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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2006

hou la da barca, hou la!

todas as actrizes do elenco (e há três para um papel, já por causa das coisas) estão ocupadas em lançamentos de cds e digressões de outras peças, pelo que dois dias de espectáculo estão em causa, sem ninguém disponível. depois, se não se fizerem esses espectáculos, não há dinheiro para pagar às pessoas. who 're you gonna call? à pessoa que também tem de fazer a montagem, dar formação ao técnico que entra novinho em folha naquele dia, ao carregador novo, que com o velho terá de carregar duzentas cadeiras. ah, e fazer a bilheteira e tratar de encaminhar as manadas de meninos... valha-me a santa colher, que estava com tanta febre que se ofereceu a safar-me de mais esta... cá estou, a decorar falas vicentinas, para daqui a dois dias ir fazer um espectáculo, sem que o encenador ou o assistente de encenação se dignem a passar texto comigo. e sem ensaio de palco. pelo menos os colegas dizem-me que vai correr tudo bem... pois claro. ainda por cima tenho de cantar... não vale... bem, vou-me

pontes

foto roubada a nelson d'aires o tempo foi perdido, não por nós mas por tudo o que nos fez sermos quem éramos quando nos cruzámos. a desorientação no espaço é inevitável para quem não é mais que um fragmento de si, sem compasso de relógio, sem desejos nem carne. sem sangue. de sabores dormentes. quando o tempo nos toma as rédeas, fica-se suspenso. tudo muda à volta. permanecemos assim, sem o norte. mas sabia onde ficavam os pedaços dos meus dias úteis. e mostrei-te. nessa ponte encontraste a passagem. ali. e descobri que aquela passagem era minha também. escorremos como rio violento, quebrante, fugimos do tempo escondidos na humidade dos peixes. acampámos no limbo do destino, espetámos-lhe as estacas com a volúpia da vingança nos dedos, enquanto o tempo nos procurava. esquivámo-nos em gritos insanos para dentro um do outro. e o sabor acordou. o da tua carne na minha língua, o da tua vida no meu peito, o do meu peito nas tuas mãos, o dos meus gemidos nos teus cabelos brancos. o do so

folias :: o rescaldo

o som é maravilhoso. já gostava, agora gosto mais. dos senhores, da força e balanço da música, da audácia dos convidados especiais... de resto... bem, de resto a nota negativa vai unicamente para os convivas... é que ir ao lux é "bem", mas continuaram sem perceber porquê... havia com cada um... ora vejamos, enquanto ainda balanço ao som de "miúdo": .: as tias de casacos de peles e ar-tão-pedigree que desceram logo que abriu o acesso ao piso da discoteca. não podiam perder pitada, mas parece-me que acabaram meio perdidas. ficaram à frente mas perderam a pose: sem perceber porque é que o peeling estava a derreter e a desfazer-se com a vibração e porque é que os cintos cheios de metal e lantejoulas as puxavam na direcção das geringonças que faziam som - esse som estranho que não tem nada a ver com a Casa do Castelo, vindo de pessoas a sério em cima de um palco... .: os tios de fatinho, copinho na mão e a outra no bolso, que falavam da bolsa ao pé da entrada... deixaram

folias

sou uma foliona. gosto de sair. e como sempre tive pouca liberdade, nunca me dei ao luxo de armar em esquisita, em intelectual nem em hype: danço o que estiver a tocar, canto, salto e passo a noite a água [sem aditivos, hem?]. mas às vezes olho para a minha triste figura: então não é que aos 26 anos, se tenho encontros marcados para a noite, adormeço antes de ir para lá e tenho de ser arrancada a ferros do sofá onde aterrei mal cheguei do trabalho? é muito triste... hoje tenho um hot date com cindy kat . pois que posso não ser ninguém, mas tenho convites para o concerto de apresentação do disco, oferecidos por um dos próprios. sem intermediários... um luxo... ora que me ponho a pensar... se calhar não vou a casa... vou ficar por Lisboa a fazer tempo... beber alguns cafés... porque parece-me que ando a perder a pedalada. eheheh

