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Mensagens

A mostrar mensagens de maio, 2005

shakespeare

se os seus olhos estivessem no céu lançariam pelas regiões etéreas raios de tal forma que os pássaros, esquecendo que era noite, cantariam R+J perdoem-me, mas ando a levar com isto todos os dias e nunca deixa de me emocionar...

na passadeira

à espera que me deixem atravessar. passa um carro (ailerons, rebaixado, cd a balançar do retrovisor, e os etceteras todos), não me deixa atravessar. mas abranda em cima da passadeira e abre-se o vidro. - ganda naaaaco! - e se deixasses o naco passar ó esfomeado! did I just say that...?
sei que soa uma tempestade algures. caem relâmpagos frios, soam trovões e o vento uiva daquela forma que sempre me arrepiou. a força das águas verga as árvores. a água ensurdece. fico. não procuro abrigo. à espera que caia de uma vez. que desabe no meu corpo pequeno. sou pequena. sou. ínfima. já nem estou.

pequeno

sopra o fumo do cigarro. não está aí ninguém? não. a madeira estala. as sombras. são nuvens alaranjadas. não, são bichos. quem? estão a dormir. deixa-os sossegados. vai para a cama. e se me apanham no caminho? tens medo? tenho. está a uivar, é um lobo. não, é o vento. agora tocou-me. sentiste? cala-te. dói muito? sim. mas cala-te. vai dormir.

moinho

hoje está chuviscante. fresco, acinzentado. mas o ar da manhã trazia o aroma da terra agradecida, das giestas e de flores selvagens, mesmo ali ao pé do eixo norte-sul. trouxe-me as férias de infância num moinho no topo de um monte. dias de joelhos esfolados e escorregas de areia.

fragmentos

[ms] "à minha frente vai um homem de duas cabeças. por uma delas, atravessam árvores, edificios, luzes" ou algo assim, de Para averiguar do seu grau de pureza de Jacinto Lucas Pires sugerido por um novo amigo

si...

no quiero estar si me quema el aire no quiero andar así si la gente se hace nadie si no se que diablos hago si que dios no va a entender porque no quiero andar asi si me sobra el aire

coisas simples

gosto... [ms] de escrever cartas, em papel, num bloco, numa folha, num guardanapo de mesa. deixar no papel os meus traços, a minha respiração, os cheiros. e receber em casa um envelope manuscrito, com selo, com carimbos [de lugares distantes que se calhar não vou visitar] que traz o vento do caminho nas fibras. abri-lo e receber o aroma do quarto, do jardim, da mesa de plástico onde foi escrita. e ver as letras, imaginar uma mão, uma expressão em cada palavra, em cada curva de caneta. a cor, a textura. tudo é um elo físico. e gosto... [ms] de lençóis brancos. que convidam ao descanso num qualquer quarto anónimo em que o sol entra por frestas dos cortinados corridos. gosto de hotéis pelo facto de os lençóis, muitas vezes, estarem gastos, amaciados pelo uso. não dispenso o meu edredon de cores vivas, mas o lençóis brancos têm em mim um efeito mole, lânguido , solarengo...

passa a outro e não ao mesmo

Este foi um desafio que veio daqui , de um texto que começou aqui ... e espero que continue por toda a blogoesfera... não lanço o desafio a ninguém em específico. é de quem o apanhar. o primeiro blogger que nos comments manifestar interesse, que pegue no texto. eu vou continuar a segui-lo por aí... Maribel era uma rapariga de 30 anos, casada, mas infeliz. O seu sonho era fugir a cavalo da Bobadela, transportada pelo seu príncipe encantado. Mas eles não apareciam; nem o cavalo, nem o príncipe.O seu marido Adalberto era uma pessoa fria, de mãos rudes, que não a compreendia. Afinal, toda ela era uma pessoa muito complexa, que exigia um grau mínimo de atenção e carinho. Mas longas eram as noites em que Maribel ia de robe, à janela, olhar a lua e amaldiçoar o homem com quem tinha casado.Certo dia, no hipermercado, foi de encontro a um belo jovem... ..., de ombros largos e porte helénico, que Maribel já tinha visto na construção da nova torre em frente à sua janela. Era o António José, que j

metamorfoses

voltei à morenice... os longos cabelos de sereia estão em casa, num saquinho, à espera de novos dias de transformação. acabei por me aperceber de uma forma mais intensa de como o meu corpo é um precioso instrumento de trabalho. foi a primeira transformação radical da minha "carreira". as outras sempre se conseguiram com menos esforço. cada vez sinto mais necessidade de estar num ginásio, de criar em mim estrutura para poder receber as personagens. o corpo tem de estar tão ginasticado como a alma. saber dançar, cantar, sapatear, ler muito, ter aulas de história outra vez (agora que me interesso), de caracterização, de produção... tantas tantas coisas que me faltam... vou aprendendo às pinguinhas com a prática e a necessidade. mas precisava de me preparar melhor. quem sabe, se as coisas melhorarem, me possa meter num Holmes Place ou contratar um personal trainer... eheheheh

