Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens com a etiqueta o medo do escuro

algo

algo denso, escuro, escorre nas paredes. acumula-se de baixo para cima, espessando as paredes que incham na direcção uma da outra. algo crepita, vago, ao longe, uma cacofonia desencontrada, desconcertada. vai-se calando devagarinho, desaparece como aquela baforada de fumo no peso de uma manhã fria. é a sensação que fica. um eco, talvez. bata-se na parede e regressará talvez um sopro. pingado. não vale, assim não vale, é preciso barulho e já não há voz. desde quando é preciso nadar para se ficar seco? e quem gostava de, uma vez, ficar quieto? uma medida. de quantos passos se faz a claustrofobia. já se medem a dedos, não passos. seriam polegadas, eventualmente, no sorriso irónico de quem cá passa. e de quantos passos se faria o abraço. esses são largos, com botas de sete léguas. afastam-se. pois. afastam-se e o algo escuro e denso escorre goteja agarra-se e fica. já esse, fica. outro sorriso irónico. afinal, o abraço é a cura para a claustrofobia.

torre de marfim

a mulher cresce entre as insensatezes da vida. há chão que queria pisar. há forças que fogem da mão. o hesitante equilíbrio entre correr e ficar parado. o simples parece-lhe demasiado complicado, nada corre como nos filmes. ri-se e o amargo outra vez. retoma-se no espelho, de gestos certos mesmo que falhados e tira o dia do rosto. investiga-se para lá da moldura dos olhos e não sabe o que encontra. há vestidos pendurados na memória do querer, num quarto paralelo, entre os frascos de creme para a solidão. vêem-se nitidamente naquele lago de açúcar queimado. não são gavetas nem imagens confinadas, são espaços imensos de luz, janelas abertas e portas escancaradas, de vento contente rodopiado pelos passos de quem nunca está só. e quase ouve o tilintar de copos na sala. já vago e gasto, o som, de tanto o pensar. recua. está demasiado longe. já não se esforça tanto, sabe. já não pede ajuda, ironiza. convive consigo e basta-lhe que não lhe baste sem chorar. está crescida, seca, a menina. de v...

cinco

noites de olhos abertos porque o calor não está e eu com os pés frios não consigo dormir. não está ninguém? acendo a luz de presença, o sol desgasta-se à entrada. o refúgio são as cores. as velharias, os livros, os cartazes, a manta de polar. música. e o filme antigo que o amigo me deu como amêndoa para me adoçar os olhos. deixo que se derreta nas horas, devagar. sorrio. não me farto de esperar por ti.

girando em cima da mesa

"[...] A vida como uma moeda. Escolhes uma face ou uma face te há-de escolher. Avalia as possibilidades. [...] O problema das montanhas é que só conseguimos ver o que está do outro lado quando lá chegamos. É fácil dizer hoje que não mudaríamos nada, ou que faríamos tudo diferente. É fácil porque não adianta". A casa quieta, Rodigo Guedes de Carvalho às vezes é complicado pensarmos em como só vemos a solução depois de já não haver problema. depois de já não se poder fazer nada. o meu maior problema. a minha maior luta. tentar fazer tudo para que as coisas não percam o controlo. não nos percam. há muitos anos, a noite era de vigília silenciosa cansada ao teu quarto. os fantasmas cirandavam e eu não queria que te perturbassem os sonhos de menina. ficava de olhos abertos na escuridão até a escuridão me abraçar por desgaste. acredita, não aguentava mais do que o tempo que os olhos se mantinham alerta. mas tinha a sensação de que nada te tocava. que te guardava. hoje as portas do t...