ora vamos la ver

o novo carregador arrasta os pés. eram duzentos miúdos mais as respectivas professoras. os actores acordaram de rabo para a lua e eu é que acordo todos os dias às 7 da manhã. os actores recebem para ser actores e queixam-se da vida. os actores não percebem o conceito de "monumento nacional" e largam beatas no chão da sala. o "show case" de A Naifa transformou-se num "estou a fazer isto por ti". enganei-me a fazer as contas com as cadeiras. as professoras não percebem a noção de "cheque ao portador". eu não gosto de contar 300 euros em notas de 5. uma escola chegou atrasadíssima e ainda queria visita guiada. o engatatão da bilheteira viu-me passar carregada e disse "ó menina, cuidado com as costas". só na hora de encaixar as criancinhas me apercebi do erro de contas e tive de ajudar os carregadores a transportar mais 50 cadeiras pelos claustros. o novo carregador não percebe a noção de "a ver se saímos cedinho" e demorou tanto

recuerdos

passei a tarde de ontem, na indiferença à trasladação da Irmã Lúcia, a vaguear pelas ruas da minha infância. a recordar o sol no meu tecto e as paredes forradas com bonecos. a caixinha de música cor de rosa, que ainda guardo o espanta-espíritos da Branca de Neve que, um pouco mais pálido, ainda existe os óculos que ajeitava ao nariz, cada par mais "exótico" que o outro os meus dentes da frente, muito grandes e com uma falha entre eles os tempos do aparelho os tempos do ballet os tempos em que andava de costas direitas os tempos das apresentações na primeira "escola em palco" o meu primeiro poema para um público a inauguração da Malaposta, em que participei, tendo que ser retirada em braços do coche onde estava, porque o microfone não chegava lá a carrinha da Junta de Freguesia, a espalhar a "Lambada" pela vila dançar "Onda Choc" cantar o "Conquistador" o dia em que fiz uma tele-receita de leitão com laranja, utilizando a minha irmã como

hold still

recuperou o fôlego da noite e despiu os lençóis do corpo nu. da janela de madeira espreitavam ramos de plátano e prédios antigos. neles prendeu os olhos enquanto o primeiro cigarro lhe aquecia o peito. a chávena de café fumegou-lhe o silêncio das paredes lisas. as imagens suspensas dos seus olhos eram estilhaços de vida. tatuados em papel e em memórias vagas como o lume do sol no céu brilhante da manhã, que sombreava a cama revolvida através dos estores de ripas. pousou a caneca dengosamente, sentindo a cerâmica macia escorregar-lhe nos dedos húmidos do vapor. enterrou as mãos no cabelo e espreguiçou-se. ouviu uma voz. - pára. assim. clic. por causa disto . cliquem em "hold still" e fiquem parados um bocadinho. gostem ou não do cantor, um clip admirável com fotografias de Augusto Brázio.

manias...

o desafio do Rantas foi aceite. ficam aqui as minhas 5 manias, avisando desde já que a lista seria extremamente exaustiva e que excluí o teatro por motivos óbvios: não é mania, é dependência :) .: querer estar de bem com toda a gente, contra tudo e contra todos, apesar de ser bruta como as casas .: prender e desprender o cabelo constantemente .: cantar - infelizmente para os outros, a minha vida é um musical .: dormir de punhos cerrados ou com as mãos escondidas debaixo do pescoço, de lado, sempre com uma perna dobrada, o que apesar de até me fazer uma figura toda jeitosa e ondulada dá umas dores do camandro nas costas ao acordar .: e... esta é de facto estranha... desde miúda que quase adormeço quando limpo os ouvidos com cotonetes... don't ask e posto isto, passo o testemunho a: o duende feliz colherzinha de chá espanta-espíritos estranho pinky e macaso que não está cá, mas pronto, pode ser que venha com tempo e paciência de reencontrar este post nos arquivos ;) já passei do li

