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A mostrar mensagens de 2008

a posta de natal

este ano a coisa anda complicada. embora às vezes até tenha algum tempo, nesse mesmo tempo encontro-me num estado vegetativo de fazer inveja a muito tubérculo. a nível mental, também, vaziazinha de ideias ou de memórias de momentos destacáveis para colar por cá. no entanto, muni-me de uns fiapos de força que encontrei por aí, arrastei comigo o namorido, e aqui está o nosso vídeo de natal. com música, animação e, claro, gorros vermelhos. fiquem bem. aconchegados, a entupirem-se de doces como manda a tradição :) eu vou ali recolocar-me a soro a ver se recupero.

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foto roubada à Manel meia-noite com a alcateia, pequeno-almoço na cama, estrelas de feltro ao lanche com a boneca. passeio de mãos dadas a olhar para a nossa amiga que, só hoje, trazia brincos*. seria para a minha festa? *vénus e júpiter, amor e criação do dia, segundo uma especialista da coisa.

bonjour

o ambiente no meu camarim é geralmente épico. língua afiada e pouca cafeína, acho eu. portanto entro, maquilho-me a contar até duzentos para não rebentar com as enormidades que se vão acumulando no ar, e saio a abrir para aquecer no corredor. no entanto, hoje aconteceu um pequeno milagre. os clássicos da disney, em brasileiro, salvaram a minha manhã. e por isso, agarrei a oportunidade e cantei tudo o que me lembrava, fazendo as vozes de todos os personagens incluídos em cada número. em plenos pulmões. eu, que não canto. só por um bocadinho de paz, de gargalhadas com gosto enquanto pintava [literalmente] o focinho.

tu és tão grande

deixa-me ver a tua mancha. mas és uma pessoa, não és? vais sair daí? mais ou menos. [isso de] ir ou ficar. onde estaria? descansar. sim. só.

são martinho

foto de espanta-espíritos por estes lados a rua fria ainda cheira a lume. em casa, uma manta, o aquecedor e a nossa mistura perfeita das melhores tradições: castanhas no forno e vin chaud .

pânico combustível

na bomba de gasolina, ouve-se a voz roufenha de uma rapariga da caixa: - senhor da bomba cinco, desligue o telemóvel. começam a rodar cabeças à procura do imbecil. volta a voz, um pouco mais alterada: - senhor da bomba cinco, por favor desligue o telemóvel. vemos o imbecil, continua imperturbável - vá, talvez o barulho do intercomunicador esteja a chatear um bocadinho, mas pronto -, telemóvel numa mão, mangueira de abastecimento na outra. esbracejamos, mas nada. eu começo a gritar na direcção do imbecil, tentando comunicar pelo único meio que acho que ele compreenderá: "ó senhor! trrim-trrim não! gasolina! fssst cabum! morrer! explosão! dói!" a menina da caixa insiste, cada vez mais nervosa: - senhor da bomba cinco, é proibido falar ao telemóvel. está a ouvir? desligue o telemóvel. senhor da bomba cinco? o meu namorido começa a encaminhar-se na direcção do imbecil, fazendo-lhe sinais para parar. abana-o para ele levantar os olhos. ele lá se apercebe que a conversa é com ele e

quando se pensa que já se viu tudo

vai-se comprar farinheira ao supermercado e vê-se numa estante um Trivial Pursuit edição DVD... porque deve dar muito trabalho às novas gerações essa coisa de atirar os dados ou mexer o queijinho. chega-se a casa e, abananadamente, descobre-se que até há a versão digital do bicho, tipo Game Boy, ou para os mais modernos, vá, PSP, para acabar com o incómodo dos cartões... medo...

um pedaço de história americana

nos bastidores de um teatro em Lisboa, uma colega estava quase histérica no camarim, de contente. durante o aquecimento, em vez de "força, merda", gritou-se "Obama". soube por fonte fiável que noutro espectáculo uma "menina" da Brízida Vaz também gritou, mas em cena, pelo Obama [aqui entre nós, lixando um bocado toda a dramaturgia do Gil Vicente, eheh]... hoje está tudo parvo em bom. faço parte desse sentimento. sei que um homem não resolve uma crise mundial, mas identifico-me mais com as suas intenções e planos práticos do que com outros. e sei que, acima de tudo, um povo inteiro que vivia arreigado numa pequenez de espírito assustadora deu um passo incrível por cima dos costumeiros preconceitos fúteis para acreditar na força e propostas desse homem. e como, por acaso, esse povo tem uma influência gigantesca em tudo o que se passa por todo o lado, eu agradeço.

adenda do dia não senhor

descobri entretanto que a causa de o meu despertador não ter tocado foi, literalmente, isso: o altifalante do telemóvel [meu despertador] pifou. assim, da noite para o dia. portanto agora o piqueno não toca, só vibra. também não posso falar em altavoz no carro. o que me vale é que com auscultadores ainda posso ouvir música no metro... para breve, o enterro do dito pequenito, que não sei bem como vou substituir... ADENDA DA ADENDA: o namorido lá me esventrou o telelé e arranjou-o! iupi!

