amanheceu fresco e o vento salpicou-me a cara de cabelos (agora) pretos. agora presos em dois pequenos totós e enfeitados de ganchos. menina. o sol entra agora a jorros pela janela e a camisola não faz sentido. o ar aqui abafa-me o peito. no escritório vazio, há tempo para fumar o cigarro agarrando o nada como companhia. levo a mão ao pescoço. acompanho com os dedos as gotas de suor. não as apanho ainda. deixo-as passear, vaguear até aos ombros. então aí, encontro com a ponta dos dedos o calor da pele e o prazer de olhar o sol lá fora. ensaio os passos de dança descalços que por vezes não me deixam trabalhar. logo à noite vou ao ballet e quero encontrar-me ali. por agora, agarro nas cartas e vou ao correio. deixar o vento soprar-me arrepios na pele molhada.