . in charcutaria francesa] "you can feel my lips undress your eyes" [franz ferdinand . in darts of pleasure]

faz-me "espece"...

à saída do escritório, para ir almoçar, encontro na entrada um rapaz e uma rapariga a olharem para a lista de empresas que co-habitam neste multicentro como se estivessem a consultar um menu... - desculpe, queria uma informação... sempre disponível, preparei-me para ajudar... nunca me pensei que me fosse cortar a digestão... - aquela empresa, a XPTO Filmes, aceitam actores aprendizes? mas mas mas... como actores aprendizes...? contive-me e respondi o mais polidamente: - por acaso faço parte dessa empresa, o que lhe posso dizer é que normalmente trabalhamos com uma carteira de actores profissionais e, se estiver interessada, pode mandar currículo para o nosso e-mail. se andarmos á procura entramos em contacto... - sim, mas e assim pessoas que queiram aprender...? então... pera lá... tzzzt... tou em curto-circuito... - é que nós queríamos começar a fazer umas coisas, aprender, e queríamos informações sobre se aceitam aprendizes. mas o que é que ela quer que eu responda...? mas mas mas...

consoada

|maria do céu| abre a porta com o ar curioso que traduz a única vivacidade que lhe resta dos 30 anos. o resto nos olhos é tristeza. ainda veste a roupa de trabalho na quinta do pai, onde ordenha e trata as vacas. já não passa a ferro porque a preguiça entorpece-lhe a vontade. é grande, alta, cabelo crespo curto e olheiras que são já parte da pele. deixa entrar de sorriso dorido na pequena casa, recebe as prendinhas com beijos húmidos, amargos, de olhar esquivo. a bebé está a dormir. o marido agora não tem trabalho nas obras e foi passar o Natal com a outra mulher e os outros filhos na Roménia. não há presépio, apenas um pequeno projecto de árvore de natal cortado de um ramo de pinheiro, com algumas bolas velhas. também não há embrulhos na base da árvore. são nove da noite e estava a preparar-se para se deitar. à despedida, de alma cheia de lágrimas, mesmo antes de fechar a porta, olha para o fundo da rua. o casarão do irmão, todo iluminado a preceito para a quadra, envenena-lhe o ar co

antecipação

fujo cá para cima, depois de ter acendido todas as velas possíveis e imaginárias em minha casa. lá em baixo a azáfama porque os bolos-rei pegaram um ao outro no forno e é preciso telefonar a quem está longe. a panela gigante do bacalhau está no fogão e ciranda-se entre a bancada e a mesa com as fatias douradas acabadas de fazer. roubam-se sonhos de cenoura às escondidas e recebem-se mensagens no telemóvel. cheira a lenha queimada e ao perfume da minha tia. soa a sua voz cantada em espanhol, arrancando uma qualquer gargalhada à voz do meu pai. sei que o meu tio vagueia pensamentos no televisor e a minha prima ajuda a minha irmã com qualquer coisa que ficou por fazer. sei que a minha mãe rodopia na cozinha de cara aquecida pelo fogão e pelos beijos que lhe roubo para lhe contrariar os nervos. chuvisca e as gotinhas sapateiam na janela por cima da minha cabeça. detenho os dedos acima do teclado. imagino-vos nas vossas casas, ou de regresso às da família, a pôr a mesa, em amena cavaqueira

conversa com um anjo

sopras-me ao ouvido de vez em quando. sinto um calafrio. quando as coisas correm mal, sinto as tuas mãos à minha volta, como quem vai buscar umas meias para eu não me constipar. senti-te quando vi o rail a vir na minha direcção. sei que te senti. isto do saber que se sente chega a ser contraditório, se se sabe não se sente, pensa-se. mas não interessa. andas por aí, eu sei que andas. por isso pego em ti e tiro-te da árvore. miro-te fixamente para que me prestes atenção. tens muito que fazer, eu sei, mas espera um bocadinho. não demoro muito. o que te quero dizer é que vem aí aquela altura de que tu gostas tanto. estão aqueles dias brilhantes e geladinhos, em que é bom pendurar a roupa ao sol, com os gatos a passearem-se nos tornozelos. é tempo de noites em que engomar sabe tão bem pelo aroma da roupa quente onde perdes os pensamentos. é aquela altura em que o crepitar da lareira te traz as recordações dos teus tempos de aldeia e do tanque onde as moças de lenços na cabeça e olhos salpi