dia não senhor

acordo com um telefonema, a patroa a perguntar onde estou. no momento em que pego no telemóvel começo a hiperventilar. faltam 20 minutos para a peça começar. gaguejo qualquer coisa como "ah uh ah ghlagh tou ah a ir agh" e desligo. 3 minutos depois, estou montada na mota a repetir autisticamente "faltam 17 minutos, faltam 17 minutos, eu não acredito nisto, faltam 17 minutos", de dedos cravados nas costas do namorido - ensonado, atordoado e petrificado de medo porque nunca por nunca gostou de conduzir a mota à chuva e, claro, hoje choveu, daquela chuva que transforma o chão em manteiga, mas por isso há mais trânsito, por isso nem tempo para carro nem para metro. na antónio augusto de aguiar atendo outra chamada da patroa e tento explicar, agora mais articulada, que o despertador não tocou, que a única coisa que me separa do teatro são os semáforos - todos vermelhos, como convém. explico que se não me caracterizar para a primeira cena, são 30 segundos para me vestir e

sonoro

descia descuidada a avenida, restituída à ordem natural depois do fim de semana de sete milhões de euros que legalizaram - temporária e exclusivamente - as corridas de carros, o tuning e o barulho excessivo em áreas residenciais. [by the way, o público surpreendeu-nos, recusando os apelos da grunhice intrínseca de cada zé tuga, enchendo-nos a sala apesar do circo à porta, das estradas fechadas, do incómodo de mudança da hora, do sol lá fora e nós aqui. amén a todos vocês, benditos anónimos, que nos forraram a plateia com mais de seiscentas almas receptivas e bem dispostas.] mas dizia eu que descia a avenida. passando o nevoeiro das castanhas na esquina, evito que uma senhora seja atropelada na passadeira e continuo na luta interna de conseguir chegar à mala apesar das várias camadas de roupa, do capacete, do desastre natural da minha pequena estatura que não me permite equilibrar tudo nos braços. tiro o sete colinas e o telemóvel, carrego no play. já vai a meio a canção e é das que dã

do que há-de vir

a caminho do trabalho, um taxista pára para deixar a mota passar. dois tiochos daqueles que costumam ser pedantes e nem olhar para o lado [desses que aparentam não ter problemas de créditos, euribores, nem de combustíveis a julgar pela assentadura] abrem as alas dos espelhos - eléctricos - também para nos deixar passar. ao telefone, massajam-me o ego profissional. duas vezes. e, já em casa, um senhor da cabo liga a oferecer um desconto na factura mais telefone grátis durante um ano. o namorido põe-se a arrumar as gavetas. e isto . que não sei se ria, se chore. e tudo faz sentido quando uma senhora no intercomunicador do prédio me pergunta se eu acho que Deus vai resolver o problema do aquecimento global e da bacarrota da Islândia. mais descansada. afinal são só sinais do apocaliptro ...

paracetamol

o corpo em descanso, pela primeira vez de dois meses de tensão, em vez de ficar agradecido, vinga-se da negligência com dores absurdas em sítios que pensava que não tinham terminações nervosas, a cabeça pesa mais do que o pescoço aguenta, os olhos querem saltar das órbitas e é toda uma moleza inominável que me prende impotente ao sofá. assisto às mudanças de luz na sala, que lambe as paredes devagarinho, destaca e esconde os títulos dos dvds, dos livros. e penso que devia ir aspirar o chão. tinha coisas para fazer. apetecia-me sair de mão dada, apanhar ar, comer travesseiros ou castanhas ou sushi, comprar um casaco, ler um livro de fio a pavio, acabar o quadro grande, e essas coisas que andei a adiar. apetecia-me convidar amigos para um café, um filme, qualquer coisa que me fizesse sentir acompanhada, descontraída, com vida pessoal outra vez. tudo engolido por uma dolorosa apatia. quebrada apenas pelo ritual de, às 8 da manhã, dar um salto na cama a pensar que estou atrasada para os en

contagem decrescente ou it's a jungle out there

um elefante com uma luxação, um impala com um torcicolo, uma tribette com os ombros inflamados, outra tribette a recuperar de uma pneumonia, uma elefanta bebé com quebras de tensão, uma criança-mona com alergias e um elefante-macaco substituto que tem dores só de vestir o fato. a girafa mais pequena do mundo com os dedos dormentes. faltam 3 dias...

malas aviadas

começa agora a contagem decrescente. fazer as malas para viver 5 meses num teatro é muito parecido com a preparação de uma viagem de campismo. mas leva-se mais mariquices de gaja...

funny face ou havia muito a dizer acerca disto

You Scored as Audrey Hepburn Audrey Hepburn 75% Betty Page 69% Mae West 69% Betty Grable

seis horas

de suor a derreter no peito de asfixia de ácaros na garganta de cinzento de pó de pés em meia ponta de costas encaracoladas de pontadas nas mãos de deixas penduradas de dedos esvaziados de recusas de vontade de noites de tinto de incongruências de gripes de ânimo enfraquecido de ego que nem com muletas de ausências de desorientações de cadeiras partidas de cigarros a meio de fitas de amuos de idiotices de palermices de risos cansados de dias que já se esvaíram quando se sai para a rua sem os ter visto.

