foto de ms deixou o poema numa amálgama de vidros partidos. soltou-os no cinzeiro com as mãos em concha. preencheu os fios de neblina com aromas doces, gelatinosos. teceu-lhes a música do silêncio chuvoso. espalmou os dedos como carimbos queimados de encontro ao tecto. saiu, fechou a porta e os olhos aos peixes voadores e ao homem do cachimbo. o cheiro. batia-lhe nos sentidos como uma franja violentada pela brisa. escalou a calçada rezando para não cair num buraco. já se sabe que os buracos são fundos e não é fácil sair deles. entre o zigue e o zague era outono. as paredes acastanhavam e aguardou o toque rosa do fim do dia. a árvore velha escureceu-lhe as válvulas da alma, deixando coágulos de luz pendurados no chão. pensou em fazer um quadro de serradura para poder ver o céu. o vento soprou-lhe qualquer coisa ao ouvido. penteou uma madeixa solta. não se apercebeu de que agora o cabelo brilhava com estilhaços de palavras.