detesto ir ao cabeleireiro. prefiro ir à ginecologista ou ao dentista, a sério.
a saga é inexplicável. já experimentei os cabeleireiros de bairro, os da moda, os gays, as senhoras com madeixas suspeitas e mola na cabeça... o problema deve ser meu, só pode.
começam por me olhar de alto a baixo... o meu cabelo escuro, liso, escorrido e oleoso não representa (como deveria!) um desafio. perguntam-se antes porque raio é que fui ali e não ao barbeiro fazer um pente 0.
tentam impingir mil e um produtos para lavar o cabelo que, por mais que eu diga que não tenho dinheiro para comprar, acham sempre indispensáveis. a parte porreira é lavar a cabeça... sabe tão bem. porque é que nunca têm cotonetes?
"como é que vai ser?" aaaahhh! esqueça, vou andando!
já experimentei dizer para fazerem o que quisessem. já tentei levar uma foto. já estudei o léxico. já fiz por gestos. já usei metáforas (a melhorzinha ainda é "queria assim um corte bem-disposto", ao menos saco um sorriso). sai sempre ao lado. suspeito que sofro de uma terrível incapacidade de comunicação crónica com os cabeleireiros.
ao som das tesouradas, vai-se-me apertando o coração com aquela sensação do irremediável. agora já não há nada a fazer. ai senhores que não era nada disto. se calhar seco fica bem.. mas... mas... eu não pedi... mas... mas... aiiii tem aí fita-cola?
eu queria ter o cabelo compridão, sedoso... mas não há dinheiro para extensões e esperar anos não me parece. já que não posso ser elfa, lembro-me dos cortes drásticos que já fiz, que me dão um ar de hobbit rebelde, com a vantagem de ter pés bonitos. por falar nisso tenho de voltar a pintar as unhas dos pés de azulão. e deixar de roer as das mãos. é que assim os dedos parecem tortos. estes dedos não servem para tocar piano, tão pequenos. sempre quis tocar piano. ou guitarra ou bateria. eu até tinha jeito para os ditados melódicos...
isto é o que passa na cabeça de uma pessoa que está a ouvir as tesouradas e tenta não as ouvir. tento não olhar para o espelho. mas os meus olhos não fazem o que mando. não querem ler a Maria.
depois ficam surpreendidos porque não pinto o cabelo, nem tenho permanentes. da última vez disseram-me que tinha um cabelo "selvagem... assim em estado selvagem, percebe, menina? é todo natural, não tem coloração nem nada... é mais complicado de moldar"
ah.
depois secam. enrola, puxa, cai cabelo, cai, já tenho muito, não é?... eu sei o que vai acontecer a seguir, eu avisei-a... pois... o meu cabelo começa a ficar com electricidade estática e a colar-se à minha cara. aí puxam da artilharia pesada - gotas, cera, espuma, creme... - e dizem "pois, isto em casa você com ele molhado põe-lhe disto e depois dá-le um jeitinho com o secador e escova, é um instante"(leia-se "estante"). ó minha senhora eu não sei, não quero saber. eu expliquei assim que me sentei que tinha de ser uma coisa prática, que desse para lavar, secar e já 'tá... "ó menina, mas é fácil". isto enquanto fazem o balletzinho do espelho à nossa volta e nos passam a escova para tirar os cabelos que não caíram no chão. ainda me apetece ajoelhar, e atacar a senhora que vem aí com a vassoura... "nnnãooo! é meu, todo meu, larguem-me! vou pô-lo numa caixa e vou tirar um curso de química por correspondência, e descobrir uma fórmula para o voltar a colar! vocês vão ver!!!" penso, enquanto com um sorriso amarelo vou dizendo que 'tá óptimo.
saio de lá, enfio-me na casa de banho do primeiro café a molhar o cabelo, para ver se remedeia. a mentalizar-me que "aquilo" que vejo no espelho sou a nova eu. é só mais uns meses e logo ganha uns jeitos engraçados... meses?!?!?!? AAAAHHHH!
