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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2006

sem senso

foto de ms deixou o poema numa amálgama de vidros partidos. soltou-os no cinzeiro com as mãos em concha. preencheu os fios de neblina com aromas doces, gelatinosos. teceu-lhes a música do silêncio chuvoso. espalmou os dedos como carimbos queimados de encontro ao tecto. saiu, fechou a porta e os olhos aos peixes voadores e ao homem do cachimbo. o cheiro. batia-lhe nos sentidos como uma franja violentada pela brisa. escalou a calçada rezando para não cair num buraco. já se sabe que os buracos são fundos e não é fácil sair deles. entre o zigue e o zague era outono. as paredes acastanhavam e aguardou o toque rosa do fim do dia. a árvore velha escureceu-lhe as válvulas da alma, deixando coágulos de luz pendurados no chão. pensou em fazer um quadro de serradura para poder ver o céu. o vento soprou-lhe qualquer coisa ao ouvido. penteou uma madeixa solta. não se apercebeu de que agora o cabelo brilhava com estilhaços de palavras.

detesto produçao II

- um apoio [bla bla bla] - apoio? para apoiarem a nossa empresa?! - não, para fornecerem material para a construção de cenário com retorno de 130% nos imp... - oh senhora, nós darmos coisas? oh senhora, peça ao Sócrates que ele ganha bem! - ... - ou o Cavaco! peça ao Cavaco!

o furto

foto tirada em Londres, para exposição, antes da compra não sei o que me falta mais... este fim de semana, animação no CCB, para ganhar uns trocos extra. saíram-me caros, devo dizer. guardadas as coisas que não iam ser necessárias na apresentação numa despensa, lá fomos vender "Pharmaton" para um público ao princípio hesitante, depois contagiado... pelas vitaminas, claro. regressando à tal despensa, pegar nas coisas para sair. deito a mão à mala para tirar uma coisa da carteira e zás! não está lá. simplesmente desapareceu. claro, como sou cabeça no ar, pus em causa o facto de me lembrar de já ter mexido na carteira nessa manhã, e pus a hipótese de ter ficado caída no carro ou em casa. pois que não. foi-se. evaporou-se. os telemóveis [pois, são antigos] permaneceram intocáveis, bem como a restante mochilagem dos outros elementos da equipa. contactada a organização do CCB dizem-me que vão "perguntar à equipa". peço muita desculpa, mas nestes casos eu revistava a equip

a um amigo

cada dia é mais raro dizer que se ama. honro-te a ti, que o fazes, de peito aberto. porque de mãos dadas é mais fácil sorrir. e chorar, também. porque o sorriso dela é o sítio perfeito para descansares. há momentos que não têm palavras. este vai ser um deles... hoje é o primeiro dia do resto da tua vida...

o assobio da cobra

São Luiz Teatro Municipal, até 26 de Novembro. Quarta a Sábado às 21h, Domingos às 17:30 um musical encenado por Adriano Luz foi o meu primeiro convite oficial e directo para uma estreia deste teatro [a/c Polegar e tudo], fruto de uma colaboração que teremos num futuro próximo. peguei em mim e aproveitei, que os bilhetes estão pela hora da morte... primeiro que tudo, uma nota: as vedetas por favor cheguem uma hora a trinta minutos antes do início do espectáculo sob pena de deixarem os anónimos na sala à espera enquanto voscenças são fotografadas para a posteridade do dia a seguir... é de muito mau tom fazer um espectáculo começar 20 minutos atrasado só porque a Catarina teve de ser fotografada e depois ainda teve de dar um beijinho ao Moniz e à Bocas... a história: pois que não se percebe muito bem... passa-se numa noite, num bar desses de periferia, algures entre os dias de hoje e os anos 50, onde vão só os habitués beber até terem sangue no álcool em vez de álcool no sangue. cada p

