no meio da colecção das embalagens antigas, há sempre uma tradição que se mantém. essa, mais que para fazer uma colagem de latas de farinhas alimentícias e caixinhas de chás e pós aromáticos, é uma constante nas línguas gulosas. nos dias de calor, observar o caramelo a escorrer lânguidamente pela forma transparente enquanto se espera que a mistura ferva no leite e adivinhar, depois de um tempo de frigorífico, o eterno sabor de infância, fresco e doce, desfazer-se na boca. sem gosto da Ásia, verdade, mas açucarado como uma gargalhada embriagada de tempo bem passado. pés descalços na pedra fria, prato na mão. na sala canta com grãos de areia na voz um antigo vinil. fotografias a preto e branco, debotadas e dobradas nas pontinhas. inventam-se histórias para rostos desconhecidos. gotas de caramelo confundem-se no suor de uma colherada atabalhoada...