Sábado:
mobília já no auditório. fase de montar projectores, afinar. fase de começar a pensar nas merdinhas que faltam.
sair de casa, dar dois dedos de conversa para cravar uns salgados e doces de borla para a estreia à pastelaria do amigo. tomar o pequeno almoço. ir à drogaria cravar o lavatório de cozinha (que a casa de bonecas tem cozinha). conferir o conteúdo da mala de maquilhagem, acomodar os tarecos no carro, voar para Lisboa.
ir fazer as unhas porque já passou um mês sem manutenção e as mãos estão uma lástima. voar para o Colombo. boxers do outro, cabo de aço, tinta para o cabelo, calças vermelhas a 5 euros (o mac não me deixa meter o símbolo, bolas), cola de tecido para as bainhas, linha, toalha e correr as lojas à procura de umas outras calças que ainda não é desta que se encontram.
na azáfama de sacos e telefonemas, o lavatório que nos emprestaram este ano é mais pequeno que o do ano passado. vamos ter de fazer obras
voar para o Auditório. tirar as medidas e estudar a melhor forma de re-transformar o móvel-cozinha. vestir a Ana e o Chico, maquilhar a Ana, recordar o texto. chega a Alien. vamos gravar.
ir a Telheiras buscar o carro emprestado para a gravação. procurar uma rua com luz e pouco barulho.
- queres um cigarro?
vrrrrrrruuuuum
corta
- dás as tuas consultas em casa?
bonc bonc bonc bonc (três putos a saltar em cima de uma chapa de metal)
corta
- feliz dia dos...
ratatatatatata (camião do lixo)
corta
- queres su vvvvvvvv ir vvvv pou vvvv? (ventoinha de carro estacionado)
corta
- como?
beeep beeep (alarme de carro)
corta
11 da noite. levar a Alien a casa. voar para o Aki. não há tempo para mudar de roupa.
imagem dos vídeos de vigilância: um casal entra vestido de preto. ela de vestido justo de seda com grande parte da perna direita à mostra, saltos altos e óculos da moda. desfilam pelos corredores dos parafusos. ela tenta não escorregar no chão polido. saem com uma placa de madeira.
regressar ao Auditório. desmaquilhar. as luzes estão quase montadas. três piadas com quem lá está há horas de volta de filtros, racs e lâmpadas. vestir umas calças e começar a tirar as medidas. cortar a placa de madeira com um canivete suíço. no chão estava uma pastilha que se colou à placa. tentar com uma serra velha. pregar a placa no móvel. encastrar o lavatório. canção de vitória:
"já sei martelar, já sei bater no prego sem no meu dedo acertar"
pegar no rolo e acabar de pintar os elementos de cenário, fechados num armazém há um ano.
parar. olhar em volta. a desarrumação. os cheiros de tinta, palco e serradura. os olhares de cansaço orgulhoso. são 2 da manhã. não se parou para comer.
Domingo voltamos. para coser lençóis, fazer as bainhas, acertar outros tantos pormenores, acrescentar os novos vídeos ao multimedia e ensaiar. que também dá jeito.
ontem chorei. é complicado querer ajudar quem não quer ser ajudado. quem nos olha com indiferença como se o que dizemos não passasse de um chorrilho de disparates. quem não percebe que devia ouvir porque se há alguém que conhece aquela peça e as personagens são aqueles olhos que o miram com incredulidade. engolir os sapos e permanecer ali a insistir, à espera que se faça luz, porque se vê a colega a desesperar porque a cena está má devido a tanta falta de vontade. de sensibilidade. a essa aversão à direcção. as mesmas discussões que já tinham sido esclarecidas. as mesmas marcações que agora voltam a ser esquecidas deliberadamente. e a angústia de querer ver o espectáculo bom, muito bom. bem interpretado por todos, sem destaque para nenhum. podíamos já estar nos pormenores. as cenas de uns foram pouco ensaiadas para se insistir no outro. a sensação de que nada o demove, a dois dias da estreia. teimoso, insensível, com um grave problema em ser dirigido por mulheres, e estranhos curtos-circuitos.
a sorte é que o autor vivo tem tido tempo de lá passar e parece que aquela coisa "entre machos" resulta um pouco melhor.
a insegurança de não saber o que vai sair daquela cabeça lisa nos dias de espectáculo, em que não se vai poder parar as cenas e dizer que não é assim que está combinado. a sensação que algumas coisas foram passadas para segundo plano e a noção de que muito do trabalho podia estar fantástico se tivesse tido um bocadinho de atenção.
a sensação de falhanço. de exaustão. o abraço a duas, depois a três, depois a quatro, depois a cinco. a bonequinha-directora-de-cena acerta os últimos pormenores, enche os copos, prepara a roupa. esperar-nos-á entre cada cena de cabide e peruca em riste, para ajudar nas mudanças de personagem.
começar ensaio de luzes às 11 da noite.
"- it will all turn out well.
- how?