formiga atomica

cortesia de espanta-espíritos é preto, piquenito, arredondado, tem bochechinhas [diz que sim], orelhas grandes [como em retrovisores], olhos amendoados, e cara [pois está claro que tem cara] de sorriso maroto e atrevido. lá dentro é só negrume misterioso e laranja bem disposto à minha volta, em bolinhas [sim, bolinhas] estilizadas com números de lettering catita. ah, dizem ainda [e eu concordo] que tem muita pinta, ali entre o desportivo e o cosmopolita, o chique e o descontraído, o elegante e o intelectual... trendy, portanto. diz que é charmoso, diz que sim, e diz que me assenta que nem uma luva... ora está bem... rosna quando se mete a primeira mas depois é suave e desliza, ainda cheira a parafina queimada, não tem cinzeiro, o porta-bagagens é basicamente um envelope [isso não estranhei, que o Jippy era a mesma coisa... uma questão de tetris!], tem um acelerador ansioso por prego a fundo e é baixinho [eu, ex-dominatrix do todo-o-terreno e agora tenho de ter medo dos passeios! bah]..

rugas da parede

ouve-se no silêncio um pequeno percalço. um suspiro. não tem dono, apenas ao ar onde regressa pertence. o suspiro das paredes. são antigas e foram ali deixadas quietas, em abandono descrente. estranho santuário do pó dos dias, sem sombra que lhes alimentasse a alma para além da sombra que lhes contava da mudança das horas. ali ficaram, guardando as fotos velhas e as células mortas e os bichos do papel. velhas e desencontradas de sentido, a tristeza fizera-as perder a luz e a firmeza, despedaçando-se em pequenos pós brancos e beges e azuis no chão sem pés. uma lágrima caiu pé-ante-pé, sem aviso, em grito sufocado. não compreenderam, as paredes, o que lhes quereria a lágrima. timidamente taparam as faces, deixando no entanto uma frincha entre os dedos para espreitar a lágrima, que lhes escorria e se enrolava com o pó em pigmento egípcio, cada vez mais espessa, misturada na humidade e nos rolos de cotão. deslizava silenciosa, furtiva, absorvendo em si o negrume dos anos, acariciando-lhes

funny little frog

vá lá, é entrar no fim de semana a saltar. apesar dos lenços de papel, do cérebro a querer sair pelos olhos, da garganta arranhada e de falar à bom fanhoso ali dos becos atrás do Mercado da Ribeira. um sapinho engraçado dos belle & sebastian . quentinho a sair do forno, cheio de mimo do bom, para quem, como eu precisa de mantas e descanso este fim de semana. com um beijinho especial e euphons para a colherzinha que está, como eu, de molho.

estrada

[seguindo, a voar por teclas e papéis, deixando o leitor cantar-me o que lhe apetecer, um som antigo...porque viagens, essas, haverão sempre. no asfalto e na vida. así son las cosas...] Estrada fora estrada dentro, de Bayonne a Milão, coração ao relento, mundos e fundos na mão. Corpo negro macadame, de Milão a Budapeste, voar, "chercher la femme", norte, sul, oeste, leste. Polaroid, pôr do sol, vénus na concha da Shell, Sexo, sonho e rock'n'roll, noite branca no motel. Anjo perdido na bruma, leva-me ao sétimo céu, abre o teu manto de espuma, deixa cair o teu véu, deixa cair o teu véu, deixa cair o teu véu, deixa cair o teu véu... Chuva, bréu e gasolina, bar aberto, companhia, cheiro a erva na latrina, chá, café e fantasia. Ultrapasso um camião, passo fronteira e portagem. O écran do alcatrão devorou a tua imagem. Estou tão longe, estou tão perto, sei que nunca hei-de chegar onde vou não sei ao certo, já não posso mais parar. Refrão Contigo leio o futuro nas gotas do p

