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Um, Ninguém e Cem Mil ou carta a Virgílio Castelo

caro Virgílio:

venho apenas, deste cantinho obscuro cá muito em baixo, ter o desplante de lhe dar um conselho:
pegue no maravilhoso monólogo de Pirandello, na sua total entrega apaixonada a um personagem que tornou coeso, divertido, triste e fascinante do princípio ao fim, e fuja.

fuja da encenação tristemente pretensiosa [a "arte" forçada, o medo do simples], do ciclorama de projecções mal amanhadas e que são apenas barulho de fundo, da música incongruente que abafa a sua voz e inutiliza qualquer presença de um violoncelo em palco - pancadinhas esporádicas não contam -, do desenho de luz notoriamente improvisado e que o põe a correr desnecessariamente entre pontos tão díspares, que lhe apaga qualquer expressão com sombras e lhe corta a dinâmica com luzes que não acendem a tempo. fuja de roupas e adereços que pouca ou nenhuma falta fazem na história que nos conta. e fuja da incompetência de um teatro impessoal abandonado há demasiado tempo pelas pessoas que faziam dele um teatro.

fuja para uma sala pequena, intimista, traduza o texto para português de Portugal, e faça este monólogo para pequenas plateias que lhe leiam o rosto como merece, durante muitos e longos meses.

mas isto sou eu...

atenciosamente
Polegar

Comentários

Anónimo disse…
Parece-me muito claro que esta opinião parte de uma pessoa em franca decadencia e abandono absoluto por parte do mundo real, ou seja: esquecida pelo tempo e pelo mundo.
Uma fracassada que não deu certo da vida.
Só lamento.
polegar disse…
a única parte em que acertou foi na palavra "opinião". cada um gosta do que gosta.

esquecidos na vida ficarão sempre os anónimos.

decadentes são os que têm dificuldades em utilizar acentuação ou expressões idiomáticas. e especialmente aqueles que não conseguem exercer a sua liberdade de, em não satisfeitos, mudarem de leituras, em vez de parar para tentar ofender quem não conhecem.
espantaespiritos disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
espantaespiritos disse…
leia isto pessoinha anónima. parecerá que se está a ver ao espelho.
http://aeiou.visao.pt/ricardo-araujo-pereira=s23462
polegar disse…
eheheh grande referência, espanta :)
já cá faltavam Gervásios, hem?
wicahpi disse…
Triste. Muito triste, como ainda hoje somos levados a experimentar o ferrão da culpa, por sermos como somos, por expressarmos o que sentimos e pensamos.
Triste. Que ainda existam pessoas que pensem ter o direito de invadir o espaço do outro. Só porque sim.
Que isso da razão não existe: existe a razão de cada um. Importa que sejamos livres de a sentir e expressar, no nosso próprio blog, sem sermos aferroados.
Por isso, caro leitor, vá lá para o seu espaço privado, e aferroe o seu próprio traseiro, se isso de alguma forma lhe der satisfação. Deixe os comuns mortais continuarem a exercer o seu direito de livre expressão e democracia em espaço próprio.
fura vidas disse…
A pessoinha anónima não merece qualquer comentário, portanto "os cães ladram e a caravana Passa".

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