revisitar raízes, elos meus. perdidos com a terra. os cheiros fortes do verde novo, das cerejeiras em flor, da caruma dos pinheiros, do alecrim. nos rostos, onde a vida riscou os dias e assinou de cruz, reconhecem-se os socalcos da terra. todo um cemitério com o meu apelido, linhas e traços entrelaçados como teia fina. as mãos de calos e braços abertos. os fornos a lenha. escondidas nas arquitecturas desvanecidas ainda as pedras empilhadas em paredes escuras e postigos coloridos, chão irregular e a água a ferver para depenar a galinha. o crepitar do lume. o queimar do sol reflectido na pureza do céu. a noite tão estrelada que nunca enegrece por completo, recortando as montanhas.
o vinho. forte, penetrante, novo. cada casa tem o seu. da sua terra. em cada casa copos de vinho e presunto de salmoura e broa e salpicão. "comeide, bebeide" - quase obrigam os olhos brilhantes. e lastimam a ausência dos filhos e das forças para voltar à vinha, e o domínio dos grandes que os fazem pensar em baixar os braços a cada outono.
vejo o meu pai pequeno descalço de calções rasgados pelas brincadeiras nas fragas, a roubar fruta e a guardar cabras.
vejo claramente nos socalcos perfeitos que desenham as encostas dos montes gigantes, na profusão de flores e no brilho das pedras lavadas. nos ribeiros, riachos e curvas apertadas.
vejo-me ali e reconheço, então, o meu outro lado. sempre esteve escondido atrás dos montes. a explicação, enfim, da minha paixão pelos campos, pelas flores silvestres, pelos perfumes selvagens, da minha teimosia e da minha constante necessidade de ventos cristalinos e de fotossíntese.
Comentários
Obrigado madrinha bloguista;)
tiago: não são saudades. foi conhecer uma realidade minha de que tenho andado afastada e que afinal me mostra porque é que sou aficcionada do campo. e é beeeeem mais longe que a Venda do Pinheiro :P