o novo carregador arrasta os pés.
eram duzentos miúdos mais as respectivas professoras.
os actores acordaram de rabo para a lua e eu é que acordo todos os dias às 7 da manhã.
os actores recebem para ser actores e queixam-se da vida.
os actores não percebem o conceito de "monumento nacional" e largam beatas no chão da sala.
o "show case" de A Naifa transformou-se num "estou a fazer isto por ti".
enganei-me a fazer as contas com as cadeiras.
as professoras não percebem a noção de "cheque ao portador".
eu não gosto de contar 300 euros em notas de 5.
uma escola chegou atrasadíssima e ainda queria visita guiada.
o engatatão da bilheteira viu-me passar carregada e disse "ó menina, cuidado com as costas".
só na hora de encaixar as criancinhas me apercebi do erro de contas e tive de ajudar os carregadores a transportar mais 50 cadeiras pelos claustros.
o novo carregador não percebe a noção de "a ver se saímos cedinho" e demorou tanto tempo a arrumar o cenário como a olhar para o vazio com ferros na mão, pelo que demorei o dobro do tempo a fechar tudo e sair dali, pelo que almoço de jeito que é bom, nada.
dei umas 15 voltas ao Príncipe Real à procura de lugar para estacionar e só quando entrei por uma viela em desespero de causa se dignou a aparecer-me um nicho onde enfiar o carro. a custo e a "crostas" (vulgo arrumador), que ainda não me habituei ao ponto de embraiagem.
os "crostas" não percebem a noção de "o tabaco aumentou"
esqueci-me da pasta no carro, e não tenho forças para lá ir buscá-la.
na recepção tinham à minha espera um molho de fotocópias de tal tamanho que tive de pedir ajuda para abrir a porta do escritório.
o recado em cima da mesa era "liga ao não-sei-quantos e continua com as etiquetas"
a cada golo de iogurte ou a cada trinca numa bolacha torrada tocava o telefone com mais professoras empenhadas em proporcionar-me mais manhãs como a acima mencionada.
as professoras não percebem o conceito de "nesse dia está esgotado".
não me lembro ao que souberam as bolachas. nem o iogurte. mas dou um salto na cadeira a cada toque do telefone.
já não me lembro do que é beber uma cerveja ao entardecer ao pé do rio.
já não me lembro do que é estar. simplesmente estar.
não faço teatro há quase cinco meses e as hipóteses de lá voltar estão a diminuir na indirecta proporção do tempo que gasto nesta cadeira.
eu garanto - mas fica aqui escrito, hem? - que se me aparecerem mais uns dias destes pela frente num futuro próximo, largo o carro ao pé do rio, atiro a pasta à água, sento-me com um livro e despeço-me.
eram duzentos miúdos mais as respectivas professoras.
os actores acordaram de rabo para a lua e eu é que acordo todos os dias às 7 da manhã.
os actores recebem para ser actores e queixam-se da vida.
os actores não percebem o conceito de "monumento nacional" e largam beatas no chão da sala.
o "show case" de A Naifa transformou-se num "estou a fazer isto por ti".
enganei-me a fazer as contas com as cadeiras.
as professoras não percebem a noção de "cheque ao portador".
eu não gosto de contar 300 euros em notas de 5.
uma escola chegou atrasadíssima e ainda queria visita guiada.
o engatatão da bilheteira viu-me passar carregada e disse "ó menina, cuidado com as costas".
só na hora de encaixar as criancinhas me apercebi do erro de contas e tive de ajudar os carregadores a transportar mais 50 cadeiras pelos claustros.
o novo carregador não percebe a noção de "a ver se saímos cedinho" e demorou tanto tempo a arrumar o cenário como a olhar para o vazio com ferros na mão, pelo que demorei o dobro do tempo a fechar tudo e sair dali, pelo que almoço de jeito que é bom, nada.
dei umas 15 voltas ao Príncipe Real à procura de lugar para estacionar e só quando entrei por uma viela em desespero de causa se dignou a aparecer-me um nicho onde enfiar o carro. a custo e a "crostas" (vulgo arrumador), que ainda não me habituei ao ponto de embraiagem.
