vai-se chegando. muitos depois de dias inteiros de trabalho. cansados, olheirentos. pede-se ajuda aos colegas para afinar o texto. ajuda-se a mandar os faxes que faltam, atendem-se telefones, tiram-se bicas para quem cá está há muito tempo. dá-se uma mão na serralharia para acabar aquele pedaço de cenário. passa-se roupa a ferro, cose-se botões, enquanto a estagiária de moda nos faz ficar bonitos, com desenhos, trapos, cores e luz. experimenta-se os fatos, com as calças vestidas porque está frio. depois aquece-se o corpo dançando, rindo, comendo qualquer coisa enquanto o encenador, que chegou invariavelmente atrasado, bebe o seu café na entrada. quando ele se decide, vamos lá ensaiar. quem vem ver, vê, só naquele dia, o trabalho final. não sabe o que está por detrás dos fatos compostos, das caras pintadas, dos cabelos arranjados, dos gestos trabalhados, das vozes emocionadas. estão horas, dias, meses. corpos e almas. muito choro, muita frustração, muitos gritos e discussões. muito sono...