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estou há 3 dias com o nariz encostado ao ecrã do computador. pesquiso cada cidade por onde vai passar a digressão de uma das minhas peças preferidas, de um dos meus encenadores de eleição. sei de cor cada teatro onde vão, a lotação da sala, as linhas arquitectónicas, os bairros, a população residente, a demanda cultural. estou a elaborar um complicado dossier, um projecto para atrair patrocinadores que paguem a viagem. depois, provavelmente, vão passar 2 meses e tal de puro paraíso, a saltitar de cidade em cidade, a visitar as praias, e, ao fim do dia, palco com eles... eu, a produtora, fico-me em terras lusas. já estará de chuva por aqui. e é preciso alguém que atenda os telefones enquanto eles vão lá... trabalhar... em princípio vão precisar de uma actriz para o papel principal. estudam-se as formas mais comerciais de substituição. o meu crédito é pouco. sou só mesmo a miúda das teclas. às vezes é complicado estar do lado de cá e ter o sangue do lado de lá... ver passar as vidas de o

manifestação

as manifestações de carinho que surgem dos mais inusitados peitos, são das mais preciosas. manifesto, por isso, o meu agrado, o meu sorriso, porque no meio da tempestade beijaram-me com sol.

injusto

é injusto, estou revoltada, de cabeça a ferver. há pessoas muito más e estúpidas, mesquinhas e ignorantes. que têm poder de decisão onde não deviam ter. há talento, muito talento, muita capacidade de trabalho, muita entrega total. tudo desperdiçado. mas, como me disseram, what goes around comes around e vão ver. não é desta. mas será de outra. e que venham as travessias todas que tiverem de vir, os moinhos de vento que tiverem de aparecer, não quero saber. muitos acham que sou muito forte. poucos me viram as fragilidades ou tristezas. ou quiseram saber que as tivesse. e é para estas coisas que serve essa carapaça. vou chorar, vou gritar de dor. mas vou-me levantar. e levantar os pés de vento todos que tiverem de ser levantados. porque assim não. e se realmente me rogaram pragas, cuidado... elas retornam... e, em honra disso, vou comer uma pastilha gorila.

informação aos leigos e pobrezinhos

o prazo de entrega via internet do modelo 3 de IRS para o ano de 2004 foi prolongado para 25 de Maio. aproveitem para tratar da burocracia [esse nosso dever patriótico de "encher os cofres do estado com os nossos parcos rendimentos para evitar que incomodem os ricos por fuga ao fisco, ou então vamos todos presos por meia dúzia de tostões"]. atenção que para quem não está já inscrito na net, devem pedir a vossa senha até amanhã, dia 18! [não, não é senha de vez, graças ao Senhor!!, é "password" em português, como eles chamam, que é para o Zé Tuga perceber alguma coisa, já que não se percebe patavina das alíneas e quadros para preencher... é que eles preocupam-se!] estou a recibos verdes [e reparei que fiz de tudo, desde colaborar com uma revista, ser produtora e guia-intérprete, e auferi menos de 2000€!], devo uma batelada à segurança social porque ganhei menos do que o que me pedem para pagar-lhes, e as minhas despesas de saúde são quase maiores que o rendimento anu

momentos

na estrada, onde sinto que pertenço, onde não há censura e cada bifurcação é nada mais que um sorriso pleno de possibilidades, deixo-me ir de alma aberta. olhos brilhantes, fixos no caminho, perdidos na paisagem. não penso, não me deixo ficar presa. absorvo o que cada pedra no caminho me vai dando. dou um grito, travo, encosto, saio a correr do carro. é aqui. [ms] ouvem-se gargalhadas a ecoar nos montes... fui eu? corro a abraçar a doçura das asas esvoaçantes de borboletas delicadas, que salpicam de vermelho aquele campo suave. ainda há sítios assim, onde o ar é mais leve, as cores mais brilhantes, e o dia corre devagar só porque apeteceu parar o carro. [ms] e deixo-me ficar, entre pétalas ondulantes, a preencher-me de vida e luz, de simplicidade. não sei quanto tempo fiquei. fiquei até sentir a alma plena de vermelho. depois, suspirando de contente, entrei no carro e arranquei, de sorriso aberto, mirando as paisagens em movimento, os autênticos quadros que Monet pintou para mim e não

