hoje recebi um postal que me doeu no peito. a crise em Espanha é tão real que já não se bebe café. e os meus tios, donos de um café, não podem, por isso, vir passar cá o natal este ano. pela primeira vez em... sempre... a casa vai estar mais vazia. só nós. nós, sós. só. se calhar não se justifica o bolo-rei. nem talvez a lareira. e a conversa solta perderá as vogais abertas e adocicadas. não vai haver o momento da corrida para o quintal para ajudar a descarregar as malas, e embrenharmo-nos no perfume forte e na gargalhada da minha tia, nas bochechas frescas e olhos enormes da minha prima, na pacatez sossegada e brincalhona do meu tio. não se afogará a distância de quase um ano num prato de presunto com 1000 quilómetros, cortado por mim com a língua de fora. inspiro forte e atiro-me à costura. as prendas não se poupam só pela distância. em breve, no correio, um embrulho grande com um bocadinho de amor alinhavado na nova máquina de costura. um feliz natal para quem está desse lad...