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Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2007

família feliz

sentam-se falando alto, de comida. a mãe é enorme e tem a voz aguda. parece "uma bola de berlim com um berlinde em cima". a filha é um ser sobrenutrido de sobrancelha farta e testa curta, com "corpo de trintona com 2 filhos" mas que gosta do Noddy e do Ruca. o senhor, que não parece ser o marido|pai, é grisalho e usa pólos brancos com uma risca e bolsinho no peito, à antiga. dá cotoveladas brutas na rapariga, mostrando que é um velhadas-à-maneira, percebe de tudo e da vida de todos e nada o impressiona. atacam uns bitoques oleosos enquanto discutem não sei quem, que está gordo e devia ter cuidado. diz que não era assim, que foi depois de largar o futebol. mas tem de ter cuidado com o que come, caraças, já não é novo. entrementes o senhor comenta que não gosta do Macdonas, que não é pessoa de ambrugas nem de sande. só assim para ir para a praia é que o convencem à sande. a moça atalha que até gosta do Macdonas, mas não vai muito. a mãe torce o nariz. nada bate a comi

salvar a pátria

a colega - que é a que trata dos dinheiros e pagamentos - andava atrás dele com o livro de cheques desde a semana passada. a resposta já podia gravar um disco: "hoje não me apetece assinar nada". a colega ia de férias durante 15 dias. na sexta-feira a cena repetiu-se: não lhe apetecia - ao outro - assinar nada. nem mesmo os nossos cheques - cócegas no meio de ivas e i-érre-cês. lá foi ela de férias, deixando-me o nib dela para lhe fazer o depósito do ordenado e, claro, a lista dos pagamentos a fazer quando se soltassem os apetecimentos do outro. o meu habitual "mas eu sou de letras" sacou uma gargalhada na despedida, um encolher de ombros cúmplice e dorido de uma batalha mensal sempre igual, mas de pouco mais adiantou. hoje ele chega-me a suar muito, conta histórias de como o chão da casa dele ferve. rimos todos. ele diz que quer comprar uns sapatos. os meus alarmes disparam, isto é um sinal de pairanço [ s.m., forma de estar do patronato num escritório quando há p

a história verdadeira

era uma vez uma formiga e uma cigarra que eram muito amigas, apesar de terem feitios muito diferentes. no Outono, a formiguinha trabalhou incansavelmente, a armazenar comida para o Inverno. não parou para descansar, não aproveitou os fins de tarde nem o pôr-do-sol, não esteve com amigos, não se foi divertir... já a cigarra passou o Outono na rambóia: ele era festas, estar com os amigos... andava sempre de guitarra debaixo do braço e toca de cantar em todo o lado e divertir-se comme il faut . chega o inverno e a formiguinha lá vai para a sua toca quentinha e confortável, recheada de provisões. está ela a ver se descansa um bocadinho as pernas quando batem à porta. é a cigarra, que lhe aparece num lindo casaco de vinil todo pimpão, guitarra debaixo do braço, óculos escuros e lenço na cabeça. - então! tá-se? - pergunta a cigarra - tá, tá. - diz a formiga espantada - e tu, como estás? - fofa, vou-me pisgar por uns tempos e precisava que me tomasses conta da toca. regar os bonsais, ver o co

etiqueta 1.0.1.

não pedir a uma pessoa a quem pagas por mês um quarto do que recebes por semana - de outro sítio - para fazer o teu trabalho... desse outro sítio. confuso? pois, deve ser...

na soleira da porta

perdi os olhos no rio, à minha direita. perdi-me. em cogitações sobre os efeitos da luz do entardecer na água. como parecia uma amálgama de recortes de papel de alumínio colados com cola de batom UHU, no chão, para reflectir o céu. perdi-me nisto tudo. só no fim do percurso me apercebi que o meu corpo se recusara terminantemente a virar-se para a esquerda, a encarar as luzinhas bonitas da cidade do outro lado. a encarar o regresso. acordei e vi uma nódoa. por mais que a esfregasse não saía e uma aflição tomou conta de mim de tal forma que chorei. chorei por uma nódoa e cheguei atrasada. recuperei e esvaí-me a um só fôlego, parece-me. ou não me consigo reservar espírito para os dias úteis-inúteis. a ordem das coisas está ao contrário, isso é certo, mas o inconformismo desgasta-me e, mais uma vez a um só tempo, não consigo ser de outro modo. fazes-me falta. há demasiado tempo que não te tenho, que não me tens. faz-me falta o teu cheiro e as nossas noites longas. o esforço, o suor, e os m

humming

promessa cumprida, para uma amiga. pinta de artolas à parte [inimitável], agora já sabes o que andámos a cantar naqueles loucos 4 dias ;) I’m gonna sing this song with all of my friends and we’re I’m from Barcelona Love is a feeling that we don’ t understand but we’re gonna give it to ya We’ll aim for the stars We’ll aim for your heart when the night comes And we’ll bring you love You’ll be one of us when the night comes I´m from barcelona | we're from barcelona

volver

três mil e sessenta e nove quilómetros, quarenta e cinco horas e quinze minutos de estrada. cinco etapas, ao longo de quinze dias. o asfalto comprido, os ventos, os cheiros, os mosquitos, os ataques dementes dos condutores espanhóis, a curiosidade por uma casa caber em dois pares de alforges e em sorrisos felizes apesar da distância. uma pequena cidadela com uma praça curiosa, rodeada de história e um teatro secular, o mais antigo da zona ibérica. igual ao que era, tratado como devia ser. o primeiro café-bombom e catalana do itinerário. os caminhos de Dom Quixote. e um só moinho. a aldeia perdida na montanha, a casa no campo, a praia, o descanso, a família, as guloseimas, as agua-cebadas, os percalços, a aflição e a determinação em seguir caminho. os picos, a areia. rincón de santi. a entorse. o mar da minha infância, ainda quente, ainda turquesa. vambú. noche hache, caiga quien caiga. breathe. crisis-is de celulitis-is. gilipollas! a primeira metrópole do caminho. um sorriso às sarda