inspira

não temas. não esperes o pior. sempre te prontificaste a receber a vida que aí vem de braços abertos, e dispuseste-te a tentar mudar quando as coisas estavam mal. não tremas. não gosto de te ver esse olhar triste, inseguro. não vai acontecer nada. neste momento, acredito, com fé, que as notícias serão boas. a travessia no deserto foi longa e sofrida. mereces agora um perídodo longo de dias verdejantes, cheios de brilhos e cores fortes. mereces descansar. e por isso, cabeça erguida, e, se tiver mesmo de ser, que saias de ombros levantados. que a tua fragilidade conheça apenas quem gosta de ti e te aceita como és. se mais não te posso dar, fica com isto...

raíz

[ms] deitada, bebi água da chuva, a única verdadeira testemunha, que no seu ciclo eterno tudo percebe, em tudo entranha. chorada, cai na terra onde semeia vida, para depois voltar mais leve que o ar ao céu, e correr com o vento por uma qualquer nuvem até uma fonte de pedra onde fica retida apenas o tempo que o sol demora a beijá-la e chamá-la de novo até si. ali estão as raízes de inês.

passagens

por um palco onde entro espavorida, vestida a preceito, mas sem maquilhagem, de rabo de cavalo e as unhas ainda pintadas de vermelho, para o ensaio geral. revêem-se as marcações, no espaço novo, que por duas noites é nosso. brinca-se, de alma leve e cansada, sem deixar passar as horas impunes de sorrisos. depois, é o espírito de Inês que chega. estamos na terra dela, no local onde mais amou, onde a sua vida foi mais intensa. e sente-se. e depois passa-nos na pele o arrepio da entrega total. e as vozes lançam-se ao céu, rebatidas numa muito má acústica, os gestos fervem como nunca, em defesa de quem nos deu a alma e a história para contar. tremo. acabou. não quero largar a mão do rei, imploro por mais um pouco. porque não? é o último dia? não me posso salvar, só hoje? e o principezinho, o Guinho, que se perde comigo ao colo, inerte, impotente, entre soluços desconsolados porque perdeu a sua Inês. e não renascerá no dia seguinte. no final, ficam as vozes falhadas, a dicção traída pela em

question of love

há coisas destas... a minha colega não faz ideia da minha vida. faço questão que assim seja, para, se tiverem de me despedir, não ter de chorar muito. não sabe se estou alegre, triste, cansada ou com uma depressão. sorrio sempre e falamos de coisas simples, trabalho e "fait-divers". no entanto, há bocado apeteceu-lhe ouvir música e pôs um cd que tinha para ali... não podia saber que me sabe tão bem ouvir Gift logo pela manhã... it's because I met you...

take me away

uma música triste de Silence 4, uma balada doce de Lifehouse... o estado de espírito desta quarta feira. vou-me embora. por alguns dias, vou-me alhear do mundo. desta vez a redoma é minha. pegar no carro e ir. fazer-me à estrada. com destino marcado a vermelho no mapa, para uma despedida em grande. depois, logo se vê. vou poder descansar. a cabeça [das ansiedades], a máquina [que anda outra vez aos saltos], o corpo [fraco e dorido]. mas acima de tudo, vou poder ser. sorrir quando realmente me apetecer. chorar se e quando me apetecer. vai ser um fim de semana prolongado de apetecimentos.

teste de personalidade

eya...! The Performer You are a natural performer and happiest when you're entertaining others. A great friend, you are generous, fun-loving and optimistic. You love to laugh - and you like almost all people equally. You accept life as it is, and you do your best to make each day fantastic. You would make a good actor, designer, or counselor. tirado daqui ...

feira popular

o grito, E. Munch altos e baixos, catadupa de viveres sem ordem, descidas violentas de vento cortante, tontura de espelhos e luzes repetidas, choque abrupto, faíscas e guinchos. cabeça para baixo, comboio escuro. cheiros fortes, barulho, muito barulho. música alta, apitos. bolas. doces. pinga água fétida no asfalto gasto de passos fantasias e gargalhadas soltas como balões de hélio, mais leves que o ar. meter a moeda e o bonequinho ri, brinca, preenche o ar cinzento com o verniz vermelho, as cores vivas de desenhos redondos estalados. desengonçada, sem eixos. boneca quebrada de sorriso radiante. traços de absurdo em pragmatismo clínico. madeira e metal. aponta que acertas, leva prémio. quero algodão doce. do branco. instável. desequilibrada. desabo. doem os músculos. carrega no botão. ombro esquerdo. choro. há que fechar para balanço.

logo de manhã...