delirium dancems

comentava hoje aquela coisa de desatar a dançar sozinha. se era só prazer ou se era indicativo de algum desequilíbrio. isto porque sou consultada como "pessoa que tem aquela profissão [actriz, hem?] e portanto não é normal, e portanto deves ser a indicada para falar destas coisas". isto também porque determinada pessoa dita "normal" resolveu quase partir um dedo do bem que lhe soube desatar a dançar no meio da sala ao som de uma música. os meus pêsames à mesa. olha, não sei. não sei se é loucura ou sanidade. se é terapia ou enredo. eu gosto. muito. danço perdida entre as mesas do escritório, no meio da rua, interrompo uma conversa de café, se necessário. sozinha perco a cabeça e devaneio para sítios que não sei onde ficam e que só aparecem com música. logo a seguir esfumam-se no ar e fico eu e o suor e a vertigem. mandaste-me a música. e cá estou eu. ainda soam os ecos de uma música que adoro e nem lhe sabia o nome apesar de lhe saber as palavras. ainda há uma bruma

carrossel

a menina rodopiava entre luzes de todas as cores, sem noção do frio, do momento ou das dores em volta. rodava apenas, de olhos postos ora nos mundos do chão ora no cavalo branco de madeira que, desconfiava, a levaria para longe, em mil passeios de vento na cara em que a mãe lhe diria adeus e ela partiria com a certeza de que no regresso ainda a veria de rosto arrefecido aquecido pelo sorriso de orgulho. na menina que cavalgava em cima do cavalo branco. e perseguia os pombos que comiam migalhinhas pequeninas que lhe saíam das mãos de luvas lambuzadas de chocolate. a menina, de cabelo comprido e olhos de sonho, pulava sem sentir o peso dos casacos pelas bolas de mil cores que lhe salpicavam os pés, imaginando o prado verde, passando depois para a praia e os baldes e os castelos, vestia o vestido de princesa de sedas e tules cor de rosa, e depois descansava uma noite muito azul com um gato branco ao colo. viajava a menina, sem perguntas, no silêncio solene dos seus pensamentos, e a música

polegada #5

|the bat hour| temos de entregar 10 episódios até 6ªfeira. havendo pouco tempo disponível no estúdio (porque fazem locução de documentários, legendagem, têm de tratar os episódios já dobrados e eteceteras), teremos, os actores e respectivos alter-egos, de nos desdobrar em horários, digamos, alternativos... entretanto, aqui no escritório, um outro grande projecto, megalómano ou não, não sei, aproxima-se a passos largos. apesar de tudo, é nos meus dedos que confiam na altura de redigir, de explicar, de polir, de corrigir. os textos terão de ser meus, baseados em "ditados melódicos". como o patrão que vai fazer os ditados tem, ele próprio, sítios onde estar e coisas importantes a fazer durante o dia, a execução e tecelagem desse tão nobre projecto terá de ser feita... de madrugada. outra situação é uma reunião estranha que me marcaram para uma destas noites, que não sei onde vai parar, mas também ainda não quero pensar nisso. a hora do morcego chegou... e ainda não fiz as compr

nua

há meses que pensava despir-me. assim, vestir-me apenas do branco transparente das teias translúcidas da minha mente. o tempo e as circunstâncias entorpeceram-me os dedos. no repente decidi-me sem mais delongas. apesar de o sangue das papoilas ressaltar mais no escuro, aqui fica a minha cabeça no colo da minha avó, num lençol que me lembra os verões de menina. botão a botão fui desnudando o negro. desprendendo-o de mim sem efeito de catarse. apenas agora quero despir-me. revelar-me. no reflexo destas linhas. noutro contorno que me mostre a mesma, que essa não se altera. as cores de que, alguém me disse, eram feitos os meus textos condensam-se agora naquela que, dizem, é a cor que concentra as cores todas. neutro, também. depois da longa corrida, suada e cansada, tomei um banho prolongado nas palavras e consumi em respirações timbradas o fumo do cigarro das conversas amenas. aqueci-me entre vozes aveludadas, em luzes ténues de presença. de vigia. aqui estou. sou eu, a mesma. o caminho é

whataweekend

hoje tenho de ir às prendas. amanhã tenho de ir buscar a minha mala de maquilhagem, voltar para Lisboa, comprar o que falte e fazer ensaio de maquilhagem na noiva que vai estar a meu encargo nesta passagem de ano [já referi que se vai casar na passagem de ano?]. correr para o encontro de café que não posso perder. correr para o aniversário de um amigo. depois tenho de estar às 10 da manhã nos estúdios para gravar mais pelo menos 3 episódios de ursos [já referi que é Domingo de manhã e que tenho de acordar às 9, pelo menos?]. correr para ir almoçar com a famelga. vai faltar qualquer coisa e vou ter de ir a Lisboa outra vez... provavelmente às compras de Natal [já referi que tenho pelo menos 12 prendas a comprar, que estou falida, e que toda a família já fez anos em Dezembro e arredores?]. e segunda já é dia de trabalho...