cabaret

teatro maria matos até 28 de Dezembro Adriana Queiroz, Ana Cláudia Ribeiro, Ana Lúcia Palminha, Bernardo Gama, Carlos Gomes, David Ripado, Dima Pavlenko, Fernando Gomes, Henrique Feist, Isabel Ruth, Meredith Kitchen, Paula Fonseca, Pedro Laginha, Sandra Rosado e Sara Campina. encenação de Diogo Infante bilhetes entre 15 e 25€ já toda a gente sabe que a minha vida é um musical, que nasci na época errada e com um estranho pânico, vá, respeitinho encolhido por cantar em palco. sendo este musical um off-La Féria, não me podia escapar. aviso já que neste género quero ser bem servida, quero tudo - porque já vi o tudo - mas, mais do que esperar cantores exímios e dançarinos exemplares, vou à procura de representações poderosas que elevem as notas musicais ao tão estimado arrepio. já se sabe que vamos entrar numa Alemanha quasi-nazi, num submundo boémio e nas relações e ralações dos vibrantes seres desse mundo e dos que o rodeiam. não querendo ser acusada de fornecer spoilers, fico-me por

cinzentamente

sair porta fora e o mundo está pendurado nas pálpebras, pressiona-as de maneira a que tudo se veja apenas por entre as aranhas das pestanas, em cinzas vários e cada um mais desinteressante que o outro. terá sido falta de café, mas há dias despojados de toda a boa intenção. que nos é sugada por antecipações, previsões, confirmações. interjeições. sim, essas são as piores. a interjeição do ego, essa cabra. que salta e arranca um braço a quem já estava de mãos preparadas para a defesa - dizem que é o melhor ataque, mas tinham de conhecer certas interjeições. e a dor de cabeça, claro está. terá sido falta de café. ou falta de força. ou repressão de força para um bem maior que já não se sabe bem qual. e palavras ditas em desdém, e desdenhadas e desenhadas com tanta força que a ponta do lápis parte. cansa. a doença alheia que calcorreia corpos, suga e cospe os despojos do que fomos. há coisas que nos absorvem e não nos devolvem e vamos para casa à procura de onde estamos. mas deve ter sido f

wiiiiiiii!

os senhores do Imposto Redutor de Sorrisos demoraram demasiado a mandar a cartinha da cobrança. por isso, e fazendo orelhas moucas ao bom senso, fizemos foi o gosto ao dedo. mais fãs de jogos de tabuleiro [mas com poucas visitas aos "arrabaldes" para dar asas à loucura como deve ser] e de longas noitadas de mikados e scrabble a dois, tínhamos no entanto uma pequena fraqueza. branquinha e sem fios. andávamos há demasiado tempo a namorar uma coisa destas. a minha primeira desde a Nintendo Super Set, e a única que nos fazia sentido: faz-se exercício e é perfeita para jogar em grupo. desde há um tempinho que as noites são passadas a jogar. ou a fazer ginástica. curiosamente, desde a divulgação do Advento da Compra, um pequeno grupo de peregrinos - anteriormente estranhos a este local, mais conhecidos como a irmã e os amigos da irmã da Polegar - ruma frequentemente à nova Meca, para estabelecer contacto com a estranha consola imaculada, assaltando frigoríficos pelo caminho. nós di

profilaxis

há coisas absurdamente geniais. num dos meus sotaques preferidos, com as doses perfeitas de "testemunho danone", clipping vintage, comédia da mais fina, mesmo que escatológica, e, claro, actores fabulosos. 9-minutos-e-tal desconcertantes. se eu tivesse forma de sacar isto, dava-me ao trabalho de legendar. onde encontrei? mesmo depois de Studio 60 on the Sunset Strip ou antes de Flight of the Conchords no canal FX, que está a passar curtas espanholas entre programas, aparentemente de forma aleatória, sem os identificar no menu da programação. nem todas são do meu agrado, mas esta... foi de parar tudo para tentar perceber se eles estavam mesmo a contar a história que eu achava que estavam... quero gritar ao mundo que existe. enjoy :) profilaxis , produção de 2003 de prosopopeya producciones

três quilos e trezentas

ph.t. e mão conquistada de Simão por três quilos e trezentas desatámos aos pulos na cozinha, abraçámo-nos e demos vivas. três quilos e trezentas de uma pessoa nova, doce, decidida e delicada, de olhinhos já atentos, a quem o mundo ainda não faz confusão. por três quilos e trezentas de gente há lágrimas e um sorriso de leste a oeste cá em casa. porque também é um bocadinho nossa. a nossa família emprestada de Paris está, agora, mais-que-perfeita. chegaste, Joana. sim, Joana, mais-que-perfeita, sem pretérito mas com travessões para ficar tudo juntinho, porque é tanto o amor que se respira desses dois que te fizeram que a tua casa é sempre assim quentinha para quem por lá passa, cheia de abraços e gargalhadas. e sim, Joana, fomos nós que te andámos a fazer festinhas e sussurrar disparates num francês macarrónico este Maio que passou. fomos nós que levámos os teus pais para as escadas exteriores - de que eles só se lembram quando lá estamos - para ficarmos todos à conversa até às tantas co

por onde, mesmo?

uma pessoa tem uma consulta no médico, para a qual vai ter de faltar a uma parte considerável de um ensaio. para lá ir ter o mais rapidamente possível, pondera utilizar os transportes públicos porque não quer caos, poluição, perdas de tempo em filas, taxistas enraivecidos e essas coisas. por isso, vai ao site da Transporlis [linkado no da Carris ] informar-se do melhor percurso, e de quais os transportes a utilizar. insere como ponto de partida a Avenida 5 de Outubro, e o de chegada a Avenida Gomes Pereira. pois que manda pesquisar e o bicho diz que falta inserir ponto de partida ou de chegada. depois de estouradas várias tentativas de "vai buscar", recebendo sempre o mesmo recado, a exasperada pessoa resolve ignorar o bug e usar como alternativa o mapa disponibilizado no site para indicar per se - ou à la pata - os ditos pontos. perde-se por vielas e ampliações de ruas estranhíssimas, num mapa que indica que o Hospital de Santa Marta fica a norte do Parque Eduardo Sétimo.

