disse para mim mesmo: não. isto não. e o pragmatismo caiu-me aos pés, ficou a mirar-me lá de baixo, do chão raspado, enrolado nas pernas da maca para não cair nos solavancos. era o cabelo. espalhado na miséria de almofada, soltava o teu cheiro e o que eu adivinhava ser a tua textura. emanavas dali, daquele corpo inerte, apesar de não seres tu. e eu só podia olhar para os monitores e ver aquilo a esvair-se. via-te a ti a esvaíres-te. puxava o cérebro para o comando das operações, tinha de estar alerta e no entanto duvidava agora de quem precisaria mais de medicação. delírio, confusão. vi os teus olhos raiados de verde naquele rosto pálido de olhos baços castanhos, revirados. vi-te. a surgir na rua que o meu sonho recorrente desenhava numa geometria apurada. uma rua que nunca vi na vida, mas ali era a minha rua. a única rua que interessava. porque estavas lá todas as manhãs, perto da hora de acordar. caminhavas para mim em passo lento e encostavas-te a mim. do que mais gostava era da min...