simples. eu sou simples.
protagonista dos meus filmes, bem disposta e efusiva quando o vento me corre de feição. mas claro, conhece alguém que o não seja? se sim, mente. e que divertido é, arranhar as paredes dos dois lados a ver qual cede primeiro. mas claro que cede. acabam sempre por ceder. se souber fazer as coisas, obviamente.
surjo assim sem se dar por ela.
por mim.
uma comichão que se tenta ignorar mas que saltita de vez em quando. acabarão por ter de coçar. vai-se devagarinho em discreto. como as cicatrizes que se queixam do tempo. oh, lá estás tu dor, ainda não te foste embora? não, ia lá agora se aqui estou tão bem. sou assim qual doença urbana, rastejante, temperamental e fulminante.
com paciência e olhar cínico
perdão,
clínico.
se não espirra, há-de tossir.
eu tenho é de saltar cá para fora em tcharã.
andar assim modestinha e encolhidinha,
ai de mim,
até deitar a unha bem arranjada de fora. com um inocente relampejar de pestanas que por acaso atordoa. já se sabe: sem darem por ela, já está feito. sem eu pedir.
mas havia alternativa?
no fundo, reivindico. o que é meu por direito, está claro. mas sem aquele alarido inconveniente que fica sempre mal.
porque nunca se sabe como é que as pessoas vão interpretar a verdade dos factos. é preciso ter cuidado com isso. são capazes do pior, as pessoas. temos de as esclarecer como deve ser. nem que tenha de ser uma a uma. para perceberem como deve ser.
o segredo, eu conto, é hastear a bandeira da modesta, fraquejante e brilhante-ainda-assim entidade superior que sou.
mártir da minha própria excelência, compreende?
e depois dá-me a veneta. o chilique, percebe? repito: o que é meu por direito, está claro. mas sem a parte do alarido.
ora a palavra-chave é vulnerabilidade. de quem tem mais pena? da presa ou do predador? a vítima, aí está, poque isto é tudo um jogo de forças, não seja ingénuo. e as aparências iludem. surripiar uns tiques, torná-los meus, e depois dá-los nas vistas. eternos desconhecidos para além do meu tão fantástico cunho pessoal.
repare.
ali entre o assoberbada e o perturbada, a angústia, a náusea,
deixem estar, eu fico bem.
e venha a águinha importada, a toalhinha do turco da turquia, o açúcar mascavado do egipto para o chá de perpétuas roxas com gengibre e limão, a florinha da ásia que ajuda à sinusite e dá boas energias do feng shui, o tecido que não amarrota nem me faz alergia, a bainha da saia, a marca de pó compacto à minha espera no camarim. o camarim exclusivo.
ah, o exclusivo. meu, meu, só meu.
serve bem assim, a anca bamboleante em desnorte do seu magnetismo natural, o olhar desprotegido e inquieto no seu assombro. pode-se dizer quase tudo assim. como quem não quer a coisa.
e depois, já vê.
eu? mas se eu não fiz nada! vá, coreografe-se o encanto: ombrinho levantado, cabeça inclinada no pescoço elegante e ar delico-surpreendido quase quase indignado com a vaga alegação. e que não aleguem com muita força, porque como imagina tenho de esclarecer tudo imediatamente, mas o que é isto? agora faltas de respeito? não tolero.
não admito.
é uma frase muito minha. o não admito. sou assim, directa, franca, pão pão queijo queijo e pronto. se não me quiserem assim, que dispensem a minha presença, ora essa. agora não me obriguem é a aturar pobres de espírito. há ocasiões para tudo. mas claro, com classe tudo se resolve sem perder a pose. aquela pose que já lhe mencionei. não volto a repetir tudo porque eu sou de poucas palavras, tímida, está a ver? dizem que como todos os bons artistas. não sei de onde me vem esta aura. talvez das minhas raízes.
que não renego, as minhas raízes.
afinal, histórias que não importam à parte, fizeram-me assim, com esta aura de que lhe falava. simples, dócil, briosa, com uma enorme capacidade de sacrifício, uma discreta sofisticação e apenas uma pitada de mau génio, que no fundo dá sempre jeito para não nos fazerem as papas na cabeça. e, repare, apenas se me dispara o mau génio artisticamente, não é?
que eu considero-me uma pessoa bastante razoável, até.
