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goodbye my monochromatic friend



entraste-nos pela vida adentro assim de repente. um dia, de manhã, numa casa ainda meio inventada, meio improvisada, tecida aos poucos num terceiro andar, ouvia-se miar em plenos pulmões. abrimos a porta e nem pensaste duas vezes. entraste de rompante e encolheste-te a um canto.
ainda guardamos os cartazes que não afixámos a perguntar de quem eras.
evidentemente quiseste ser nossa.

pinguim. porque sim. porque eras uma monochromatic friend com um ar apatetado.

e pronto, seguiram-se os pêlos, os espirros, o acordar contigo em cima do ombro com um ar maquiavélico, as tuas marradas assassinas, o teu miado desesperado quando te cheirava a carne crua, o teu ar patusco quando nos olhavas, o teu constante ronronar de britadeira, os teus saltos cómicos quando nos mexíamos, a tua atracção fatal pelas minhas botas de trabalho ao fim do dia, os teus berreiros nas manhãs de fim de semana, a tua mania de quereres subir para o sofá, a tua paixão pela tenda azul três meses depois de ta comprarmos, os ataques ao poste de arranhar [sempre deitada, em diva] seis meses depois de to comprarmos e com o sofá já todo destruído, a tua fixação pelo colchão velho que não deitámos fora porque gostavas de te empinar nele a ver as vistas, a tua obsessão pelas almofadas de sentar os convidados, a tua actividade motora diária de dez minutos atrás de botões fantasma no chão, o papel de parede que arrancaste cinco minutos depois de estar perfeitamente colocado a esconder os azulejos, os sustos porque te escondias e pensávamos que tinhas fugido - o meu pai bem sofreu num dia de obras.
inventámos-te uma história: a velhinha pacífica que te tinha e que morreu, o abandono, a tua temporada na rua à procura de casa, o teu encontro connosco.

estiveste connosco quase dois anos.

hoje, numa operação de rotina adormeceste para nunca mais acordar, e descobrimos que estavas há muito doente. e que foi melhor assim porque em breve começarias a definhar, a sofrer. e tu não merecias.
assim seja. descansas agora, pinguças, no jardim onde dormem todos os meus bicharocos - que me orgulho de dizer que são muitos - na companhia do meu primeiro amigo, o bugui, da pachola nelly, do irrequieto joy, de todas as quatro ou cinco gerações de felídeos que resolveram adoptar o quintal dos meus pais.

ficam connosco as recordações, meia dúzia de objectos de que não nos desfaremos, o orgulho de saber que te demos dois anos extra de vida plena e cheia de mimo.

e o desejo de voltar a ser adoptados por alguém como tu.
purrrrrrr.

Comentários

intruso disse…
(um adeus difícil a uns olhos doces)

beijo
elisa disse…
...
um beijo
Wicahpi disse…
lagrimita... ='(*
saudaditas da pingu...
e já agora o recado: desafio no meu blog.
"beijinhos e abracinhos, para os mais pequenininhos"* ;)
Anónimo disse…
Deixo-te um beijo. Sei o que é. Mas não sei mais palavras. Um beijo.
MPR disse…
oh linda! Não soube de nada... Um beijinho muito grande, eu sei o que custa...
O Estranho disse…
Polegar... É daquelas situações em que nada do que se diga é suficiente. Pode parecer exagero, mas sei bem o que é perder um amiguinho desses, peludos e com orelhas em triângulo... Mas enfim, se precisares de contacto humano do norte, tens o meu mail à disposição...
Beijinho
l/f/m disse…
um abraço enorme do tamanho da distancia fisica que nos separa...

...beijo!
Raio_de_Sol disse…
Porque não há palavras quando os amigos de quatro patas se transformam em estrelinhas brilhantes que nos iluminam à noite, aqui ficam as minhas reticências...
Anónimo disse…
e as minhas...
Fiquei triste, como se uma parte de mim tivesse ido.
À noite quando olhares as estrelas, vais ver que há uns olhos doces a olhar para ti lá do alto.
Blackiss

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