mimo

disto, assim. acordar com um elogio profissional. um buraquinho-para-café sem hora marcada na tarde do Chiado [como há tanto tempo]. um corte de cabelo. um livro e filmes para a colecção. e o regresso a casa com as mãos nas tuas costas.

outtake

ph.t. espanta-espíritos

o homem, o gato, e o bicho mau

gato foge. dono pede ajuda. vizinho homossexual prontifica-se e resgata-o. dono vê vizinho com o gato. dono pensa que vizinho não salva gato. dono pensa que vizinho sodomizará o gato. dono pensa que pela sodomia vizinho homossexualizará gato. dono dá tiros no vizinho. dono não acerta no vizinho. dono acerta na vizinha. stop* *via ondas marklianas

sic mulher

entalado entre os anúncios a detergentes e desodorizantes, deparo-me com um "new look", à laia de extreme makeover dos pobrezinhos, em que um senhor cheio de não-me-toques que nunca esboça um sorriso porque enruga, aplicou uns reflexos acobreados foleiros tipo anos 80 e cortou 2 cm às pontas do cabelo da mocinha. isto depois de lhe aplicar um champôm intense repére . outro, mais simpatiquito, aplicou à Carla [a mocinha] uma sombra nos olhos, enquanto dizia: "agora aplicas com a esponja assim, queres ver? fecha os olhos" a consultora de moda - a.k.a dona de uma loja ali no Fonte Nova - sugere à funcionária pública [ou será estagiária, ou será reciba-verde?] do IPJ um versátil... vestido de cocktail beringela, um casaquinho de malha com apliques de pérolas e umas sandálias de salto agulha prateadas para a mocinha levar para o trabalho. como alternativa tem sempre umas alpercatas com sola de cortiça e vime de salto compensado. e a Carla diz que se sente muito bonita.

sim

tenho dias. e aí questiono-me. se será sensato tanto instinto. tão pouco estudo das coisas, tão pouca dissertação. tão pouco pretenso pretensiosismo. se de tanto apreciar o que é simples não me tornarei simplória. nunca fui disso dos estudos. não fui de debitar nem dissertar. tinha de perceber. simplesmente perceber. o sentido, único ou não, mas o meu, o que lhes dava, o que me davam. era disso que eu gostava. saía-me assim. saía-me sempre. e depois, claro, cansou-me. e foi assim. foi por isso que voltei ao que gostava. dos bonecos e não dos rótulos. para falar, saboreio. é que bastam-me as palavras. em vez de pensar, cheiro. em vez de medir, abraço. em vez de olhar, mergulho. não hei-de eu ser chanfrada...

big band

Glenn Miller - imagem tirada daqui ontem à noite estava uma big band no Rossio. podia comentar aqui uma série de defeitos que encontrei, especialmente na falta de profissionalismo e humildade de algumas pessoas. mas o poder daquele som, da harmonia de metais, contrabaixo, bateria e piano, o fumo do cigarro, o arrepio constante e a lua. a viagem no tempo incomparável. a saia-suspiro ou bem travada. e o risco nos olhos. a boquilha, as luvas, os saltos altos. cada vez mais estou convencida que nasci na época errada... ou que vi demasiados filmes em miúda...

acordaste, Lisboa?

tenho-me queixado frequentemente que a Baixa está moribunda. por falta da dedicação de... todos. falta-lhe uma pulsação própria fora do horário de expediente. falta-lhe gente que a viva. e também me queixo das pessoas, da apatia, do comodismo, da falta de vontade de sair dessa modorra que assola tudo e todos. da mania de se queixarem e de não se mexerem para fazerem o que querem. da incapacidade de se unirem no que realmente interessa. da incapacidade de se levarem menos a sério e de se entregarem mais uns aos outros. ontem ouvi falar nisto . já conhecia algumas iniciativas dessa maravilhosa arte urbana do improviso com multidões, da espontaneidade deliberada em cheio na testa do quotidiano, a que se chama flash-mob. e quis fazer parte. armada em agente infiltrada, com o rádio sintonizado na antena 2 e uma câmara na mão, fui ver como era. e dei por mim submersa. e soube bem. soube bem porque à minha frente eram velhos e novos, deitados no chão a ouvir as trepidações dos passos. deitado

super-pateta

noites de vinho tinto, séries, filmes. a brisa, a lua refrescante, as cortinas coloridas. nós os dois. e chorrilhos de disparates. dizer o que dá na gana. sem travões. sem censuras. rir de tudo. rir com gosto. rir com garra. rir todos os dias. só me ocorre uma coisa... és o meu super-amendoim.

entrementes

acordada desde as 7 da manhã, desesperada por penumbra e colo, vou a casa entre peça e gravações. - que é que queres comer? - ... não sei... - que enjoo, queres sempre comer a mesma coisa, safa!

