Ainda há pequenos recantos nesta cidade que me surpreendem pela sua simplicidade. Pelo facto de me levarem ao tempo da minha infância. Ao tempo da minha avó.
Há um cafézinho na rua dos Jerónimos de portas amarelas.
3 senhoras e um senhor.
Todos já entradotes.
Houve uma altura em que lá ia todos os dias.
O rádio velhinho num canto da sala está sempre na Nostalgia.
Os guardanapos de papel enrolados em copos de galão. Lembram-se?
Tudo é amarelo e branco. Como a cozinha da minha avó.
E aquelas senhoras, apesar da idade, cheias de vida, com que enchem aquele cafézinho.
Temos a D. Teresa, mais tímida e nervosa, mas sempre afável.
A D. Lena é a das batatas fritas. Eu nem gostava de batatas fritas, mas ali são às rodelas fininhas, estaladiças, cortadas sempre por ela. De manhã, lá está ela a cortar as batatinhas.
A D. Fernanda (outra coincidência, avó) é nitidamente quem comanda as hostes. Controla a caixa registadora. É uma mulher enorme, de cabelo preso sempre com aquela mola, a boca pintada como já não se usa... Mas nela só podia ser assim.
Anda por ali com uma espantosa ligeireza.
Ao fim do dia, quando já estamos só os do costume, senta-se numa das mesas, a comer uma peça de fruta, a falar de Iogurtes e do que vai fazer para o jantar, a meter-se com o marido (sempre sério, no seu avental amarelo, muito mais lento e atrapalhado que elas, aguenta-se à bronca com meios sorrisos e piadas entredentes), a limpar o suor do rosto cansado.
De vez em quando estica o pescoço e cumprimenta algum vizinho, cliente, amigo, conhecido. "Então, está bonzinho? Cá vamos andando. Então até loguinho".
É tudo assim. Aquele desvelo com diminutivos.
"- Olha o pratinho da menina, que já está à espera. Não quer saladinha?"
"- O cafézinho, é para agora ou espera pelo colega?"
"- Então e hoje, vai um bolinho?"
Quase que ralham se me levanto para ir buscar o cinzeiro. "Não era preciso, menina, eu já levava o cinzeirinho".
E eu divirto-me, ao fazer uma festinha numa delas, e a despedir-me com um "Até amanhã, beijinhos!"
E ouço o ternurento "Até amanhã se deus quiser, filha! Beijinhos".
Temos de lá voltar...
Há um cafézinho na rua dos Jerónimos de portas amarelas.
3 senhoras e um senhor.
Todos já entradotes.
Houve uma altura em que lá ia todos os dias.
O rádio velhinho num canto da sala está sempre na Nostalgia.
Os guardanapos de papel enrolados em copos de galão. Lembram-se?
Tudo é amarelo e branco. Como a cozinha da minha avó.
E aquelas senhoras, apesar da idade, cheias de vida, com que enchem aquele cafézinho.
Temos a D. Teresa, mais tímida e nervosa, mas sempre afável.
A D. Lena é a das batatas fritas. Eu nem gostava de batatas fritas, mas ali são às rodelas fininhas, estaladiças, cortadas sempre por ela. De manhã, lá está ela a cortar as batatinhas.
A D. Fernanda (outra coincidência, avó) é nitidamente quem comanda as hostes. Controla a caixa registadora. É uma mulher enorme, de cabelo preso sempre com aquela mola, a boca pintada como já não se usa... Mas nela só podia ser assim.
Anda por ali com uma espantosa ligeireza.
Ao fim do dia, quando já estamos só os do costume, senta-se numa das mesas, a comer uma peça de fruta, a falar de Iogurtes e do que vai fazer para o jantar, a meter-se com o marido (sempre sério, no seu avental amarelo, muito mais lento e atrapalhado que elas, aguenta-se à bronca com meios sorrisos e piadas entredentes), a limpar o suor do rosto cansado.
De vez em quando estica o pescoço e cumprimenta algum vizinho, cliente, amigo, conhecido. "Então, está bonzinho? Cá vamos andando. Então até loguinho".
É tudo assim. Aquele desvelo com diminutivos.
"- Olha o pratinho da menina, que já está à espera. Não quer saladinha?"
"- O cafézinho, é para agora ou espera pelo colega?"
"- Então e hoje, vai um bolinho?"
Quase que ralham se me levanto para ir buscar o cinzeiro. "Não era preciso, menina, eu já levava o cinzeirinho".
E eu divirto-me, ao fazer uma festinha numa delas, e a despedir-me com um "Até amanhã, beijinhos!"
E ouço o ternurento "Até amanhã se deus quiser, filha! Beijinhos".
Temos de lá voltar...
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