ontem corri para apanhar o 39. no entanto, ao entrar e passar o passe na maquineta, ouço as vozes de algumas mulheres completamente alteradas, a gritar com o motorista, que era uma vergonha, tinham estado mais de uma hora à espera da "carreira".
compreende-se as senhoras, até um certo ponto. estiveram a acumular irritação durante uma hora, a torrar ao sol dos Restauradores.
o motorista, nem particularmente simpático nem particularmente antipático, explica que não sabia, que a Carris não tinha registado nenhuma queixa.
aí, as "senhoras" passaram-se. à medida que iam avançando pelo corredor (vieram sentar-se perto de mim, para os lados da porta traseira) iam falando cada vez mais alto, dizendo que o que ele "merecia era uma pancada nos cornos" (normal, pelo aspecto que tinham acredito piamente que pudessem convocar um bairro inteiro para o arraial), que lhe deviam era tirar o ordenado, que merecia que lhe entrasse um grupo de ciganos e lhe partisse o autocarro todo "e a tromba também, o cabrão", e outras carícias que tais.
e continuaram, estrada fora, a falar em voz alta, a chamar nomes ao homem, que a cada paragem ouvia as queixas de outros passageiros, e no mesmo tom neutro respondia sempre a tal ladainha. as ameaças tornaram-se mais quentes, outros passageiros iam-se juntando ao coro feminino, protegidas pela distância que as separava do motorista, preso à sua função de serviço público, que fazia por ignorar. e assim devem ter continuado, porque saí antes das tais senhoras.
as pessoas às vezes são muito estúpidas. à má formação junta-se a ignorância. não sabem e não querem saber, porque é mais confortável, assim têm legitimidade. só vêem o que lhes apetece. e despejam numa pessoa que não tem culpa, que desempenha a sua função e foi apanhada no meio, toda a culpa do mundo, insultando, humilhando, agredindo, aproveitando que ele não pode responder por decoro e decência, para espicaçar mais, porque há que despejar as frustrações, não é?
e, por muita razão que tenham, perdem-na.
compreende-se as senhoras, até um certo ponto. estiveram a acumular irritação durante uma hora, a torrar ao sol dos Restauradores.
o motorista, nem particularmente simpático nem particularmente antipático, explica que não sabia, que a Carris não tinha registado nenhuma queixa.
aí, as "senhoras" passaram-se. à medida que iam avançando pelo corredor (vieram sentar-se perto de mim, para os lados da porta traseira) iam falando cada vez mais alto, dizendo que o que ele "merecia era uma pancada nos cornos" (normal, pelo aspecto que tinham acredito piamente que pudessem convocar um bairro inteiro para o arraial), que lhe deviam era tirar o ordenado, que merecia que lhe entrasse um grupo de ciganos e lhe partisse o autocarro todo "e a tromba também, o cabrão", e outras carícias que tais.
e continuaram, estrada fora, a falar em voz alta, a chamar nomes ao homem, que a cada paragem ouvia as queixas de outros passageiros, e no mesmo tom neutro respondia sempre a tal ladainha. as ameaças tornaram-se mais quentes, outros passageiros iam-se juntando ao coro feminino, protegidas pela distância que as separava do motorista, preso à sua função de serviço público, que fazia por ignorar. e assim devem ter continuado, porque saí antes das tais senhoras.
as pessoas às vezes são muito estúpidas. à má formação junta-se a ignorância. não sabem e não querem saber, porque é mais confortável, assim têm legitimidade. só vêem o que lhes apetece. e despejam numa pessoa que não tem culpa, que desempenha a sua função e foi apanhada no meio, toda a culpa do mundo, insultando, humilhando, agredindo, aproveitando que ele não pode responder por decoro e decência, para espicaçar mais, porque há que despejar as frustrações, não é?
e, por muita razão que tenham, perdem-na.
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