o génio, bem vê, a par da minha notável melancolia, dá um toque de cor mas nunca me reflecte como inacessível. só distante, mas nunca inalcançável. fresca, por vezes até parecendo fria, mas nunca frígida.
nas palavras, quero dizer.
sou muitíssimo espirituosa. para quem me compreende, claro está. porque eu sou muito generosa. já viu o que seria de um grupo sem mim, sem a minha iniciativa para guiá-los?
não me interessa se é ambíguo. ambíguo é bom. eu nunca me desmancho. eu não me contradigo, refaço-me conforme a situação.
mas voltando ao assunto.
nunca esquecer, contudo, que há um único crédito próprio que se pode e deve assumir: eu sou apenas uma lutadora. contra todas as tempestades que me quiseram vergar. porque o mundo pode ser tremendo, inclemente e injusto. bonito, não acha? o resto foram vocês que me deram. vocês são uns amorosos, todos.
estúpidos, mas amorosos.
e ninguém tem acesso aos bastidores. vão lá saber que eu cá não é água do cano se me posso afiambrar. que se me apetece até me entretenho a fazer teatro só para mim.
sou de tal forma que às vezes até eu acredito em mim.
é do que mais gozo me dá. fazer assim os meus números em privado e deixar a porta entreaberta. a ver se espreitam, a ver se caem.
comentários sobre a passadeira da fama? está a ver mal a situação. a questão são os sapatos de salto alto... e a sua relação fugaz e descomprometida com a passadeira da fama. que tem mais é de estar quieta e comportar-se como simples tapetinho que é, que por acaso até é encarnado, vai bem com o vestido, é conveniente. não se esqueça: peça secundária, cenário contextualizante para passear o ego.
livre-se de perguntar o que seria do ego se não tivesse um tapetinho para pisar. não seja ridículo. não é essa a questão.
oh, mas para quê falar de mim? insiste? vejamos o que lhe posso dizer...
protagonista dos meus filmes, bem disposta e efusiva quando o vento me corre de feição. mas claro, conhece alguém que o não seja? se sim, mente. e que divertido é, arranhar as paredes dos dois lados a ver qual cede primeiro. mas claro que cede. acabam sempre por ceder. se souber fazer as coisas, obviamente.
surjo assim sem se dar por ela.
por mim.
uma comichão que se tenta ignorar mas que saltita de vez em quando. acabarão por ter de coçar. vai-se devagarinho em discreto. como as cicatrizes que se queixam do tempo. oh, lá estás tu dor, ainda não te foste embora? não, ia lá agora se aqui estou tão bem. sou assim qual doença urbana, rastejante, temperamental e fulminante.
com paciência e olhar cínico
perdão,
clínico.
se não espirra, há-de tossir.
eu tenho é de saltar cá para fora em tcharã.
andar assim modestinha e encolhidinha,
ai de mim,
até deitar a unha bem arranjada de fora. com um inocente relampejar de pestanas que por acaso atordoa. já se sabe: sem darem por ela, já está feito. sem eu pedir.
mas havia alternativa?
no fundo, reivindico. o que é meu por direito, está claro. mas sem aquele alarido inconveniente que fica sempre mal.
porque nunca se sabe como é que as pessoas vão interpretar a verdade dos factos. é preciso ter cuidado com isso. são capazes do pior, as pessoas. temos de as esclarecer como deve ser. nem que tenha de ser uma a uma. para perceberem como deve ser.
o segredo, eu conto, é hastear a bandeira da modesta, fraquejante e brilhante-ainda-assim entidade superior que sou.
mártir da minha própria excelência, compreende?
e depois dá-me a veneta. o chilique, percebe? repito: o que é meu por direito, está claro. mas sem a parte do alarido.
ora a palavra-chave é vulnerabilidade. de quem tem mais pena? da presa ou do predador? a vítima, aí está, poque isto é tudo um jogo de forças, não seja ingénuo. e as aparências iludem. surripiar uns tiques, torná-los meus, e depois dá-los nas vistas. eternos desconhecidos para além do meu tão fantástico cunho pessoal.
repare.
ali entre o assoberbada e o perturbada, a angústia, a náusea,
deixem estar, eu fico bem.
e venha a águinha importada, a toalhinha do turco da turquia, o açúcar mascavado do egipto para o chá de perpétuas roxas com gengibre e limão, a florinha da ásia que ajuda à sinusite e dá boas energias do feng shui, o tecido que não amarrota nem me faz alergia, a bainha da saia, a marca de pó compacto à minha espera no camarim. o camarim exclusivo.
