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sem senso


foto de ms

deixou o poema numa amálgama de vidros partidos. soltou-os no cinzeiro com as mãos em concha. preencheu os fios de neblina com aromas doces, gelatinosos. teceu-lhes a música do silêncio chuvoso. espalmou os dedos como carimbos queimados de encontro ao tecto. saiu, fechou a porta e os olhos aos peixes voadores e ao homem do cachimbo. o cheiro. batia-lhe nos sentidos como uma franja violentada pela brisa. escalou a calçada rezando para não cair num buraco. já se sabe que os buracos são fundos e não é fácil sair deles. entre o zigue e o zague era outono. as paredes acastanhavam e aguardou o toque rosa do fim do dia. a árvore velha escureceu-lhe as válvulas da alma, deixando coágulos de luz pendurados no chão. pensou em fazer um quadro de serradura para poder ver o céu. o vento soprou-lhe qualquer coisa ao ouvido. penteou uma madeixa solta.
não se apercebeu de que agora o cabelo brilhava com estilhaços de palavras.

Comentários

Anónimo disse…
Gosto tanto deste texto...
Anónimo disse…
obrigada, r., sei como é difícil agradar-te :P
Anónimo disse…
gosto. gosto. gosto.
bonito. muito bonito.
demasiado.
Anónimo disse…
Querida Polegar
Prosa poética... a tua magia à solta?
Um beijo
Daniel
Anónimo disse…
Que bom de se ler!e de se sentir:)!
Anónimo disse…
belo post/poema/imagem.....
tocante
:)
Anónimo disse…
é assim que o outono chega, pelo caminho do silêncio chuvoso que entope o tempo e o espaço, qur nos quebra o respirar... :(
Anónimo disse…
maravilhosos imprevistos...
Anónimo disse…
Um encontro premeditado ou não (?) com vestígios de testemunhos de outros encontros. Deixaste o teu carimbo?
Deixaste-me em mim uma marca de ferrete com o teu texto.
Anónimo disse…
colher: sorriso...

daniel: não sei se será magia. escapou-se-me...

elisa: obrigada.

intruso: tocou? era essa a intenção! volta sempre :)

pinky: na-a! raise your head girl! shake it like a polaroid picture!

espanta: serendipity! ;)

rantas: fica sempre tatuado algo em nós. depois escapa-se em palavras de que não somos donos...

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