ao fundo dos degraus de madeira já gasta dos passos uma porta de madeira e vidro. mais dois degraus, de pedra, um pouco mais largos, para o passeio. no segundo, de pés direitos assentes na calçada, sentava-se aquele homem. todos os dias, à mesma hora. de roupa tão neutra que não se conseguia descrever. não marcava por ser de um estilo, ser velha, nova, escura, colorida, quente ou fresca. o rosto era talvez monocromático. sem nada que o descrevesse ou tornasse único, aos olhares esquivos dos muitos que ali passavam. invisível como os passos que marcavam as pedras dos degraus, uma parte do degrau, talvez, que ocupava. uma parte da fachada do edifício que lhe servia de moldura. estático, como uma gárgula de carne e nervos desfocada da erosão dos dias. ficava direito, as costas largas apoiadas no vidro. um contraste de sombra perfeitamente delineado na luz errante do meio da tarde. poder-se-ia jurar que deixara já queimado no vidro esse seu contorno das costas. as mãos, nem curtas nem comp...