Começou agora.
Andaram a ameaçar com ela todo o dia, cheguei a pensar que era mais uma partida deste nosso governo tão travesso (agito o dedo espetado no ar, arqueio a sobrancelha, e faço tssc tssc)...
A assustar a minha mãezinha... Coitada, bem que ela me pediu hoje para eu ir com cuidado para o emprego... Tentando confortá-la, disse-lhe "Tem calma, eu digo ao senhor condutor do metro que mandaste dizer para ele ter cuidado..."
A chuva começou a sapatear na janela do sótão, depois já não era sapatear, era mesmo aos pontapés... e o vento foi subindo de tom e tornou-se um uivo. Parece que o telhado vai desta para outra daqui a nada...
Sempre tive medo de tempestades... E ao mesmo tempo fascinam-me.
Desde miúda.
Mas ser miúda era um luxo, não era?
Qual Playstation, qual Pokemon, qual Quinta dos Fanhosos!
Eu queria era ir para a rua esfolar os joelhos na minha praceta! Roubar "giz" nas obras e desenhar a macaca, onde saltava toda a tarde. Beber chá quentinho e doce, que trazia num termo amarelo dos Marretas, e que distribuía pela turma toda. Espatifar as canelas dos meus inúmeros namorados (sim, nessa altura era concorridíssima). Andar à boleia na bicicleta de uma amiga. E parecia que corria o mundo todo, às voltas àquela pequena ilha de carros estacionados.
E a minha mãe não sabia que eu ia dançar Onda Choc para casa das minhas amigas que viviam no outro lado do bairro (longíssimo, 10 minutos a pé)... "Ela foi ao pão", dizia-lhe a minha avó. eheheh... Eu e a minha avó éramos imparáveis. Era ela a minha cúmplice. Deixava-me ficar na rua até às tantas da noite no verão, a brincar e a fazer campeonatos de balões de "Super Gorila".
Ia comigo ao café e deixava-me atravessar a rua sozinha. Íamos à Baixa, à Praça da Figueira dar milho aos pombos! (Sim, eu contribuí para alimentar as ratazanas do céu, sim!)
Íamos para o monte apanhar papoilas, para compôr os raminhos da espiga que oferecia aos meus pais.
E era com ela que ficava de noite a ouvir o sapateado da chuva nas janelas, e o vento a uivar nas árvores da praceta. Ela lembrava-se sempre de Santa Bárbara... Ah pois! e trazia-me umas meias para eu calçar "porque tens os pés tão frios"...
E cantava fado, enquanto lavava a loiça, porque sabia que estávamos só as duas em casa.
E eu agora às vezes canto fado a lavar a loiça...
E ainda me lembro dela a revirar os olhos com a tempestade, a chamar nomes ao gajo que mandava os relâmpagos...
Andaram a ameaçar com ela todo o dia, cheguei a pensar que era mais uma partida deste nosso governo tão travesso (agito o dedo espetado no ar, arqueio a sobrancelha, e faço tssc tssc)...
A assustar a minha mãezinha... Coitada, bem que ela me pediu hoje para eu ir com cuidado para o emprego... Tentando confortá-la, disse-lhe "Tem calma, eu digo ao senhor condutor do metro que mandaste dizer para ele ter cuidado..."
A chuva começou a sapatear na janela do sótão, depois já não era sapatear, era mesmo aos pontapés... e o vento foi subindo de tom e tornou-se um uivo. Parece que o telhado vai desta para outra daqui a nada...
Sempre tive medo de tempestades... E ao mesmo tempo fascinam-me.
Desde miúda.
Mas ser miúda era um luxo, não era?
Qual Playstation, qual Pokemon, qual Quinta dos Fanhosos!
Eu queria era ir para a rua esfolar os joelhos na minha praceta! Roubar "giz" nas obras e desenhar a macaca, onde saltava toda a tarde. Beber chá quentinho e doce, que trazia num termo amarelo dos Marretas, e que distribuía pela turma toda. Espatifar as canelas dos meus inúmeros namorados (sim, nessa altura era concorridíssima). Andar à boleia na bicicleta de uma amiga. E parecia que corria o mundo todo, às voltas àquela pequena ilha de carros estacionados.
E a minha mãe não sabia que eu ia dançar Onda Choc para casa das minhas amigas que viviam no outro lado do bairro (longíssimo, 10 minutos a pé)... "Ela foi ao pão", dizia-lhe a minha avó. eheheh... Eu e a minha avó éramos imparáveis. Era ela a minha cúmplice. Deixava-me ficar na rua até às tantas da noite no verão, a brincar e a fazer campeonatos de balões de "Super Gorila".
Ia comigo ao café e deixava-me atravessar a rua sozinha. Íamos à Baixa, à Praça da Figueira dar milho aos pombos! (Sim, eu contribuí para alimentar as ratazanas do céu, sim!)
Íamos para o monte apanhar papoilas, para compôr os raminhos da espiga que oferecia aos meus pais.
E era com ela que ficava de noite a ouvir o sapateado da chuva nas janelas, e o vento a uivar nas árvores da praceta. Ela lembrava-se sempre de Santa Bárbara... Ah pois! e trazia-me umas meias para eu calçar "porque tens os pés tão frios"...
E cantava fado, enquanto lavava a loiça, porque sabia que estávamos só as duas em casa.
E eu agora às vezes canto fado a lavar a loiça...
E ainda me lembro dela a revirar os olhos com a tempestade, a chamar nomes ao gajo que mandava os relâmpagos...
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