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Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2007

I.A. iá, yeeehaaaa

cortesia espanta-espíritos para quem não está enquadrado: o I.A. é o instituto das artes. são os senhores que dão os subsídios, vulgo dinheirinho, aqui aos pobres dos artistas. para a droga e assim. uma vez por ano [excepto aquela vez do "ah e tal, esqueci-me"] abrem concursos para o pessoal mandar um projecto para uma peça. se eles gostarem do projecto, dão dinheirinho. se não, lá têm as suas razões. mesmo que se ameace com tribunal, o IA não se engana. apesar de os apoios irem parar quase sempre aos mesmos [se bem que com outros nomes, e para isso vai uma menção honrosa, nem todos conseguem inventar tanto nome seguido], os senhores estão a tentar acompanhar os tempos. e por isso foram evoluindo. dantes entregavam-se 5 calhamaços com todos os quês, comos, porquês, currículos, objectivos, articulação dos objectivos com os objectivos do I.A., metodologia dos objectivos, unhas encravadas do objectivos e... iada iada iada. resumindo, uns bons 10 kg de papel. depois resolveram qu

the fallen

momento de pressão extrema, com formulários electrónicos demoníacos, currículos idiotas, protagonistas idiotas, textos idiotas, um projecto incoerente inventado em cima do joelho, os responsáveis pelos mesmos a quilómetros [e continentes] de distância, conversão de textos de reivindicação política pseudo-esquerdina do género "vocês são uns vendidos e eu quero mais é que vão levar no rego" em polidas declarações de "ó por favor dê-me lá o dinheirinho que eu quero fazer uma pecinha freak". o corpo com demasiados meses de serões de revisões de texto, traduções e dobragens em cima, já suplica piedade e eu tenho de suplicar-lhe que não ceda... já. nesse momento, cai uma das poucas coisas que ainda me incluía. que ainda me dava gozo. talvez em Outubro. a recibos verdes, sem segurança social, a receber o recebo, talvez já não esteja cá em Outubro. [essa era a maior ironia.] mas o concurso, não te esqueças do concurso. argh... you could have it so much better... puxo o v

retalhos

lençóis de muitos metros. pés descalços na madeira. cantar enquanto se cose. cantar enquanto se espera. cantar enquanto se transporta. espalhar cartazes de madrugada. o carro cheio de cola. a carrinha cheia de cenário. olhos que já vêem mal, mas querem ver o fundo do túnel. frio, pés descalços e pedras seculares. o calor das luzes e de roupa pesada. acupunctura no cenário. respiração, diafragma, postura, projecção. raízes. tecido. charros e bolos. digressão, viagem, estrada, carrinha, pés. abraços de vocalizos que fazem cócegas na alma. um galão para o jantar. esquecer o texto. beijar o desconhecido. cabelos loiros. cabelos curtos. cabelos longos. cabelos pretos. rímel. pó de arroz. baton no espelho. mãos dadas na penumbra. choro, riso. cheiro de tinta, serradura, livros, roupas e mofo. perucas. máscaras. desenhos de figurinos. discussões. black-out e ovação. entra a música. cd riscado. cortes de papel. oriemirp. moça, inês, norma jean, marilyn, preguiça, lara, mulher, ela, ana, rita,

a-m-i-g-o

amigo escreve-se com todas as letras. engloba todos os nomes. de cada vida. têm bandas sonoras, também. e, muito simplesmente, "amigo" às vezes soletra-se assim: [...] lembro-me de ter começado por te ameaçar de tareia... nada demais, apenas um "queres levar?" querido e disse ainda que não te daria palmadinhas nas costas porque, como tenho uma força desmedida, podia magoar-te. Escrevi também que o que podia fazer era agarrar-te por trás (aqui não há qualquer espécie de conotação erótica meus queridos... "um charuto às vezes é só um charuto" e não sei mais o quê que o Freud disse... muito importante e lálálá) e assim agarrados começava a fazer vocalizos e tu rias-te muito e passava-te tudo. [...] my very own mr. bojangles