só bronze e sonho

entre nervos e risinhos frescos de coisas pequeninas a quem contámos histórias de gente grande. o medo de as histórias serem pesadas, de não estarmos a ser ciganos como deve ser, evaporou-se nos olhos atentos, nos comentários murmurados e nas risadas francas sempre que a ocasião o propunha. com estes pequenos seres não há meias medidas. trespassam-nos com a franqueza, topam-nos um passo em falso. por isso foi de peito aberto e olhos nos olhos. depois o momento decisivo, engolir em seco e atravessar a parede que nos protegia. "mostra a mão, senhora" [pequenina, perdida na cadeira maior que o mundo dela, de trancinhas com missangas]. um segundo de hesitação e... uma mãozinha esticada, pequenina, curiosa, a ver-me percorrer as linhas ainda por desenhar e outras que não estão lá. olhos pasmados "um rapaz te quer muito, e outros te falam de amores". cora e ri. depois mostrou-me o dói-dói na perna. fiz-lhe uma mezinha de beijocas e passei ao próximo cliente. levanto os o

raspões

corre corre, polegar. dos estúdios afogada em papéis e vozes. para o ensaio geral. povo das estrelas, canções, sinas e verde que te quero verde. ainda não vi bem o sol. pinto-o na cara para parecer cigana. contagem decrescente: uma semana para respirar.

repto ao norte

pessoal da zona do Porto, aqui vai um pedido muito especial: se alguém passar nas imediações do Teatro Nacional São João nestes dias, vejam se por acaso lá continua o telão do FITEI e fotografem-no. é que os senhores acharam tão pouca graça a esta foto de cena do meu namorido , que virou quase uma "imagem de marca" do evento este ano. os membros do elenco e equipa artística do espectáculo fotografado, que lá estiveram em digressão, vieram todos contentes contar que estava um telão enorme com esta imagem, cito, "a cobrir o teatro inteiro"... mas não se lembraram de tirar uma fotografiazinha para atenciosamente alimentar o ego agastado do fotógrafo que tão bem alimentou o ego dos intervenientes com cliques do mais alto coturno. assim, peço ao pessoal do Norte que possa fazer o obséquio de, se tiver possibilidade, me enviar uma foto do teatro com o dito telão na fachada. eu retribuirei com fotos do que precisarem de Lisboa, e, se cá passarem, contem com uma bic... um c

banlieue*

há coisas tão boas que se sentem com o sabor do pecado. sabe a pecado perceber que nos visualizamos a viver ali ou ali. sem dificuldade, acreditamos que simplesmente podíamos ir ficando, por um enquanto indefinido. derrete-se a língua nova na boca, sabe-se que se vira à esquerda e o rio é já ali, que é tão fácil criar raízes entre bancas de roupa vintage . as rotinas são coisas que nascem espontaneamente, o café preferido e o sítio onde comprar a baguette , o restaurante japonês barato, o mercado de rua e o supermercado do leite bom. de repente já são nossos, dados adquiridos como saber que descendo aqui a rua vai dar à tasca onde o vizinho dispensa um pão ao domingo à noite. gosto de não precisar de um carro para nada. gosto de poder ir a pé ou de bicicleta, do é já ali sem cansaço, gosto de ter transportes para todo o lado, de o passe ser barato e dar para tudo a toda a hora, de a comida ser barata, de os jardins serem para todos e de haver muitos jardins, de se poder pisar a relva,

banho de cultura

vou ali tomar um banho de cultura e já volto... :)

senhora directora

de um dia para o outro, a uma semana de desaparecer por uns tempos, vira-se-me a vida do avesso. quando pensava que tinha uma semana de descanso, para preparativos, entregas de IRS e dormir o dia todo... pam! de novo os bonecos. e agora, a gerir os dois lados da barricada. é no que dá um "padrinho" que tem uma fé cega no meu talento e me recomenda a torto e a direito, salvaguardando:"achas que dei o teu nome só porque és gira?" e é no que dá um namorido que tem um poder, o tal do tão afamado secret. que quando digo que se calhar não passei no casting de voz porque estou enferrujada, me responde que até vou progredir na carreira. que me vai levar de uns lados para os outros "porque de mota é mais rápido", abdicando de merecidas horas de descanso até no próprio dia de anos. e que está ali à minha espera com um lanche de leite fresco e pão com tulicreme para me acalmar do dia inacreditável que foi este... a minha vida é muito bonita. podia era ser menos intem

o canto da rosa

foto de Martim Ramos, tratada por mim bar do Teatro da Trindade 11 de Abril a 3 de Maio, sextas e sábados às 23h * bar do Teatro da Malaposta . 16 e 17 maio às 23h. criação e encenação colectivas dramaturgia e direcção: Ana Sofia Paiva com: Ana Sofia Paiva, Anabela Tomás, Cristina Andrade, Luciana Ribeiro músicos: Tiago Morna e Rodrigo Augusto produção: Kalpa Comunicação e Cultura preço: 8€ [vários descontos disponíveis] quem me conhece sabe que tenho por princípio, neste blog, fazer as minhas pseudo-críticas a espectáculos a que tenha assistido mas nos quais não trabalhe ninguém que eu conheça. maioritariamente para evitar ferir susceptibilidades [com a minha maldita mania de dizer o que realmente acho] e já agora para não parecer que só faço publicidade aos amiguinhos e mesquinhices parecidas. no entanto, hoje faço excepção. uma grande amiga minha faz parte deste elenco. entramos na casa de fados de D. Maria da Rosa, que nos vem receber à entrada. a gerente da

conjecturas de inspiração vagamente escatológica*

*que se transformou num romântico dueto de classe - ou dinâmica de um relacionamento condenado à partida a um abanamento de cabeça enquanto se rumina entredentes o[s] ditado[s] "só se estraga uma casa" e|ou "um diz mata, o outro diz esfola" eu só disse mata : há qualquer coisa de big brother nas engenhocas públicas demasiado modernas. eu já brincava com os parques de estacionamento em que uma voz diz "bem vindo ao parque não sei do quê, insira o seu cartão. obrigado e boa viagem". dizia "a senhora deve sofrer muito, ali enfiada todo o dia". ou "diz-se obrigadA, ó estúpida". mas pronto, passava. agora mais tétrico é nas casas de banho... não sei. aquela coisa de uma pessoa fazer o xixizito [meio de pé para não contactar com nada daqueles cubículos] e ainda está a subir a calça já o autoclismo, por sua auto-recreação, faz a descarga, no "exacto momento preciso". não sei. fico sempre a pensar se o sensor não será uma aldrabice. s

