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Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2007

feliz[es] aniversário[s]

este ano não há páginas enrugadas de um mapa, mochilas pesadas prevenidas penduradas, não há línguas estranhas, banhos de saberes, de gentes diferentes, de espíritos surpreendentes, ruas perdidas onde nos encontramos e ponderamos como seria. não há tea cosies nem vin chaud , não há east enders nem patisseries nem a parada das princesas. por isso te peço desculpa. no entanto, há a fuga. sempre a fuga, para a frente, onde fica o caminho, onde fica o regresso. há a estrada, sempre a estrada, que desembrulhas de vento e de prados que vais conhecendo de cor, no trilho das mãos que já não se separam. há regressos e silêncios pejados dos sons e dos cheiros que não te comprimem o espírito. há os dias que passam lentos mas não doem ao roçar-nos. haja paz.

fechos e cadeados

cerrou-se outro pano, hoje, sem haver pano para me fazer desaparecer. não há cortina nas pedras, apenas passos que desaparecem ao fundo da escada em caracol. depois dos últimos aplausos, a sensação de vazio que por enquanto consegue ser racionalizada. juntar as cartolas e coelhos dentro de um saco de feira, empilhar escadas que são barcos e fechar a porta com a chave de ferro. devagar, em passos mansos e decididos chegará o resto, o aperto dormente da repetição de dias sem grande sentido para uma alma que não se consegue encaixar na mala de viagem que a vida lhe preparou. de há algumas vidas para cá, em cada vazio com que me deparo, sempre me salga o rosto a dúvida. se dependerá ou não de mim fechar a cadeado estas páginas de felicidade, de peixe na água. se não me estarei a desperdiçar em esperanças, procuras e esperas vagas. se não estarei a arrastar mais dolorosamente do que o necessário a inevitável presença de um futuro que num compasso cada vez mais decidido parece que me rodeia

diz que estimula o neurónio, diz que sim

fui galardoada com o chamado prémio do estímulo do neurónio. houve um gajo qualquer que se lembrou disso - uma espécie de "olhós meus favoritos" -, e que acrescentou, com grande visão, um logótipo para a coisa. depois foi passando em cadeia até chegar à blogolândia lusa. pois que assim abordou os ecrãs de dois imberbes [ este e este ] que, de forma totalmente imparcial [cof cof], me nomearam a mim como uma blogueira que, obviamente , pela sua mui espectacular escrita, verborreia mental, vivências originais, cáustica ironia, acutilante informação cultural, assiduidade admirável e apontamentos de ficção em prosa poética da mai' fina, estimula-os a pensar na vidinha... provavelmente na vidinha mais simples, culta, bonita e mentalmente sã que teriam se não me tivessem conhecido, coitados... ditam as regras deste... errr... passatempo virtual, digamos, que agora nomeie eu [a mui venerável e laureada autora] cinco, e só cinco, "belogues*" que estimulam os meus que

assim seja

agora paraste de respirar. agora evadiste-te das paredes já desgastadas do teu peito. arrastou-se o tempo e agora parou. ela, que nunca te abandonou nem quando a mataste de cansaço, estará lá à tua espera. e, para onde vais, andar não custa. respirar não custa. as dores, as marcas, as horas, ficam. agora não importa. que descanses em paz, avô.

terapia do impulso

estou cansada. farta, de olheiras pesadas e tornozelo torcido. dias de passos impassíveis ao desespero pedem medidas drásticas de vontade de largar tudo o que obrigue a pensar. uma paragem para encontrar o branco e logo impera o impulso do vermelho. seja assim, sempre, em dança improvisada de apetecimentos. entornam-se os jorros de sangues e vestidos, tangos e coca-cola, o brilho e o cheiro e começar por onde não manda a regra porque é premente ver os muros mudar. e porque sim desenha-se infâncias e verdades na parede por pintar, porque sim, se ficar marcado é só mais uma história para contar. depois é a língua de fora no compasso certo da trincha, porque o risco tem de ficar perfeito, porque assim não se pensa no que não interessa à alegria. essa vive aqui. de corpo pesado, no crepitar de gotas de tinta no jornal, nas solas dos pés a colarem ao chão, no suave roçagar dos pincéis, na companhia infinita de duas almas cansadas e sorridentes que a traços largos esboçam as cores do "p

