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Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2008

feliz dia, dia feliz

ph.t. de espanta-espíritos a quem se enterra em dúvidas toda a vida, com a paixão como único guia. a quem vive de borboletas, tecidos e pós que se desvanecem nalguma curva do caminho. a quem renasce a cada luz que se acende. a quem se alimenta de dar. a quem tem apenas o corpo para dar. e nele recebe o suor de almas que não existem. mas acredita. a quem se rasga para caber mais qualquer coisa que não se vê, para que se veja. e a quem acende as luzes, a quem carrega nos botões, costura, constrói, inventa, pinta, escreve, captura, estende o adereço e orienta os passos. a quem conta histórias. a quem faz sentir. hoje é o nosso dia. feliz dia mundial do teatro.

ar

são os pontos de encontro da respiração. tudo está ligado, todos os lábios se beijam. cruzámo-nos. tu viste-me, não te vi. levantaste os olhos por momentos dos teus pés que acompanhas com devoção para não teres o mundo por perto, ombros descaídos sob o peso da mochila e da vida que escolheste. levantaste os olhos vagos, vagueantes, imensos, imersos, submersos, subterrâneos. triste momento despejado por ti abaixo, gelado. desenraizado. viste-me na minha distracção abstracta com as músicas enfiadas nos ouvidos, as letras nos olhos, o livro nos dedos hesitados, sem saber o que me leres na tal aura em que acreditas. e por ali ficaste, sem um gesto, sem uma inalação, à espera que essa suspensão me sugasse direito a ti. à espera que me vaporizasse em mil estilhaços que se te arrastassem pela cara, te cortassem as veias e a escultura do perfil, para ser culpa minha outra vez. nada. só os ecos. invadiram-te. mas não eram teus, eram só perspectivas distorcidas do espaço em volta, que te tocava

cinco

noites de olhos abertos porque o calor não está e eu com os pés frios não consigo dormir. não está ninguém? acendo a luz de presença, o sol desgasta-se à entrada. o refúgio são as cores. as velharias, os livros, os cartazes, a manta de polar. música. e o filme antigo que o amigo me deu como amêndoa para me adoçar os olhos. deixo que se derreta nas horas, devagar. sorrio. não me farto de esperar por ti.

desacordo ortográfico

a mulher olhava-me de esguelha. de cada vez que eu abria a boca, a minha visão periférica denunciava um movimento amarelo da cabeça da senhora na minha direcção. não sei se interessadíssima na veemência da minha posição, defendida em voz alta apesar de a rapariga que nos servia o chá ser brasileira, ou se incomodada por o meu discurso ser inflamado e pelo facto de eu esbracejar, estando certamente a distraí-la da apatia do seu próprio acompanhante. só sei é que quando peguei no jornal que estava disponível para consulta no bar, procurava o suplemento de cultura para saber em que sala e horário encontrar um determinado filme. mas o dito suplemento estava a descansar na mesa da tal loira, aberto e negligenciado, enquanto ela folheava uma revista de decoração, e eu fiquei-me pelos cabeçalhos do Expresso. como não tenho conseguido acompanhar a actualidade, pude finalmente pôr-me a par das novidades acerca do tal acordo ortográfico. e portanto a culpa de a estar a distrair é totalmente del

círculo

os claustros, as personagens antigas, as pedras que me quebram os passos. e parecia que não tinha saído dali. como se ao descer as escadas com os figurinos se estivessem a apagar os últimos 6 meses. é tudo cíclico, dizia-me eu a mim. saltei, fugi, corri, bati o pé, desviei-me, mas a espiral encontrou-me outra vez. mas encontrou-me diferente. encontrou de mim apenas o que eu quis dar, nas minhas condições. sem teclas, sem dias de passos arrastados, de cinzas macilentas. e pela primeira vez nestes anos todos, estou a trabalhar unicamente naquilo que sou. será que consigo manter-me à superfície? logo se vê. agora? aproveito para respirar. logo se vê para quanto dá o fôlego. borboletas na barriga. hoje vi papoilas. jogo à macaca, salto à corda, que linda falua, um dois três macaquinho do chinês. avó, vou brincar para a rua.

orgulhosicamente

há anos que não assistia ao Festival da Canção. o meu regresso foi de coração apertado, num espírito de missão. suportei estoicamente o rol de músicas óbvias e a roçar o pimba, aliviei-me na número 7 quando a "Canção Pop" do Nuno Markl interpretada pelo Ricardo Soler me fez bater palmas e dizer "ah, isto sim". e continuei em deprimidas, à espera de mãos cerradas, pela que seria a última da noite. estavam lá três amigos meus, parceiros de cesta de frutas, numa versão non sense do que pode ser este evento. claro está que o espírito passou incompreendido, mas eu fiquei a noite toda a cantarolar. parabéns. há anos que não sentia este cheiro de coragem e alegria. a contrariar o tal espírito luso das tristezas, o épico deprimido, o mar e o amor incompreendido. até gastei os tais dos 60 cêntimos mais IVA... :)

bons vizinhos

não tenho razão de queixa. a cusca do lado, para além de povoar a escada com uma selva amazónica, não chateia mais do que ouvi-la a espreitar à porta de cada vez que abro a minha. no rés-do-chão, o homem-torre e a esposa de cabelo vermelho são caladinhos, têm um gato engraçado que já salvámos um par de vezes e só se vestem com fatos de treino ao fim de semana. o bêbedo do benfica só tem conversas um bocado longas e de bafo etilizado quando o encontramos na tasca, mas está fora no Brasil e tudo. os velhotes do segundo andar nem piam, e o outro velho esquisito só é massacrante nas conversas das teorias da conspiração nas reuniões de condomínio, uma vez por ano, ou quando teima que quando não consegue estacionar o carro dele na garagem não é por ser um azelha a quem devia ser retirada a carta de condução, mas porque o resto dos condóminos arrumam mal os carros deles. por fim, o Vasco está a administrar condomínio há 3 anos porque toda a gente se descarta e ele até faz um bom trabalho. raz