só queria cortar as pontinhas...
a saga é inexplicável. já experimentei os cabeleireiros de bairro, os da moda, os gays, as senhoras com madeixas suspeitas e mola na cabeça... o problema deve ser meu, só pode.
começam por me olhar de alto a baixo... o meu cabelo escuro, liso, escorrido e oleoso não representa (como deveria!) um desafio. perguntam-se antes porque raio é que fui ali e não ao barbeiro fazer um pente 0.
tentam impingir mil e um produtos para lavar o cabelo que, por mais que eu diga que não tenho dinheiro para comprar, acham sempre indispensáveis. a parte porreira é lavar a cabeça... sabe tão bem. porque é que nunca têm cotonetes?
"como é que vai ser?" aaaahhh! esqueça, vou andando!
já experimentei dizer para fazerem o que quisessem. já tentei levar uma foto. já estudei o léxico. já fiz por gestos. já usei metáforas (a melhorzinha ainda é "queria assim um corte bem-disposto", ao menos saco um sorriso). sai sempre ao lado. suspeito que sofro de uma terrível incapacidade de comunicação crónica com os cabeleireiros.
ao som das tesouradas, vai-se-me apertando o coração com aquela sensação do irremediável. agora já não há nada a fazer. ai senhores que não era nada disto. se calhar seco fica bem.. mas... mas... eu não pedi... mas... mas... aiiii tem aí fita-cola?
eu queria ter o cabelo compridão, sedoso... mas não há dinheiro para extensões e esperar anos não me parece. já que não posso ser elfa, lembro-me dos cortes drásticos que já fiz, que me dão um ar de hobbit rebelde, com a vantagem de ter pés bonitos. por falar nisso tenho de voltar a pintar as unhas dos pés de azulão. e deixar de roer as das mãos. é que assim os dedos parecem tortos. estes dedos não servem para tocar piano, tão pequenos. sempre quis tocar piano. ou guitarra ou bateria. eu até tinha jeito para os ditados melódicos...
isto é o que passa na cabeça de uma pessoa que está a ouvir as tesouradas e tenta não as ouvir. tento não olhar para o espelho. mas os meus olhos não fazem o que mando. não querem ler a Maria.
depois ficam surpreendidos porque não pinto o cabelo, nem tenho permanentes. da última vez disseram-me que tinha um cabelo "selvagem... assim em estado selvagem, percebe, menina? é todo natural, não tem coloração nem nada... é mais complicado de moldar"
ah.
depois secam. enrola, puxa, cai cabelo, cai, já tenho muito, não é?... eu sei o que vai acontecer a seguir, eu avisei-a... pois... o meu cabelo começa a ficar com electricidade estática e a colar-se à minha cara. aí puxam da artilharia pesada - gotas, cera, espuma, creme... - e dizem "pois, isto em casa você com ele molhado põe-lhe disto e depois dá-le um jeitinho com o secador e escova, é um instante"(leia-se "estante"). ó minha senhora eu não sei, não quero saber. eu expliquei assim que me sentei que tinha de ser uma coisa prática, que desse para lavar, secar e já 'tá... "ó menina, mas é fácil". isto enquanto fazem o balletzinho do espelho à nossa volta e nos passam a escova para tirar os cabelos que não caíram no chão. ainda me apetece ajoelhar, e atacar a senhora que vem aí com a vassoura... "nnnãooo! é meu, todo meu, larguem-me! vou pô-lo numa caixa e vou tirar um curso de química por correspondência, e descobrir uma fórmula para o voltar a colar! vocês vão ver!!!" penso, enquanto com um sorriso amarelo vou dizendo que 'tá óptimo.
saio de lá, enfio-me na casa de banho do primeiro café a molhar o cabelo, para ver se remedeia. a mentalizar-me que "aquilo" que vejo no espelho sou a nova eu. é só mais uns meses e logo ganha uns jeitos engraçados... meses?!?!?!? AAAAHHHH!
só queria cortar as pontinhas...
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