corte e costura

falava-se de certas pessoas para cuja presença começo a ter muito pouca paciência. aliás, no sítio onde desperdiço a maior parte do meu dia, a paciência já desistiu há muito... ficou-se-me o instinto de sobrevivência... até ver. corte - é a parvalhona da (não se pode mencionar o nome), q só sabe falar da gorda da XXX como se fosse a maior actriz que já pisou a terra costura - lol e um dia pode vir a ser corte - ah, sim. no dia em que APRENDER A REPRESENTAR! costura - porquê? corte - oh, pelo amor da santa. só tem duas velocidades: rápido e rapidíssimo. só tem duas entoações: jocosa e bruta como as casas. só tem duas expressões: olhos semi-cerrados e olhos fechados. é uma pessoa dual, portanto eheh costura - pera lá... mas estamos a falar de ela ser a melhor ou a maior actriz do mundo... ? é que tinhas dito a maior... :P

café cheio bem quente

seguia pela rua como qualquer outra pessoa, nem mais gorda nem mais magra, nem mais feia nem mais bonita. quase me acompanhava os passos. quando começou a falar: - é que ninguém faz nada. são uns assassinos. eles são uns assassinos e matam tudo e não deixam ninguém. matam as mães com os filhos lá dentro, e a mim também. não consegui evitar um esgar surpreendido. - pois, agora olhas para mim, pensas que eu não vi, não? mas os assassinos andam aí. eu sei, eu sei e toda a gente sabe. entrei directa no café, alheando-me da ladainha. mas ela veio atrás de mim. parou ao balcão logo à entrada e não esperou que a atendessem. - é um café cheio bem quente.

os milagres acontecem

a contagem decrescente é a parte angustiante de quem não tem vida certa e jogos de anca a fazer com o destino. nunca se sabe que cartada ele puxa a seguir. neste momento já sinto escorrer pelos dedos os últimos grãos de areia deste pequeno castelo de migalhas que me foi concedido para não me esquecer de quem sou. faltam meia dúzia de espectáculos. um punhado de ilusões e depois de volta ao fosso de onde me impeço, por vezes, de sair. entre dúvidas - as de sempre - de continuar ou esquecer, e o que vai ser de mim depois, há momentos em que algo nos prega ao chão do presente com garras docemente violentas. o medo de encontrar 230 miúdos era enorme. a garganta e a boa vontade, muitas vezes, não prendem a atenção de cem deles irrequietos. a turba foi-se aproximando e quando pensávamos que o grupo estava completo, lá víamos atravessar os claustros mais uma manada. mas quando chegaram perto de nós, o silêncio. as gargalhadas. o respeito. a diversão. o olhá-los nos olhos e vê-los beber-nos. e

let's and go

janeiro de 2005: toda cheia de razões e valores profissionais, calhou em estrebuchar acerca do estado em que os textos dos desenhos animados chegavam ao estúdio. passava-se mais tempo a corrigi-los do que a gravar. e na pós-produção passavam mais tempo a tentar colmatar falhas do que a... pós-produzir. propuseram-me que fizesse a revisão dos textos da bonecada seguinte. aceitei. era dinheiro extra e, achava eu, coisa que não tomaria muito do meu [parco] tempo. acabaram os ursos carinhosos, chegaram os let's and go. durante a primeira série, entregava 4 episódios por semana, ao domingo. quando as tradutoras começaram a perceber que traduzir para desenhos animados é um bocadinho diferente de traduzir documentários e é para crianças , levava-me à volta de 4 horas do meu fim de semana. na segunda série, tive de entregar 7 por semana. faseado em duas doses. mais duas noites para ir, realmente, gravar os ditos bonecos. durante alguns meses não tive vida. saía para casa para rever ou par

pisar os calos

há gente que gosta de cuspir para o ar. pode ser que lhe caia na testa. gosto de encarar este blog como uma esplanada ensolarada por onde passam ocasionalmente ou ritualmente umas quantas pessoas e se conversa sobre tudo. o mote, sendo este o meu espaço, são os temas que me rodeiam. gosto de argumentações acesas, pontos de vista diferentes. mas com tolerância e informação acima de tudo. não censuro comentários. esses tempos já passaram, nem nunca foram os meus tempos. felizmente. mas dá-me engulhos a atitude de certos comentadores que ocupam os seus tempos demasiado livres a saltitar de blog em blog à procura de luta. normalmente respondo e passo à frente. mas esta está arrematada. e a partir de agora peço desculpa pelo meu francês. adenda - como o senhor disse que era anónimo, eu chamo-lhe o que entendo. Gervásio, pá: andaste a correr as capelinhas todas , a espetar umas farpinhas, qual toureiro garboso, defensor de uma curiosa causa com slogan à laia Playstation 3. a tua falta de to

abrigo

deves estar a chegar. eu é que não dou pelos teus passos. a tua pele já não se faz avisar pelo aroma delicado que viajava antes de ti pelos corredores. eu sei, deves estar aí mesmo a aparecer. estou no sítio de sempre. a enrolar o tempo entre os dedos. a desenhar-lhe telhados. sempre gostei de telhados.