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Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2006

terra queimada

sempre me fascinou o teu cheiro a lenha queimada. olhando-te à primeira impressão dir-se-ia que a tua pele branca de princesa cheiraria a algo como maçãs acabadas de cortar ou loção de bebé. mas tu nunca gostaste de regras nem de preconceitos. sempre fizeste questão de os quebrar. até a tua pele tem essa atitude. cheiras a queimado, a escuro, quando muito a brasas e cinza. e o teu cheiro entregou-te. não me apercebi ao início, quando apenas me sentia confortado. quando o teu lado negro me seduzia em noites agrestes e violentas. quando o jocoso e o irónico, o amargo e o irreverente me envolviam em abraços tão apertados que sentia os espinhos cravados e saboreava o sangue das nossas gargalhadas. mas agora tenho medo. das tuas chicotadas e da minha reacção. já não me satisfazem as nossas noites em que és rainha e esperas que te sirva. e os nossos dias em que violentas os meus pensamentos como se eu não fizesse nada como deve ser. na cama como na vida. sufoca-me a tua política de terra que

por detras dos montes

criação: Teatro Meridional concepção | direcção cénica: Miguel Seabra interpretação: Carla Galvão, Carla Maciel, Fernando Mota, Mónica Garnel, Pedro Gil, Pedro Martinez, Romeu Costa no Teatro Meridional até 23 de Dezembro 4ª a Sexta às 22:00, Sábado às 17:00 e 22:00 Rua do Açúcar | Poço do Bispo reservas: 218 689 245 o ar é frio e corta. na zona de armazéns estranhos para os lados do Beato, o grupo do Teatro Meridional já tem a sua casinha pronta. um edifício industrial todo recuperado, em tijolo vermelho. lá dentro, um tecto alto de traves pintadas, decoração simples onde apetece estar. bonito, acolhedor, com bom gosto. velas e aquecedores a gás [bom investimento], café de saco à discrição em self-service. o sorriso do rapaz da bilheteira também aquece. o programa é de borla e oferecem um livrinho com turismo de habitação da região de Trás-os-Montes. dá para ir lendo e fumar um cigarro, encontrar casinhas bonitas com preços apetecíveis. já começou a viagem e nem nos demos conta. depo

os desejos do costume por estas alturas

[ms] coisas doces, abraços quentes, as pessoas que realmente interessam, luzes indirectas e um pinheirinho enfeitado com gosto... é preciso pouco para um natal simpático. que o vosso seja bem aconchegado. até já.

diarios da perna de pau #3

o figurinista vai ao sapateiro. a produtora pede - como sempre - para ele trazer factura. ele telefona. - o sapateiro não sabe escrever e o surdo-mudo que é vizinho dele e que lhe preenche as facturas não está em casa.

diarios da perna de pau #2

no calça descalça, numa peça de marinheiros, à última da hora decide-se que vão calçados. a Polegar trata de conseguir sapatos à borla. o chamado apoio, portanto. depois é a escolha dos ditos, não é? conversa telefónica do Patrão-Encenador com o Figurinista, que estava na loja: - tu agora vê lá que botas é que escolhes! não te ponhas com modas finas! eles têm de conseguir andar! isto não é teatro quieto, assim paradinho! isto não é teatro dos aloés! isto é teatro físico! teatro do corre lá para trás! é teatro de cenas de pancadaria! é teatro do amarinha pela rampa! pela tua saúde: é teatro do sobe ao mastro de 8 metros! ah... já agora, e meses de orçamentações, negociações, estica-daqui-corta-dali-para-poder-pagar, contactos e trabalho manual do prop master depois, o grande Actor decide que já não quer a perna de pau. diz que é - e passo a citar - um "instrumento de tortura"... quem?, atrevo-me eu a perguntar...

diarios da perna de pau

estamos em fase de ensaios, num armazém, com cenário já montado [sim, tiveram de se chegar à frente com as madeiras]. entretanto, figurinos e adereços estão a ser concebidos e provados. o artigo do momento é a perna de pau. para um actor genial - diz o encenador - e hipocondríaco - digo eu. cá vem, todas as semanas, o mestre de adereços [prop master, como eu lhe chamo], de boina francesa e saco dos chineses recheado de coisas estranhas. o actor experimenta a dita perninha, e queixa-se. - está muito alta, não consigo apoiar o pé no chão. o prop master abre o saco dos chineses e tira de lá um serrote. serra a coisa. - não, afinal é do ângulo, percebes? o prop master tira da chave inglesa e chave de fendas. desaparafusa-aparafusa. - agora está-me a magoar o joelho o prop master abre o saco dos chineses e tira um rolo de espuma. - e eu vou usar uma bengala, não é? é que assim não temos bem a noção de como vai ser o andar... inventa-se uma canadiana. enquanto isso, fala-se de como

fazer farinha - redux

comigo não fazem farinha. mas oportunamente, mais uma vez, não é comigo que a querem fazer. citando - com o devido consentimento - alguém próximo: temos pena... - uuuh... amazing! did you come up with that all by yourself?

é depois

[ms . um ano depois ] contava os dias e nem dei que os dedos deram várias voltas ao teu corpo. estava entretida com os entretantos. com os rasgões que o cinzento, o frio e os desesperos abriam em mim. que tu selavas e cicatrizavas com sopros ferventes. enquanto ias e vinhas na minha pele, preparavas uma gota de suor à parte. então é que percebi, era a teia, uma teia de fios leves, espessos e húmidos, curandeiros como os lábios que se tocam com mais do que desejo e carne. e enquanto dormia, tu tecias. de repente - tão de repente que foi de rompante - arrancaste-me das cinzas que me rasgavam, do cinzeiro de vidro onde jazem as beatas já gastas. arrancaste-me e empurraste-me com força, sem me largar a mão. deixaste-nos cair. num puff vermelho com olhos azuis. e conforme caímos, o puff apanhou-nos, secou-nos à lareira, fez-nos dar três voltas no ar e desaparecemos. e estávamos ali como quem vai para o rio, duas ruas à esquerda, depois da viela adormecida nas luzes de uma porta, contam-se t

chico et les croissants

[ph.t.s :: ms | design & supporting arm :: polegar] mais uma vez, escondeu-se nas mochilas de dois jovens errantes. e, nos momentos mais inusitados, saltou cá para fora. sim, o nosso repórter especial está sempre em cima do acontecimento. e veio provar que a três também pode ser romântico...