... abro o mail e fazem-me chorar. de alegria, de saudades, de sensação que há alguém que reparou. é que às vezes a necessidade de um "estou aqui, gosto de ti" é tremenda... e as consequências dele bastante... húmidas...

closing time...

entre mil e uma fantasias, vive-se intensamente até ao dia de fecho. passa-se a porta, cumprimenta-se os amigos, colegas. percorre-se o hall onde estão afixadas as fotos, percorre-se o corredor e lá está, eterno. quatro arcos de pedra gigantes, a plateia de veludo vermelho, o palco negro de cenários montados. mas desta vez dói um bocadinho. dói sempre que termina uma peça. o último dia é um misto de adrenalina, alívio e saudade. penteiam-me com um carinho diferente, ao fazerem-me os canudos. juntam-se todos no espaço ínfimo do corredor, a aproveitar os momentos de folia que naturalmente vão acontecendo. a contagem decrescente, enquanto caracterizo os colegas, me maquilho e visto, parece mais curta, mas saboreada a passo de tartaruga. depois a corrente, em que distribuímos a nossa energia pelos outros e recebemos a deles. uns mais concentrados que outros, não interessa. ouve-se o anúncio para desligar os telemóveis, corremos às posições. depois, decorre a peça. à espera para entrar, alg

morangos

delícias escondidas em espesso creme branco. sem vergonha aveludam a língua que os envolve, deixam o seu suco escorrer pela garganta. desce o aroma fresco pelo corpo, olhos fechados. penetra pelos poros a vontade da volúpia. a doçura quente de vermelha aquece a pele sequiosa, o ácido frutado arrepia, inebria. sabores que se misturam com a respiração vagamente alterada.

azedas

especialmente para ti e para ti ... uma azeda! agora é arrancar a florinha (que eu acho linda), meter o caule na boca, e ir mastigando... o desporto preferido de muito puto... quer dizer, no meu tempo era...

o botânico cantor

vagueia pelas pedras seculares do bairro. entre ombreiras de portas e escadarias de museus. surge de nadas, todos os dias no passeio, no caminho de quem tem para onde ir. ele está ali, simplesmente. magro, já nos 40 ou 50... talvez mais, talvez menos, quem é das ruas não tem idade certa. orelhas saídas do rosto emagrecido, olhos grandes aumentados pelas lentes grossas dos óculos de massa de estilo anos 70, já reparados com fita-cola, o olhar vago das pedras que lhe servem de cadeira. um dia, ao sol, com uma garrafa de cerveja pousada ao lado, mirava fixamente um minúsculo vaso de plástico verde que tinha uma florinha. cantarolava baixinho. outro dia, à sombra de um prédio amarelo, sentado com a companheira garrafa, cantava em plenos pulmões uma das suas cantilenas, agarrando fervorosamente uma rosa de pé que lhe servia de microfone. hoje andava pela rua com um molho enorme de malmequeres amarelos de caule comprido às costas, que se destacavam pela alegria no meio da roupa suja e escura

pedaço de serra

é neste raminho fresco e bem-disposto que enterro o nariz. vem-me à boca o sabor das azedas.

euphonia

[ms] noite dentro, o cansaço acumulado quebra a elasticidade da voz, única e preciosa ferramenta de trabalho, já debilitada com uma súbita constipação. tem de se gravar 3 programas... e não vale a pena estrebuchar, que é para entregar de manhã. então cá vamos, no mundo das cores, tentado dar ao bonequito a alegria que sai sabe-se lá de que confim adormecido do corpo. dói a garganta. pausas cada vez maiores para beber água e descansar. uns golos de xarope (que tem etanol, vamos lá ver se isto não sai demasiado entaramelado), umas pastilhas que já me salvaram da afonia mais vezes. é um trabalho a dois. o técnico é o melhor amigo, e se lhe facilitar a vida, ele facilita-a a mim. portanto, tratamos de brincar bastante. só assim se suportam as horas abafadas do estúdio. fazem-se considerações acerca da sexualidade de um mocho. da estranha tara de uma das personagens de lacinho na cabeça por homens feitos. fazem-se trocadilhos com expressões inocentes, que tomam outros contornos no meio da p