os "crostas" não percebem a noção de "o tabaco aumentou"
esqueci-me da pasta no carro, e não tenho forças para lá ir buscá-la.
na recepção tinham à minha espera um molho de fotocópias de tal tamanho que tive de pedir ajuda para abrir a porta do escritório.
o recado em cima da mesa era "liga ao não-sei-quantos e continua com as etiquetas"
a cada golo de iogurte ou a cada trinca numa bolacha torrada tocava o telefone com mais professoras empenhadas em proporcionar-me mais manhãs como a acima mencionada.
as professoras não percebem o conceito de "nesse dia está esgotado".
não me lembro ao que souberam as bolachas. nem o iogurte. mas dou um salto na cadeira a cada toque do telefone.
já não me lembro do que é beber uma cerveja ao entardecer ao pé do rio.
já não me lembro do que é estar. simplesmente estar.
não faço teatro há quase cinco meses e as hipóteses de lá voltar estão a diminuir na indirecta proporção do tempo que gasto nesta cadeira.
eu garanto - mas fica aqui escrito, hem? - que se me aparecerem mais uns dias destes pela frente num futuro próximo, largo o carro ao pé do rio, atiro a pasta à água, sento-me com um livro e despeço-me.
Comentários
marinheiroaguadoce a navegar
Os meus dias, embora diferentes são tão parecidos com o teu!
No final, o importante mesmo é sabermos que fomos o melhor de nós mesmos.
Allez, courage!
Simão: sabes, o tal engatatão da bilheteira perguntou-me: "você gosta mesmo do que faz, não gosta?" eu perguntei-lhe porquê. "porque você anda sempre preocupada, sempre a querer que as coisas saiam bem, anda sempre a correr, sempre enervada. só pode gostar do que faz". o que me irrita neste país é que se as pessoas acham que têm uma função "menor" (como ser actor num espectáculo para crianças ou vender bilhetes num momumento) não dão o litro. e eu dou por mim a desperdiçar a minha saúde numa coisa que não gosto...
E eu que estive tão bem, lá pelas inglaterras. E pensas: vai dar para recarregar as baterias. Dois dias depois já te sentes na merda outra vez, com vontade de largar tudo e desaparecer. Desaparecer por desaparecer escolhia começar do zero noutro sítio qualquer. De preferência longe, bem longe daqui. Podia ser trapezista, andar a recitar poemas nas ruas...qualquer coisa. Já sei, montava uma barraquinha em Camden, vendia algemas rosa-choque e corpetes góticos para miúdas anorécticas. Ou então ia ser bar-made no Roxy. Sempre ia ouvindo Rock-pop-punk-pós...qualquer coisa. Ou então ia vender BD na Mega-City Comics, onde ao lado de um Super-homem imaculado está um livro das Suicide girls. Qualquer coisa. Qualquer coisa.
Ajudei? Pois...talvez não.
o teatro há-de aparecer qd menos esperares, como tudo o que é bom ;) tem fé! jokas
A Gente Vai Continuar - Jorge Palma
Tira a mão do queixo, não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou, ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas para dar
E enquanto alguns fazem figura
Outros sucumbem à batota
Chega aonde tu quiseres
Mas goza bem a tua rota
Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar
Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém, não
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo
Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar
mas para fugir, como te compreendo... londres parece-me bem... ia tirar um curso de representação a sério e ia trabalhar para um teatrinho refundido... ou paris, paris sempre... pintar quadros na place du tertre ou vender fotos à beira do rio...
miak: a tal não tem força nem grande esperança no momento... amanhã é outro dia.
pinky: obrigada pela força, querida
macaso: mais cansada, por isso hoje estrebucho menos eheheheheh
espanta: tu percebes-me... gosto de ti, miúdo :)
hj foi a ultima manha no grande mosteiro ao teu lado. ficam as saudades, a boa experiencia e um profundo prazer em ter trabalhado ao teu lado. Que privilégio, acreditas? ;)
beijos muitos, de força para ti.
se um dia quiseres largar tudo, despedires-te e ires de livro em punho para o pé do rio... chama-me. Estarei por perto à tua espera. (já agr - que eu digo o q quero - à Vossa espera. )