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conversa com um anjo



sopras-me ao ouvido de vez em quando. sinto um calafrio. quando as coisas correm mal, sinto as tuas mãos à minha volta, como quem vai buscar umas meias para eu não me constipar. senti-te quando vi o rail a vir na minha direcção. sei que te senti. isto do saber que se sente chega a ser contraditório, se se sabe não se sente, pensa-se. mas não interessa. andas por aí, eu sei que andas. por isso pego em ti e tiro-te da árvore. miro-te fixamente para que me prestes atenção. tens muito que fazer, eu sei, mas espera um bocadinho. não demoro muito.

o que te quero dizer é que vem aí aquela altura de que tu gostas tanto. estão aqueles dias brilhantes e geladinhos, em que é bom pendurar a roupa ao sol, com os gatos a passearem-se nos tornozelos. é tempo de noites em que engomar sabe tão bem pelo aroma da roupa quente onde perdes os pensamentos. é aquela altura em que o crepitar da lareira te traz as recordações dos teus tempos de aldeia e do tanque onde as moças de lenços na cabeça e olhos salpicados de brilhos e futuros cantavam e o sabão era azul e branco, as tuas cores preferidas. é tempo de chinelos e torradas perfumadas e chá muito doce. de ter tempo para preguiçar no teu colo no sofá. de comer as fatias douradas do meu pai. de rires com a mão enrolada à frente do rosto e de fechares os olhos na preguiça do fim da noite com os braços cruzados no colo. de observares nesse teu carinho em que as palavras não fazem falta os sorrisos de papel de embrulho. de ires ter comigo à janela ver se o Pai Natal vem aí e de procurares com tanto fervor como eu a sua presença nalguma estrela. enquanto murmuras alguma cantiga antiga que só eu reconheço, porque só perdes a vergonha quando estás sozinha comigo.

és assim, sabes? uma presença transparente. uma melancolia suave de olhos marejados e meio sorriso dorido. és a doçura de um aperto no peito soprado com a ligeireza de um pássaro pequenino. és a [e]terna sensação de pó de talco e creme nívea entre as ruguinhas da tua pele branca e quente, das mãos ásperas tão meiguinhas. és o coração mordido ao meu pescoço e o anjo de madeira na minha árvore de natal.

Comentários

Anónimo disse…
Lindo Polegar...talvez seja o Natal, talvez seja o amor...mas os teus posts estão lindos...cada vez mais lindos e mais intimistas. Eu muitas vezes afasto o meu anjo da guarda. A ideia de que alguém me quer ver feliz assusta-me, mesmo quando me deixa a sorrir. Hoje acredito...começo a acreditar. Os pequenos gestos, as pequenas memórias, os pequenos estares. São como anjos que poisam...e que nos guiam na vida...e nos fazem desejar.
Anónimo disse…
Querida Polegar
Uma lágrima triste num olho,que cai gelada... e uma sorriso no outro, que te aquece a alma... transparente...
Boas festas!!!
Um beijo
Daniel
Anónimo disse…
às vezes tb sinto o meu anjinho por perto. como se me estivesse sempre q guardar lá do alto... com mãos de velhinha e sorriso de criança. ela era assim.

Feliz Natal.
Anónimo disse…
Your happy! I'm happy for you. Seize the moment. Beijinhos grandes
Anónimo disse…
um sorriso e o desejo de um natal aconchegado para todos...

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