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Jobs

Tenho um emprego giro... Não é o meu trabalho do coração, mas ponho o coração neste trabalho também.
Gosto de poder andar por Lisboa, entre ruas estreitas, antigas, às vezes ensolaradas, às vezes molhadas e escuras, mesmo ao pé do Rossio.
Gosto da Calçada onde está o meu escritório, gosto que o escritório esteja num último andar, de cuja janela se vêem os telhados de Lisboa antiga e se adivinha o Tejo.
Não gosto tanto de ter de subir tudo a pé, íngreme e comprida como é, fumadora e preguiçosa como sou.
Gosto deste mini-bairro, onde às vezes há porrada, nunca se consegue arranjar lugar para estacionar porque um velhote gosta de estar num canto da estrada a ver os carros passar e não os deixa parar ali... E um bêbado canta o fado ou assobia alguma melodia melancólica.
No restaurante-tasca onde vou, que já não suportamos pela repetição dos pratos do dia, há um senhor simpático que me tira as espinhas do peixe.
E pode-se acertar o relógio por um grupo de miúdos pequenos que sobe a calçada ás 2 da tarde com um grito de guerra para esse senhor:
"Ó senhor fixe, ó senhor fixe,
venha cá, venha cá,
dê doces à gente, dê doces à gente,
pronto, já está. Pronto, já está"
Gosto do meu grupo de trabalho. Somos 3 mulheres, terríveis. O trabalho atrasa, mas faz-se. Entre risotas e parvoíces que ajudam a descontrair. Falamos de sexo enquanto arranjamos milagres para colocação para estagiários.
Gosto de não estar muito tempo sentada à frente do computador e sair por aí, com grupos de pessoas tão diferentes. E poder sorrir-lhes e mostrar um bocadinho desta cidade, e dar-lhes novos conhecimentos.
E gosto que no fim tenham sempre uma caneca ou um postal da terra deles para me oferecer, e há sempre o convite para ir lá um dia, à terra deles...
Já tenho uma casa em meia dúzia de cantos deste mundinho... Falta-me o belo do guito para ir lá ter...
Os turcos querem arranjar-me um marido rico.
As polacas querem que conheça a Cracóvia.
Os alemães querem mostrar-me Berlim, e os espanhóis já me fizeram um guia de Sevilha.
Não gosto de ter de andar de metro uma datas de horas por dia, para a frente e para trás.
Não gosto de calcorrear Lisboa a pé, quando me dói o corpo todo.
Não gosto das filas da Carris quando tenho de comprar 37 passes.
Mas gosto de encontrar sorrisos em lugares inesperados. "A menina é que é uma simpatia por nos estar a aturar."
Eu respondi:
Se nos aturássemos todos uns aos outros assim, era tudo mais fácil...


Comentários

laura disse…
bem-vinda à blogoesfera :)

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q.b. de q.i.

como é sabido, neste centro de escritórios funciona também uma das maiores agências de castings do país. há enchentes, vagas de gente daquela que nos consegue fazer sentir mais baixos e mais gordos do que o nosso próprio e sádico espelho. outras enchentes há de criancinhas imberbes que nos atropelam no corredor de folha com número na mão. as mães a gritarem hall fora "não te mexas que enrugas a roupinha" ou "deixa-me dar-te um jeitinho no cabelo ptui ptui já está"... e saem e entram e sentam-se e entreolham-se naquele ar altivo as meninas muito compridas e muito fininhas, do alto ainda mais alto dos seus tacões e com a mini-saia pendurada no osso da anca, que o meu patrão já diz "deixem passar dois anos que elas começam a vir nuas aos castings... pouco falta... têm é de vir de saltos altos... isso é que já não descolam dos pés!" bom, nesses dias aceder à casa de banho é um inferno. é que elas enfiam-se lá dentro nos seus exercícios de concentração preferid...

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