riscos

não me fales em ir mais devagar, agora que finalmente as luzes se desfazem em riscos esboçados nos vidros, nos teus cabelos, nos teus olhos assustados. não percebes nada, não vês. assim sim, o mundo escorre-nos pela frente e pelos lados e não temos de o ver. não como ele é, não assim. não me digas que é perigoso, que olha o carro ali, que faz pisca, que vamos morrer. não sentes? o estremecimento do motor como se fosse o teu corpo enrolado ao meu em noites violentas que já não voltam. sim, vai-se a cidade pelo vidro, pelo cano abaixo. num único risco rasgado deixamos de ver os fragmentos, os pedaços, os pormenores, a descrição aberrante das construções, dos viadutos, do urbanismo falhado de sociedade. vão-se, são riscos como podiam ser rabiscos. mas nunca perfeitos, nunca certos, nunca lisos e discretos. são raios raivosos. dilaceram-se e multiplicam-se a cada ressalto. assim destroçamos, diluímos, e não está lá o palco da tua vaidade, da minha indiferença. ficam apenas longas pernas d

maus fígados

mas será que nesta vida não me vou cruzar profissionalmente nem uma vez com alguém com poder decisivo que dê valor a quem está a dar o litro? a quem está sempre lá? será que vou ter de deixar isto tudo para trás de uma vez e desistir de acreditar que alguém um dia vai apostar nas minhas verdadeiras capacidades de trabalho? será que vou ter de dar razão aos meus pais... e a desilusão maior de, afinal, todas as desilusões que estão para trás, a minha carolice, o "my fucking way", não valeram a pena? será que tanta vontade, tantas noites sem dormir, tantas pontas remendadas... não servem para absolutamente nada? ai, vida, que ando com o rabo virado para a lua... espero que não se avizinhe de novo a depressão, porque agora não tenho mesmo tempo nem paciência para isso...

não

não se chega assim e se vira tudo do avesso. não se faz assim. não é decente. não depois de tudo, de toda a ajuda e dedicação. as pessoas não são lenços de papel por que imploram só até conseguirem tirar a cocaína das bordas do nariz. nem pastilhas dessas que derretem na boca para ver a realidade a cores. não se avisa, não se conversa, corta-se assim, de repente, porque numa noite de bebedeira assim se decide para agradar ao novo melhor-amigo-por-meia-hora? e os outros? não se pode contar com ninguém para nada. para nada. como é que num momento há gestos tão dignos que até abrem um sorriso nos lábios e noutro colapsam o chão só por humores e agradinhos? são horas a mais, já. dissabores a mais. e mais uma gota que daqui a nada entorna o copo. um dia, quando menos esperarem. porque nas costas dos outros vejo as minhas. posso não guardar rancores, dar segundas oportunidades feita parva. mas não esqueço. sabem que mais? bardamerda.

braços caídos

é apenas uma hora, se formos a ver bem as coisas. apenas uma hora de cada vez. duas horas, nos dias em que são duas doses. duas doses de espectáculo para, provavelmente, o mais estranho dos públicos: adolescentes. hormonas aos saltos, buços, bigodes, pelos públicos, massas adiposas e borbulhas a florescer. meninos ricos, putos de bairro, patos-bravos. do norte, do sul, do interior, do litoral. com professores que fazem ainda menos ideia do comportamento a ter durante um espectáculo do que os alunos. professores sem qualquer rédea sobre os putos. meninos bem-postos de farda, de risos tímidos atrás das gravatas. putos de calças descaídas que fazem rap enquanto cantamos. miúdos de aldeia que não percebem a noção de "está a acontecer um espectáculo, não se pode fazer perguntas aos actores se eles estão em cena". miúdos atentos que murmuram o nosso texto de uma forma assustadoramente metódica. silêncios contidos que explodem em gargalhadas e em aplausos. outros que não se guardam