ah, o exclusivo. meu, meu, só meu.
serve bem assim, a anca bamboleante em desnorte do seu magnetismo natural, o olhar desprotegido e inquieto no seu assombro. pode-se dizer quase tudo assim. como quem não quer a coisa.
e depois, já vê.
eu? mas se eu não fiz nada! vá, coreografe-se o encanto: ombrinho levantado, cabeça inclinada no pescoço elegante e ar delico-surpreendido quase quase indignado com a vaga alegação. e que não aleguem com muita força, porque como imagina tenho de esclarecer tudo imediatamente, mas o que é isto? agora faltas de respeito? não tolero.
não admito.
é uma frase muito minha. o não admito. sou assim, directa, franca, pão pão queijo queijo e pronto. se não me quiserem assim, que dispensem a minha presença, ora essa. agora não me obriguem é a aturar pobres de espírito. há ocasiões para tudo. mas claro, com classe tudo se resolve sem perder a pose. aquela pose que já lhe mencionei. não volto a repetir tudo porque eu sou de poucas palavras, tímida, está a ver? dizem que como todos os bons artistas. não sei de onde me vem esta aura. talvez das minhas raízes.
que não renego, as minhas raízes.
afinal, histórias que não importam à parte, fizeram-me assim, com esta aura de que lhe falava. simples, dócil, briosa, com uma enorme capacidade de sacrifício, uma discreta sofisticação e apenas uma pitada de mau génio, que no fundo dá sempre jeito para não nos fazerem as papas na cabeça. e, repare, apenas se me dispara o mau génio artisticamente, não é?
que eu considero-me uma pessoa bastante razoável, até.
o génio, bem vê, a par da minha notável melancolia, dá um toque de cor mas nunca me reflecte como inacessível. só distante, mas nunca inalcançável. fresca, por vezes até parecendo fria, mas nunca frígida.
nas palavras, quero dizer.
sou muitíssimo espirituosa. para quem me compreende, claro está. porque eu sou muito generosa. já viu o que seria de um grupo sem mim, sem a minha iniciativa para guiá-los?
não me interessa se é ambíguo. ambíguo é bom. eu nunca me desmancho. eu não me contradigo, refaço-me conforme a situação.
mas voltando ao assunto.
nunca esquecer, contudo, que há um único crédito próprio que se pode e deve assumir: eu sou apenas uma lutadora. contra todas as tempestades que me quiseram vergar. porque o mundo pode ser tremendo, inclemente e injusto. bonito, não acha? o resto foram vocês que me deram. vocês são uns amorosos, todos.
estúpidos, mas amorosos.
e ninguém tem acesso aos bastidores. vão lá saber que eu cá não é água do cano se me posso afiambrar. que se me apetece até me entretenho a fazer teatro só para mim.
sou de tal forma que às vezes até eu acredito em mim.
é do que mais gozo me dá. fazer assim os meus números em privado e deixar a porta entreaberta. a ver se espreitam, a ver se caem.
comentários sobre a passadeira da fama? está a ver mal a situação. a questão são os sapatos de salto alto... e a sua relação fugaz e descomprometida com a passadeira da fama. que tem mais é de estar quieta e comportar-se como simples tapetinho que é, que por acaso até é encarnado, vai bem com o vestido, é conveniente. não se esqueça: peça secundária, cenário contextualizante para passear o ego.
livre-se de perguntar o que seria do ego se não tivesse um tapetinho para pisar. não seja ridículo. não é essa a questão.
oh, mas para quê falar de mim? insiste? vejamos o que lhe posso dizer...
Comentários
e, já agora, ganhaste o prémio: aguentaste-te à bomboca de ler este texto.
estiquei-me um bocado eheheh...
também para deixar o convite para visitares o meu blog, deixei lá uma "polegada" para ti... =)
depois "conta-me como foi"!
bravo!
(cai o pano,
a vedeta sai...)
[muito bom......................]
Mas olha que de vez em quando também me dão ataques de vedetismo;)
Beijinhos
intruso: penso que esta é a verdadeira vedeta, depois de o pano cair...
elisa: todos temos ataques de vedetismo. eu tenho dias em que acordo em diva e apetece-me pintar os lábios de vermelho. mas esta senhora... saiu-me cá um portento...
imagine-se que há mesmo gente assim. eeek, arrepio ;)