to me you are perfect

ele era um bicho de contas. choro sempre que o vejo. assim que o vejo. compreendo-o com todos os ossos do meu corpo. respirou fundo e decidiu que já chegava. atirou-se de cabeça. ficou-me gravada a sensação de querer dar-lhe um beijo no galo. depois desta frase, já não sei onde quero chegar com isto. perco-me em considerações que poderão ser tolas ou aborrecidas. ou pouco terão a ver com o que digo agora, com o que queria dizer. as palavras às vezes só complicam. só interferem. doseamo-las da melhor forma que sabemos. preenchemos os espaços de ar com a respiração. encolhemos os ombros. para não magoar ficamos com os braços dormentes. para não nos magoarmos dói-nos o peito. a perfeição instala-se nos instantes em que nos suspendemos no ar. suspendemo-nos de nós. damos férias ao pensamento. e sentimos as texturas do vento, do pó, da canela e de uma qualquer música sussurrante no ar. tenho momentos em que me reprimo de tal maneira que não me conheço. não me compreendo. mas tu compreendes-

sou uma ursa

de coração no nariz, cores de cuecas de bebés, vivo numa nuvem com outros tantos. tenho uma imagem querida e fofinha na barriga redonda e peluda. que de vez em quando sai de mim e espalha amor por todo o lado [isto não soa lá muito bem...] às vezes tenho fraldas, metade do tamanho dos outros, uma voz irritantemente aguda e sou belfa. sou a Hugs ou Abracinhos... noutras, falo também agudo, mas não tanto, e prometo encher a terra dos ursinhos - "Care-a-Lot" - de enfeites cor de rosa... é a Cheer Bear ou Coração Animado... estas são as fixas... entretanto, no meio desta turba de seres tão-fofinhos-que-irrita, ontem gravei durante quase 3 horas. foram três episódios em que eu própria estendia os braços para trás, de fones na cabeça, espetava a barriga para a frente e gritava - 3, 2, 1, iluminaaaaaar! depois resolveram que eu ia fazer 2 ursos homens além da Animada... e ironicamente andavam sempre os três juntos, falavam em coro... e faziam uma corrida, portanto os uffs, ais, ahs

cup&cino

ao som de uma qualquer martelada e de Sting revisitado, a conversa foi fluindo durante horas que não chegaram a avisar que tinham passado por ali. primeiro correm as fotos debaixo de uma tecla, e os cheiros mudam e o ar parece deliciosamente arrefecido, parece que das bocas se soltam nuvens pequenas de vapor, que nos pés correm outras pedras. partilham-se os ventos e as luzes, dando-lhes a terceira dimensão dos sorrisos. depois as palavras descobrem novidades antigas, na língua humedecida por qualquer coisa quente e doce. a medo, primeiro, depois com uma vontade apenas de partilhar. são precisas umas queridas tareias com festinhas nas mãos e cigarros absorvidos de olhos brilhantes. uns passos reticentes entre uma bússola de cera e chama tremeluzente. e o mundo pára quando alguém leva a mão à cabeça e diz 4 palavras: - nunca tinha pensado nisso... um bichinho de contas enrolado em cima do tampo da mesa, com medo do frio, do tempo que passa por ele e não quer que passe e quer que passe.

o duende feliz

não, não é nenhum post acerca do nosso amigo linkado aqui ao lado, esse mestre dos contos e das fantasias... se bem que merecia... é que recebi uma prendinha de Natal e pude voltar às dobragens... algures nesta quadra [ergh, detesto esta palavra] passará na TVI o filme de animação "O Duende Feliz", ou "The Happy Elf". a Molly sou eu. [não tem que enganar é a miúda cuja primeira cena se passa a apedrejar o dito Duende, o Eubie... eheheheh] e também sou eu [kind of] que abro o filme, com a Irmã... esta não tem nome próprio, mas é a ela e ao irmão [que ela entretanto transformou em árvore de Natal à pancada] que se vai contar a história do Duende. sim, sim, calharam-me as miúdas reguilas e ainda por cima as duas dentro da mesma faixa etária... e agora fazer duas vozes distintas...? seria cantado pelo Harry Connick Jr. [essa maravilhosa voz que me persegue com a banda sonora de When Harry Met Sally] mas agora deve ser o Quim Bé a cantar... também não está mal... tu, jov