espiga

em miúda era eu que fazia os raminhos de espiga. subia à serra, e, pequenina como era/sou, desaparecia no meio das ervas altas à procura das flores silvestres e das espigas que cresciam livremente por ali. adorava compôr as florinhas em ramos farfalhudos, dispondo-as por cores, tamanhos. depois atava bem com um cordel... tinha era pena das flores. nunca gostei de as ver murchar, faz-me impressão. em chegando a casa, esperava impacientemente que os meus pais chegassem para o beijo e a correcção dos trabalhos de casa. para depois lhes dar os raminhos feitos com tanto carinho. hoje em dia, maldita a hora em que virei adulta, já não tenho tempo para ir para a serra. mas quando passar no metro, vou comprar um raminho da espiga. que se lixe o capitalismo, eu quero mesmo é um bocadinho de serra...

preto e branco

abafe-se parte da culpa em dois dedos de boa prosa. que a outros, assim, nascem as espinhas bífidas, as escamas e as línguas bicudas. deixam um lastro de gosma e soltam veneno num hálito que existe somente para sufocar os pobres inocentes a cada gargalhada solta com sadismo. preto e branco. e mais nada. porque assim é mais confortável. porque a exclusividade de dores e sentires existe e, sem darmos por isso, agora é preciso autorização da SPA.

ontem vi

o dia a ir-se em nuvens roxas pintadas de um violento carmim. entre pequenas gotas de água que entornavam e tornavam a imagem semelhante a um quadro impressionista visto de demasiado perto. lembrei-me de outros quadros impressionistas que conheço.

fominha

prepara-se a digressão. a produtora fica encarregue de organizar os transportes, refeições e alojamento com a Câmara. até aqui tudo bem, se não fossem as particularidades desta companhia... supostamente ia-se na véspera, os técnicos de manhãzinha para montarem tudo, o elenco à tarde só para ensaiar. o dia seguinte é para arrumações, arranjos na roupa, descontrair e peça à noite. decidiram que é melhor irem 2 dias antes, porque a montagem de luzes é complicada... tá bem, irem passear é o que é. fazerem 3 horas de almoço e outras tantas de jantar e ficarem escandalizados porque os técnicos de lá têm horas de sair e o teatro horas de fechar. se chegarmos como em Alcobaça e ainda tivermos de ensaiar no próprio dia da apresentação porque eles não fizeram nada nos dias que lá estiveram, vai haver molho... depois, o teatro não pode cobrir as despesas de transporte, organizem-se para irem todos nos carros da Câmara. sim senhor, é justo. mas eles vão em dois carros... próprios... ah!!! quem tem

coimbra tem mais encanto...

... na hora das festas académicas... que é exactamente a altura para que está marcada a nossa digressão lá... vai ser bonito, vai. estou mesmo a ver a minha colega lavada em lágrimas, de olhos semi-cerrados, mão na testa, aos berros ininteligíveis como é seu costume, frente a uma plateia de comas alcoólicos... isto se houver gente na plateia... ou uma cena intimista de D. Pedro, a lamuriar-se da perda da sua Inês, a falar baixinho porque a dor lhe tolda a voz, e, ao fundo... uma banda sonora grátis de uma qualquer banda rock-punk lá fora... eheheheh

caixotes

de vez em quando lembro-me da promessa que te fiz. já tu não a ouviste, ou talvez sim. fi-la por mim, também. veio-me do fundo da alma. veio-me com a vontade de te ter de volta. veio com a vontade de te guardar para mim. veio com o cheiro a começar a ficar abafado, naquele corredor. não queria que ficasse abafado nunca. queria que cheirasse sempre a comida caseira, a alfazema e a amaciador de roupa. veio há uns anos. veio à medida que empacotava tudo. tive de ser eu. sobrei eu. sobro eu. de certa forma foi melhor. preferi passar aquelas horas entre panelas e lençóis tristes sozinha, que como no primeiro dia em que a minha mãe ainda tentou fazer qualquer coisa e derretia os caixotes com as lágrimas. foi o dia em que se tornou ateia, acho eu... de qualquer das formas, lá teve de ser. e sobrava eu. tive de atravessar a estrada onde especialistas ainda encontrariam vestígios de giz, das solas das minhas sandálias coloridas, de pele dos meus joelhos e de mercuriocromo. tive de subir as esca