salvados

- a senhora desculpe, mas já agora queria fazer uma pergunta... por uma questão pessoal, gostava de saber o que é que vão fazer com o carro... é que se for para abate eu queria ficar com a matrícula... - olhe, tendo em conta a empresa que comprou os salvados, suponho que seja para o voltar a pôr em condições de ser comercializado. - ai não me diga... - sim, é o mais provável. - boa, era só o que me faltava... daqui a uns tempos dar de caras com um fantasma na rua... - desculpe? - nada, nada. olhe, muito obrigada. [entretanto, aqui nos arquivos do computador dou com o "é preciso ter calma" do Abrunhosa... ah pois...]

transparente sem possessivo

[ms] deitada, enleada nos pensamentos que não tinham relevância para o quadro pintado em sangues vivos, ocres e ceras. apenas a simples nudez. uma entrega aos sentidos aos lençóis aos silêncios e à luz das velas. ao embalar emocional de uma qualquer música na aparelhagem. o total desprendimento da noção de despida. da noção de pudor. porque ali jazia, deitada, viajando para longe, sem se lembrar ou esquecendo a pele ao ar, as suas curvas e recantos despojados de qualquer pedaço de opacidade. transparente, na pele que estendia pelo lençol. nos cabelos espalhados sem ordem ou vaidade. na linha do pescoço delicada. no requebrar suave dos músculos entre cada respiração. nas cores quentes que entornavam o corpo diante dos olhos. e no agudo ondular do suor num pequeno friso da parede.

era só um carro

já está. não resta comigo qualquer vestígio físico de ti. entreguei hoje o teu coraçãozinho. e - estupidamente, eu sei - choro.

à porta da loja

todos os dias lá está. veste roupa escura e suja, indescrita. tem um corpo estreito e seco, alto, do qual parece estar sempre a cair. o olhar parece não passar além dos olhos. cansaço. puro cansaço e tristeza. e um brilho febril de um qualquer ente deformado e reptilíneo que lhe rasga a vontade de ser, comendo-lhe a vida pelas veias. às vezes traz uma fita cor de rosa alegre que lhe prende desajeitadamente os cabelos limpos mas despenteados. o rosto moreno e comprido já foi bonito, salpicado de sardas e de lábios bem delineados que entretanto perderam a forma do sorriso. jovem, terá se tanto a minha idade. a voz sai-lhe grave e arrastada. senta-se na caixa da electricidade e dali pergunta a quem entra na loja se à saída não pode dar uma moedinha. passam por ela todos os dias muitas caras de sempre. no entanto parece nunca reconhecer nenhuma. fala a cada um com a mesma ladainha, o mesmo olhar vazio e desencontrado do simples reconhecimento. lê revistas e jornais que alguém lhe dá e par

esa mujer loca

dos 0 aos 100 numa palavra. na voz, decibeis acima do normal. capacidade para falar muito, discorrer ao pormenor sobre assuntos e abordar de uma forma quase autopsiante cada argumento, unindo-os numa elaborada e completa trama, difícil de acompanhar de tão longa, sempre apresentada num discurso fluido e alterado. com isto poderia ter ido para direito. ou para a política [then again... no. ergh!]. por parte disto já me perguntaram porque não segui psicologia. este é, basicamente, um dos meus milhares de defeitos. por amor sou capaz de me exaltar desta maneira completamente absurda. sou aguerrida nas coisas de que gosto, nas coisas em que acho que tenho razão, pelo bem dos objectivos que prossigo ou das pessoas que me são especiais. por esta minha estranha mania de me lançar ao ar "em defesa da causa" [expressão de colher de chá] sou conhecida no sítio a que mais me dediquei e ao qual trouxe [tenho plena consciência] grandes frutos como "esa loca". a minha forma demas