a epoca dos presentes

é sempre uma batalha esta época do Natal. não apenas por causa do Natal em si, mas por causa dos aniversários de uma família maioritariamente sagitariana. esta época das duplas dores no bolso começa em Novembro, dia 20 com a minha querida "mais nova", a menina dos caracóis loiros. no dia 1 de Dezembro é comigo que vêm ter as velas e as palmadas nas costas. dia 4 é o avô-polegar, que já fez os 90 sempre de tubinho de oxigénio como companheiro, tabuleiro à hora certa, chupa-chupas nos dias de bola e a campainha preparada para nos levar à loucura. um senhor que apesar de caprichoso, temos de reconhecer, é teso como já não se faz e insiste que velhos seremos nós todos antes dele... deseja sempre "que contes muitos e eu a ver"... o papi-polegar faz anos hoje. o meu querido pai, auto-didacta, transmontano de costeleta, inteligente, brincalhão. está doentinho, calhou mal, mas não vai ser uma gripe a impedi-lo de sorrir. depois vem um tempo de calma... ou seja, descobrir on

vermelho

vermelho escuro. pequeno. divertido. diziam que era a minha cara. era, sem dúvida, um cacifo da minha vida. um companheiro, sim, apesar de objecto. estranharão muitos este post, este estranho apego a uma coisa. mas essa coisa simplesmente foi a minha casa e a minha liberdade ao longo dos últimos 7 anos. nascido em Novembro de 1998, morreu em Novembro de 2005. morreu. porque não volta a andar, porque mo destruíram. durou 7 anos certinhos. era meu por uso capião e por estima. estranhamente sentia que me passava emoções, que me percebia, e, sim, eu falava e cantava com o meu jipinho. agora, entre pesquisas de valores comerciais em guias de automóveis, pergunto-me como vou pagar prestações de um novo carro. porque o que ele vale para os técnicos é pouco. e pergunto-me também quem me vai pagar as aventuras, as paisagens, os cheiros, as lágrimas e as risadas que aquele carro viveu? ficam as recordações . das coisas boas e das coisas más . especialmente a nível de aderência ao chão e assistên

e eu que acho que nao viajo o suficiente...

26 voltas ao Sol... tão fixe! o Sol está a aproximadamente 8 minutos-luz da Terra (i.e., a luz demora t = 8' = 8* 60'' a chegar aqui, viajando à velocidade c = 3*10^8 m/s). assim, o perímetro da circunferência descrita pela Terra durante uma volta ao Sol é (tudo aproximado, claro) dado por 1 volta = 2 * Pi * r = 2 * Pi * c * t = 2* Pi * (3 * 10^8 m/s) * (8 * 60 s) = 2,9 * 10^11 m = 3 * 10^8 km 26 voltas serão, então, 26 * 3 * 10^8 km = 7,8 * 10^9 km conclusão: já viajaste, muito aproximadamente, 8.000.000.000 (oito biliões) de quilómetros pelo espaço. nada mau ;) [informação gentilmente enviada por mail pelo querido Ni, que tem andado desaparecido mas não ausente]

sabe bem olhar para ela

[ms] desembrulho-me. ali como quem vai para o rio, duas ruas à esquerda, depois da viela adormecida nas luzes de uma porta, contam-se três candeeiros depois do início do quarteirão. fica bem perto da loja de brinquedos antigos de grades fechadas, de moldura de madeira azul escura. ali, onde se dispersam quentes no gelo do ar os laranjas dos prédios e dos seus recantos. onde a chuva pica na cara de tão fresca e se lambem os beiços húmidos para depois os deixar cantar com a senhora de voz cansada mas com trinado certo num labirinto de azulejos sujos do metro. ali, onde os telhados descobrem cortinas brancas e o recorte da mulher nua em contra-luz com sílabas afuniladas. ali, onde os teatros se deitam no colo, ao som do alaúde. ali, onde as sombras do rio são nenúfares azuis que sabem a geleia de morango e riem com os sinos da catedral. encontro-me, sempre ali. em qualquer lado. nos pés doridos e satisfeitos.