calçada de carriche

sobe polegar, sobe a calçada sobe lenta porque isto não anda nada ponto de embraiagem travão de mão puxa, baixa, acelera, tanto não pára arranca um metro à vez chegarás ao destino amanhã, talvez dói o joelho do acelerador convive, polegar, convive com a dor a besta do lado meteu-se à bruta vai-te a ele polegar chama-lhe filho da puta sobe polegar, sobe a calçada em dia de greve e chuva é piada a espera, as unhas, cigarros e fome é bom saber que o povo não dorme sobe que sobe sobe a calçada adaptação livre - e extremamente fraca em termos de métrica ou criatividade - do poema de António Gedeão hoje, ao sair de casa, recebo uma sms: "se tivesse a minha casa [em Lisboa], não estava há duas horas na Padre Cruz. V." lembrei-me de um episódio... à nossa ;) há uns anos, em dia de greve geral dos transportes públicos, o meu jipinho resolveu simplesmente entrar em coma em plena entrada da Calçada de Carriche, fila do meio, à beira da placa que dizia Lisboa. foi uma manhã épica: eu e a

detesto produçao

contactar empresas de madeiras. que possam dispensar material, mesmo que com defeito. com retorno de 130% nos impostos. 93 números de telefone de empresas. reuniões, horas de almoço, não está. depois há os que estão... - [voz de velha ranzinza] tou?!!!! - estou sim, muito boa tarde, seria possível falar com alguém do departamento comercial? - é pró quê? - estou a ligar-lhe da produtora XXXX. estamos neste momento à procura de apoio, em madeira para cenário, para um espectáculo que vai estrear em Janeiro com a Maria Rueff... - ah nós não fazemos cá disso. a essa, a gente vê na televisão. [como se recitasse a bíblia] temos de cortar nas despesas [job, 3:45]. - eu não sei se tem ideia, mas terá um retorno de 130% do que investir... - isso dos espectáculos não nos interessa. - ..... pronto, então muito boa tarde........ [nem 5 minutos depois] - [bla bla apoio em madeira para o cenário, Maria Rueff, Miguel Guilherme, 130% de retorno nos impostos bla bla...] - sim... [suspiro pesado] sabe, i

olé

A Espanha é o primeiro país a aplicar normativas que regulam o sector da moda, proibindo manequins profissionais demasiado magras e abaixo de valores considerados "nutricionalmente" saudáveis, apostando na definição de padrões comuns para o tamanho da roupa. [...] Nas últimas semanas, dois certames de moda, entre eles a conceituada Pasarela Cibeles em Madrid, proibiram o desfile a mulheres demasiado magras - ou seja, modelos profissionais com parâmetros abaixo de 18 por cento de massa corporal, o que corresponde a 56 quilos para uma altura de 1,75metros. [...] a Esquerda Republicana da Catalunha [ERC]anunciou que vai apresentar uma moção para que a União Europeia aplique a todos os Estados-membros padrões idênticos nos tamanhos da roupa [...] O documento inclui medidas no sentido de impedir a participação de jovens modelos, com menos de 18 anos, e para evitar que a maquilhagem usada simule rostos demasiado magros ou "doentios". in Público | 16 Set 06 diz que sim, di

a day without a night

passou por mim no jardim. o carro de janelas abertas e som demasiado alto. estava embebida em verdes, crianças a brincar, o homem estranho que pinta quadros do quiosque, as vedetas na esplanada, os turistas de nariz no ar, os velhos, os hippies, os intelectuais, a tia a passear o beagle. mas olhei para trás, seguindo o rasto de som que ainda restava no asfalto. alguns cigarros ardidos depois, na esperança de esfumar o resto da tarde, a janela aberta para receber a chuva na corrente de ar. já saíram todos. ainda cá estou. perdi-me em lembranças , porque me perguntei "o que estava eu a fazer há um ano". passou-se, assim de repente, desde que pisei um palco com as palavras de outros. desde aqueles dias que valem a pena, que nos esgotam de prazer. desde que pude contar uma história. desde as borboletas a esvoaçar no peito, o calor das luzes e dos olhos, os espíritos que nos ensinam segredos e as fadas que perdem brilhos se não batermos palmas. reli as conversas, as histórias que