Ella e um cigarro

a melancolia de um abril a cântaros a lamber o vidro. a precisão de um suave berbequim nas fontes adivinha que a rinite dos fenos terá rima. pobre, mas rima. aguardo com dois comprimidos e um carioca de limão a que está por vir. a anunciada pelo esforço de me fazer ouvir em claustros com ventanias e trocas de roupa em pele ainda assim suada. a anunciada, a que rima... não? não rima propriamente, mas há um qualquer arabesco de som que me avaria a percepção perfeccionista. rinite... gripe. sigamos enquanto o vinil não se cura - mesmo assim - um crepitar... a música a raspar pela chuva adentro. um pequeno vazio ao canto. quase microscópio, o vazio. da poeira, o canto. encosto os pensamentos à parede e a língua solta-se menos literária. não desfazendo. tenho saudades de certas palavras. daquilo que sei que sei fazer. de fazer de conta a sério. a sério? tenho saudades subir por ali acima, ir por ali afora e deixando-me de rodeios dar valentes pontapés na genitália emocional de uma sala chei

wc cheap&chic makeover

ora passámos disto para isto quem diz que uns pés-descalços do subúrbio não podem ter um Roy Lichtenstein na banheira? com direito a um armário exclusivo para viagens sensoriais ao passado, recheado de pequenas antiguidades da higiene e cosmética por nós coleccionadas através de incursões a drogarias de bairro. trabalho feito por uma equipa de dois, em 8 dias, por um terço do preço que custaria mandar fazer por "profissionais". há por aí alguém que precise dos nossos serviços de consultoria? fazemos orçamentos grátes e vamos a casa...

megalomania

após uma visita ao Ikea na passada semana, por ocasião das obras na casa de banho, concluem-se três coisas: o meu namorido é o mestre do tetris eu posso vir a ganhar a vida como contorcionista o meu C1 é um camião, carago!

extreme makeover - bathroom edition

é desta. vai daí, saídos dos lençóis para um café na tasca do lado, aproveitando a folga e a tarde solarenga, voltamos a casa com uma estranha vontade violenta. tantas guerras, tantos baldes de tinta, tanta martelada no dedo, havia no entanto uma divisão que nos estava atravessada: a casa de banho. desistimos dos grandes projectos, não encontrámos quem nos assentasse uma mão cheia de pastilha por um preço acessível. por isso terá de ser como tem sido até agora. a dois, inventando do ar, imaginando e rabiscando os meus cadernos cheios de raspas de lápis de cera, como as cores fortes da casa, recorrendo ao engenho e ao "gosto disso". tudo medido de mãos dadas pelos azulejos acima, com risos e chaves de fendas a caírem nos pés descalços, decorreu hoje a cerimónia de início da remodelação da casa de banho. com uma vontade e uma mestria saídas não sabemos bem de onde, encaixotámos pertences, arrancámos móveis e loiças e vedámos saídas de água em poucas horas. e agora que já só tem

feliz dia, dia feliz

ph.t. de espanta-espíritos a quem se enterra em dúvidas toda a vida, com a paixão como único guia. a quem vive de borboletas, tecidos e pós que se desvanecem nalguma curva do caminho. a quem renasce a cada luz que se acende. a quem se alimenta de dar. a quem tem apenas o corpo para dar. e nele recebe o suor de almas que não existem. mas acredita. a quem se rasga para caber mais qualquer coisa que não se vê, para que se veja. e a quem acende as luzes, a quem carrega nos botões, costura, constrói, inventa, pinta, escreve, captura, estende o adereço e orienta os passos. a quem conta histórias. a quem faz sentir. hoje é o nosso dia. feliz dia mundial do teatro.

ar

são os pontos de encontro da respiração. tudo está ligado, todos os lábios se beijam. cruzámo-nos. tu viste-me, não te vi. levantaste os olhos por momentos dos teus pés que acompanhas com devoção para não teres o mundo por perto, ombros descaídos sob o peso da mochila e da vida que escolheste. levantaste os olhos vagos, vagueantes, imensos, imersos, submersos, subterrâneos. triste momento despejado por ti abaixo, gelado. desenraizado. viste-me na minha distracção abstracta com as músicas enfiadas nos ouvidos, as letras nos olhos, o livro nos dedos hesitados, sem saber o que me leres na tal aura em que acreditas. e por ali ficaste, sem um gesto, sem uma inalação, à espera que essa suspensão me sugasse direito a ti. à espera que me vaporizasse em mil estilhaços que se te arrastassem pela cara, te cortassem as veias e a escultura do perfil, para ser culpa minha outra vez. nada. só os ecos. invadiram-te. mas não eram teus, eram só perspectivas distorcidas do espaço em volta, que te tocava

cinco

noites de olhos abertos porque o calor não está e eu com os pés frios não consigo dormir. não está ninguém? acendo a luz de presença, o sol desgasta-se à entrada. o refúgio são as cores. as velharias, os livros, os cartazes, a manta de polar. música. e o filme antigo que o amigo me deu como amêndoa para me adoçar os olhos. deixo que se derreta nas horas, devagar. sorrio. não me farto de esperar por ti.

