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malas aviadas

é inacreditável como dois anos e tal de trabalho se resumem a um saco de plástico com meia dúzia de bugigangas lá dentro: caneca para o café que nunca bebi (porque a máquina foi deixada ligada e estragou-se - e uma nova era demasiado cara), copo para as canetas, dois isqueiros bem feios e pesados para não mos roubarem, o respectivo gás, canetas compradas para escrever o mais depressa e perceptivelmente possível, lapiseira e minas, cadernos e agendas escrevinhados de uma ponta à outra, cds com coisas que fui acumulando no computador, uma pasta que usava para produção "no campo", postais que eu colava na parede, uma caixa de madeira que já teve chocolates, os eternos recibos verdes, pensos higiénicos e uma caixinha de lata com aspirinas. debaixo do braço, se aguentar com tudo, segue um rolo com os mupis das peças que produzi.
para amanhã fica apenas o último caderno.

dois anos e tal arrumam-se nos 5 minutos que a colega tirou para ir à casa de banho. não contei com o nó na garganta. uma amargura silenciosa por parecer que ninguém reparou - ou se importou - que dentro de 24 horas já desapareci. pelos vistos, tão de fininho como entrei. sem fazer mossa. sem fazer falta. tão descartável como o saco de plástico em que levo daqui as minhas traquitanas.

Comentários

intruso disse…
:/

[as minhas têm cabido no bolso;
e talvez seja bom que assim seja, não gosto de acumular coisas (bem bastam os assuntos, muitos, que se tentam organizar (ou não) nos momentos em que um ciclo se fecha...]

(pensa-se que ninguem repara,
mas.....)

beijo
Anónimo disse…
Beijinho...
elisa disse…
Impressão tua, certamente.
Se me tocas aí desse lado, não há como acreditar que não toques quem está aí, fisicamente do teu lado.
Beijinhos
angel_of _dust disse…
infleizmente, é bem possível que a tua partida passe ao lado de que co-habitou esse espaço por dois anos. [curioso... tb se passaram dois anos que "aqui" estou no meu ´cubículo a fingir que faço teatro.] espero que esta janela agora fechada signifique uma nova porta aberta.

tb a mim o cansaço (mental, emocional... o físico conseguimos sempre esconder) tem aparecido mais do que devia... sindrome dos dois anos? talvez, talvez...

boa sorte ;) a tua impressão digital decerto não irá passar.
Rantanplan disse…
Vais ver que vão sentir a tua falta quando de repente alguém tiver de fazer aquilo que sempre surgia já feito e bem feito. Quando as coisas são bem feitas ninguém nota. É sempre assim.
Wicahpi disse…
às vezes a percepção engana-nos... e como se não bastasse, as pessoas também. lembra-te de algumas (das muitas) vezes em que o orgulho te obrigou a engolir em seco e olhar para o lado, fingindo que não vês, não sentes...

E se por acaso alguém não repara nas polegadas deixadas, é porque não merece ficar com as marcas da tua existência...

força polegar...*
O Estranho disse…
Eh pá, não... :(
Francamente, gostava de te deixar um daqueles discursos de filme de guerra para te levantar o moral, mas não sei o que te dizer. Noção que tenho é que, apesar de não ser exactamente o que querias, esse emprego deixava-te por perto de onde querias estar, por isso imagino que a tua vontade fugisse para um texto mais amargo...
Lamento, polegar, a sério. Se precisares de "falar", o meu mail fica à espera...
beijinhos
MPR disse…
Cada passo mais perto do palco. Eles notam a diferença, impossivel não notar...
colher de chá disse…
a tua ausência será sempre notada. se é por aqueles que mais importam ou não, terás de ser tu a decidir.

(aqui entre nós que ng nos ouve, se não notam, é porque não são importantes )

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