al fresco

Praça de Espanha, 10 da manhã. 22ºC. ventinho. humidade. semáforo. no passeio ao lado distribuem o "Metro". duas raparigas em nada mais que lingerie, botas e chapéu de cowboy e o corpinho que deus lhes deu, correm entre a pilha de jornais debaixo de um chapéu de chuva - para proteger o papel da humidade - e os carros que vão parando na fila. os olhos estão vazios. não apelam à cuequinha de algodão com padrão de ganga, não simpatizam com quem olha. horrorizada, abro o vidro no instinto básico do "dê cá isso para ver se o molho de jornais acaba depressa para você poder vestir-se... e vá para casa beber um cházinho quente" o ponto a que chegam as campanhas de publicidade neste país começa a repugnar-me. já não basta o "ELES não gostam de celulite" - as gajas adoram os buraquinhos nas pernas, mas se eles estão desagradados, vamos lá enfiar agulhas no rabo; os anúncios de cerveja em que só há corpinhos bem feitos a serem galados, e a gordinha a passear na prai

algodao doce

onde é que estamos? será por aqui? acho que sim, lembro-me da igreja enfeitada. tanta gente, que confusão. vê lá não atropeles nenhuma velhota. que horas são? interessa? não. queres ir? e tu, queres ir? o sorriso não mente. são perdidos e achados no meio dos montes, são encontros com as fileiras de lâmpadas coloridas. ali ao canto viram-se frangos e não se vê mais que as mãos no nevoeiro aromático. cheira a comida e a doces, a farturas cheias de açúcar. a olhos açucarados. depois da alma lavada no rio, raspada com cuidado nos seixos para sair a fuligem, sujam-se os pés na terra pura do chão da aldeia. as vozes abafadas pelos microfones, o acordeão, os ferrinhos, a pandeireta. as cores fortes e o aroma inconfundível dos dias de infância. compra-me um balão. estás a brincar? não, compra-me um balão. qual queres? adivinha. era esse mesmo. os dedos cuidadosos envolvem o pulso com o cordel. como dantes se fazia para não se perder o balão. os olhos curiosos de uma menina a ver outra já gran

ouvido à boca cheia

homem - ele pode dizer o que quiser, pode fazer o que quiser, dar lá as voltas dele, como entender. um gajo tem de se orientar... mulher - claro, claro, mas eu acho que... homem - já ela... mulher - é uma puta, é o que é. uma puta. homem - é um bocado atrevidota, é...

fui etiquetada

a pinky mandou-me a máquina das etiquetas: quando fores etiquetado tens que escrever seis informações aleatórias sobre ti. depois escolhes seis pessoas para etiquetar e lista os seus nomes. ora portantos... vamos lá virar-me do avesso... :: XS | é a etiqueta do primeiro impacto visual. :: XXL | é a etiqueta da minha visualização de mim mesma. passo a explicar [e isto foi-me comprovado astrologicamente]: quando em confronto, tenho tendência para não ter noção do meu tamanho. começo a inflar lá do alto do meu metro e meio e uns trocos... além de ser bastante argumentativa e inflamada [inflamável, também], tendo realmente a ver-me fisicamente muito maior do que sou... no trânsito, consta que me começa a crescer o bigode e pende um crucifixo do meu retrovisor e tudo... :: handwash, handle with care | apesar disso, sou gaja, não é? emotiva, sensível, aquelas coisas do costume. :: 99% cotton, 1% silk | o meu modus vivendi, do meu modus operandi. simples, resistente e macio. com um toque de

retornos

olá! bem dispostinhos? tudo em ordem? encontraram lugar à porta? a pilha de papel na secretária, cresceu? ou ainda está tudo a meio gás? já desistiu da dieta? já não vale a pena, não é? agora fica para as resoluções de ano novo. isso e deixar de fumar, porque mal se entra no gabinete já se sabe, os colegas também já deixaram as férias e as resoluções para trás... é que os patrões vêm assim todos motivados, cheios de energia - pudera, depois das três semanas em Cancun e sabendo que daqui a um mês voltam a sair - e uma pessoa nem tem tempo para se habituar ao ritmo. depois cai-se em tentação. começa logo com o café. tinha reduzido e tudo... já era só um ao almoço, mas a bica e o queque... pronto, é aquela coisa... e depois o fumo e o cheiro e o vício de dedos, logo agora que já tinha deixado de roer as unhas... que maçada... e a colega, trouxe as fotos do Algarve? o Joãozinho está enorme, não o fazia assim! e o bronzeado, mas que belo bronzeado, parece que Deus o deixou a cozer um bocadi