desacordo ortográfico

a mulher olhava-me de esguelha. de cada vez que eu abria a boca, a minha visão periférica denunciava um movimento amarelo da cabeça da senhora na minha direcção. não sei se interessadíssima na veemência da minha posição, defendida em voz alta apesar de a rapariga que nos servia o chá ser brasileira, ou se incomodada por o meu discurso ser inflamado e pelo facto de eu esbracejar, estando certamente a distraí-la da apatia do seu próprio acompanhante. só sei é que quando peguei no jornal que estava disponível para consulta no bar, procurava o suplemento de cultura para saber em que sala e horário encontrar um determinado filme. mas o dito suplemento estava a descansar na mesa da tal loira, aberto e negligenciado, enquanto ela folheava uma revista de decoração, e eu fiquei-me pelos cabeçalhos do Expresso. como não tenho conseguido acompanhar a actualidade, pude finalmente pôr-me a par das novidades acerca do tal acordo ortográfico. e portanto a culpa de a estar a distrair é totalmente del

círculo

os claustros, as personagens antigas, as pedras que me quebram os passos. e parecia que não tinha saído dali. como se ao descer as escadas com os figurinos se estivessem a apagar os últimos 6 meses. é tudo cíclico, dizia-me eu a mim. saltei, fugi, corri, bati o pé, desviei-me, mas a espiral encontrou-me outra vez. mas encontrou-me diferente. encontrou de mim apenas o que eu quis dar, nas minhas condições. sem teclas, sem dias de passos arrastados, de cinzas macilentas. e pela primeira vez nestes anos todos, estou a trabalhar unicamente naquilo que sou. será que consigo manter-me à superfície? logo se vê. agora? aproveito para respirar. logo se vê para quanto dá o fôlego. borboletas na barriga. hoje vi papoilas. jogo à macaca, salto à corda, que linda falua, um dois três macaquinho do chinês. avó, vou brincar para a rua.

orgulhosicamente

há anos que não assistia ao Festival da Canção. o meu regresso foi de coração apertado, num espírito de missão. suportei estoicamente o rol de músicas óbvias e a roçar o pimba, aliviei-me na número 7 quando a "Canção Pop" do Nuno Markl interpretada pelo Ricardo Soler me fez bater palmas e dizer "ah, isto sim". e continuei em deprimidas, à espera de mãos cerradas, pela que seria a última da noite. estavam lá três amigos meus, parceiros de cesta de frutas, numa versão non sense do que pode ser este evento. claro está que o espírito passou incompreendido, mas eu fiquei a noite toda a cantarolar. parabéns. há anos que não sentia este cheiro de coragem e alegria. a contrariar o tal espírito luso das tristezas, o épico deprimido, o mar e o amor incompreendido. até gastei os tais dos 60 cêntimos mais IVA... :)

bons vizinhos

não tenho razão de queixa. a cusca do lado, para além de povoar a escada com uma selva amazónica, não chateia mais do que ouvi-la a espreitar à porta de cada vez que abro a minha. no rés-do-chão, o homem-torre e a esposa de cabelo vermelho são caladinhos, têm um gato engraçado que já salvámos um par de vezes e só se vestem com fatos de treino ao fim de semana. o bêbedo do benfica só tem conversas um bocado longas e de bafo etilizado quando o encontramos na tasca, mas está fora no Brasil e tudo. os velhotes do segundo andar nem piam, e o outro velho esquisito só é massacrante nas conversas das teorias da conspiração nas reuniões de condomínio, uma vez por ano, ou quando teima que quando não consegue estacionar o carro dele na garagem não é por ser um azelha a quem devia ser retirada a carta de condução, mas porque o resto dos condóminos arrumam mal os carros deles. por fim, o Vasco está a administrar condomínio há 3 anos porque toda a gente se descarta e ele até faz um bom trabalho. raz

frases a reter

"está maluca" "temos uma situação" "se te deixares enganar, parece que os barcos estão no céu" "vais entrar em palco no último dia, sim senhora" "desculpa a confusão em que te meti quando te convenci a fazeres o casting" "anima-te, dentro em pouco estaremos com os nossos amores" "este teatro é mais bonito do que os olhos conseguem ver" "tu, aqui!" "sinto-me como se fosse domingo à noite e tivesse acabado o MacGuyver: não sei o que hei-de fazer agora"

a roda dos alimentos de pantanas

de repente, regressa a maldição do pé torcido. e eu, que já me tinha despedido das minhas personagens, que adivinhava uma estadia pacata, a contra-regrar e a sentar miúdos daqueles que ainda sobem escadas de gatas, tenho de voltar. e encarar aquelas dificuldades que julgava engavetadas [por agora] hoje estou ainda em choque. cansada, moída. e os olhos cheios de sono que não se fecham para descansar. ao menos a cabeça limpa para relativizar. vou tentar dormir. quem sabe amanhã corra tudo pelo melhor. e daqui p'rá frente...