- I don't know, it's a mistery..."
mobília já no auditório. fase de montar projectores, afinar. fase de começar a pensar nas merdinhas que faltam.
sair de casa, dar dois dedos de conversa para cravar uns salgados e doces de borla para a estreia à pastelaria do amigo. tomar o pequeno almoço. ir à drogaria cravar o lavatório de cozinha (que a casa de bonecas tem cozinha). conferir o conteúdo da mala de maquilhagem, acomodar os tarecos no carro, voar para Lisboa.
ir fazer as unhas porque já passou um mês sem manutenção e as mãos estão uma lástima. voar para o Colombo. boxers do outro, cabo de aço, tinta para o cabelo, calças vermelhas a 5 euros (o mac não me deixa meter o símbolo, bolas), cola de tecido para as bainhas, linha, toalha e correr as lojas à procura de umas outras calças que ainda não é desta que se encontram.
na azáfama de sacos e telefonemas, o lavatório que nos emprestaram este ano é mais pequeno que o do ano passado. vamos ter de fazer obras
voar para o Auditório. tirar as medidas e estudar a melhor forma de re-transformar o móvel-cozinha. vestir a Ana e o Chico, maquilhar a Ana, recordar o texto. chega a Alien. vamos gravar.
ir a Telheiras buscar o carro emprestado para a gravação. procurar uma rua com luz e pouco barulho.
- queres um cigarro?
vrrrrrrruuuuum
corta
- dás as tuas consultas em casa?
bonc bonc bonc bonc (três putos a saltar em cima de uma chapa de metal)
corta
- feliz dia dos...
ratatatatatata (camião do lixo)
corta
- queres su vvvvvvvv ir vvvv pou vvvv? (ventoinha de carro estacionado)
corta
- como?
beeep beeep (alarme de carro)
corta
11 da noite. levar a Alien a casa. voar para o Aki. não há tempo para mudar de roupa.
imagem dos vídeos de vigilância: um casal entra vestido de preto. ela de vestido justo de seda com grande parte da perna direita à mostra, saltos altos e óculos da moda. desfilam pelos corredores dos parafusos. ela tenta não escorregar no chão polido. saem com uma placa de madeira.
regressar ao Auditório. desmaquilhar. as luzes estão quase montadas. três piadas com quem lá está há horas de volta de filtros, racs e lâmpadas. vestir umas calças e começar a tirar as medidas. cortar a placa de madeira com um canivete suíço. no chão estava uma pastilha que se colou à placa. tentar com uma serra velha. pregar a placa no móvel. encastrar o lavatório. canção de vitória:
"já sei martelar, já sei bater no prego sem no meu dedo acertar"
pegar no rolo e acabar de pintar os elementos de cenário, fechados num armazém há um ano.
parar. olhar em volta. a desarrumação. os cheiros de tinta, palco e serradura. os olhares de cansaço orgulhoso. são 2 da manhã. não se parou para comer.
Domingo voltamos. para coser lençóis, fazer as bainhas, acertar outros tantos pormenores, acrescentar os novos vídeos ao multimedia e ensaiar. que também dá jeito.
ontem chorei. é complicado querer ajudar quem não quer ser ajudado. quem nos olha com indiferença como se o que dizemos não passasse de um chorrilho de disparates. quem não percebe que devia ouvir porque se há alguém que conhece aquela peça e as personagens são aqueles olhos que o miram com incredulidade. engolir os sapos e permanecer ali a insistir, à espera que se faça luz, porque se vê a colega a desesperar porque a cena está má devido a tanta falta de vontade. de sensibilidade. a essa aversão à direcção. as mesmas discussões que já tinham sido esclarecidas. as mesmas marcações que agora voltam a ser esquecidas deliberadamente. e a angústia de querer ver o espectáculo bom, muito bom. bem interpretado por todos, sem destaque para nenhum. podíamos já estar nos pormenores. as cenas de uns foram pouco ensaiadas para se insistir no outro. a sensação de que nada o demove, a dois dias da estreia. teimoso, insensível, com um grave problema em ser dirigido por mulheres, e estranhos curtos-circuitos.
a sorte é que o autor vivo tem tido tempo de lá passar e parece que aquela coisa "entre machos" resulta um pouco melhor.
a insegurança de não saber o que vai sair daquela cabeça lisa nos dias de espectáculo, em que não se vai poder parar as cenas e dizer que não é assim que está combinado. a sensação que algumas coisas foram passadas para segundo plano e a noção de que muito do trabalho podia estar fantástico se tivesse tido um bocadinho de atenção.
a sensação de falhanço. de exaustão. o abraço a duas, depois a três, depois a quatro, depois a cinco. a bonequinha-directora-de-cena acerta os últimos pormenores, enche os copos, prepara a roupa. esperar-nos-á entre cada cena de cabide e peruca em riste, para ajudar nas mudanças de personagem.
começar ensaio de luzes às 11 da noite.
"- it will all turn out well.
- how?
- I don't know, it's a mistery..."
Comentários
Beijos da bonequinha-directora-de-cena (q nome pomposo )
...penso muito nessa frase. Acontece-me tanta vez...
Por vezes perguntam-me...não tens medo que algo falhe...
A resposta é sempre igual...e surge no meio do caos...sei que vai correr bem...
Lá estarei para ver.
Bj.
Vai correr tudo bem, FORÇA!
Quando à filmagem, esqueceste-te da altura em que fomos interrompidos porque estavam a fazer testes nucleares no bairro ao lado... E note-se: o barulho só começava quando se carregavano REC! Quando a câmara estava desligada, era o silêncio, a paz e a calma... lol
BEIJOS PARA TODOS