pequenas observações

antes de partir, há tempo para umas coisas... passar pelo antigo emprego, onde me cravam 2 projectos para fazer em 10 dias. saber que me querem de volta, mas ainda a tentarem fazer-me as papas na cabeça. saber que ganhei um distanciamento destes senhores que me permitiu deixá-los a resfolegar durante as negociações... que ainda não acabaram... é deixá-los suar... e ver até quanto posso esticar. saber que por mais apetecível que seja voltar a ter ordenado certo [ainda que pequenino] todos os meses do ano, valho mais que isto. e a minha saúde, mental e emocional, vale muito mais que isto. saber que aos 28 anos ainda não perdi o estúpido costume de não me acomodar. saber que, pelas escolhas que faço, ainda não é desta que venho morar para Lisboa. saber que o mais certo é voltar a não ter férias. saber que, à medida que vou aviando as malas, me dói um bocadinho mais saber que nós vamos estar longe um do outro tantos dias, tantas horas, tantos segundos. e o silêncio adensa-se cá dentro.

próxima paragem

antes do desemprego: Porto. directamente da avenida da Liberdade para o auditório da Exponor... tripeiros, temei, a Polegar vai em digressão... serão 15 dias de rambóia. bem, da possível, tendo em conta que faremos uma trintena de espectáculos num curtíssimo espaço de tempo. e o hotel tem piscina... eheheh

[d]a ficção

no fim do espectáculo, ainda vestindo a personagem, vou passear para o foyer e falar com os miúdos que por ali andam. uma menina de uns 5 anos aborda-me. diz que gostou muito de mim, fui a preferida dela porque também me chamo "Ana". e puxa-me de lado, em estilo de confidência: - olha lá, Aninha, aquela bruxa não era a sério... - [abro muito os olhos, com o meu ar mais espantado] a Doença? não era a sério?! claro que era! eu fiquei mesmo doente há bocado, senti-me muito mal! só me safei porque comi as verduras! - [em tom condescendente, de mão na anca, a revirar os olhos] ó Aninha! isto é teatro , é uma peça... as bruxas eram a fingir, não te podiam fazer mesmo mal!

peticionando

esta era-me impossível não divulgar. vá lá, dêem um pulinho aqui e assinem... mais uma vez, as condições de vida dos chatos dos artistas e do recibamento verde : por exemplo, somos obrigados a pagar um mínimo de 150 euros/mês de segurança social, independentemente de nesse mês [e há muitos] só termos feito um trabalho de 50. e depois não temos direito a subsídios de desemprego, de gravidez ou baixa... os contratos de trabalho não são contratos: basicamente são contratos de prestação de serviços e não nos protegem ou dão quaisquer regalias típicas dos contratos. e o Senhor Estado resolveu que, numa nova lei, ia usar o termo "intermitentes", inteligentemente utilizado e regulamentado em França, mas para manter o nosso estatuto basicamente na mesma, senão pior. tenham a bondade de nos auxiliar...

t.p.c.

constantinopolitano, quando te desconstantinopolitanizarás? eu me desconstantinopolitanizarei quando todos os constantinopolitanos forem desconstantinopolitanizados.

fado

são dez da noite e a calçada ainda cheira a chuva. arabescos de fumo confundem-se com o céu nublado e esperamos ouvir os saltos da Lu chapinhar nas poças. depois de um abanar contente do guarda-chuva, entramos. é tão discreto, secreto, lento o ar ali dentro. nada se mexe para não fazer barulho. até as bolhinhas da cerveja dançam devagarinho. ao fundo, depois das cabeças, o preto. o negrume das mãos postas na tensão da nota, ou será da palavra. não importa. são as mãos, as mãos e os riscos dos olhos que saltam, que vibram, que escorrem nas paredes, para dentro do colarinho e arrepiam devagar a pele desidratada de música. nos intervalos há conversas, há risos roubados ao silêncio, que recua com uma certa benevolência. são jovens, todos, deixá-los. depois voltam, com as guitarras, com os xailes e o preto, às suas outras personagens. observo. as notas, as cadências e as mudanças de volume. escuto. os corpos parece que inchados, direitos, o queixo ao alto à procura. e as outras mãos, os out

serviço [que pode irritar algum] público

que podia ter o título alternativo "só lá vai quem quer" neste blog , encontra-se a tentativa de ir listando os locais [restaurantes, cafés, bares, etc] onde fumar continua a ser um direito, sem trazer inconvenientes de maior para os não fumadores. pode contribuir-se via mail ou comentário. também encontrei este site , sobre bares. espero sinceramente que a ASAE não o leia, porque senão lá segue a perseguição. perdão, a inspecção que pretende ser totalmente aleatória e que por acaso só tem ido a estabelecimentos com dísticos azuis. repito: "só lá vai quem quer"...

teste

este post será para apagar... o que se passa é que consigo fazer tudo menos ver o meu blog... será que fui fechada pela ASAE? :|

imperfeições

o pequeno pedaço de tinta lascada na parede conta que foi lata a lata que as pintámos todas. o relevo das frutas nos azulejos da cozinha contam que já foi tudo bege-desespero e agora é verde-alface. a ponta de papel de parede levantado fala da festa que foi esconder os azulejos da entrada, e do ataque-relâmpago da nossa gata. e o sofá, que era branco e que agora não vive sem uma manta, invoca das noites quando nem cama havia. o vestido de festa no armário conta que só tu é que me convences a comprar roupa sem ocasião, só porque me achas bonita. a mancha de café no colchão sorri e diz que somos gente de pequeno-almoço almoçarado na cama. os riscos na máquina fotográfica são prova dos teus inúmeros trabalhos. as molduras de madeira por pintar são o rol das fotos e dos cartazes, das viagens e sorrisos. a queimadura na mão traz-me aos olhos quem esteve comigo no meu dia de anos. o quadro por pendurar lembra-me que me devolveste coragem para voltar a pintar. a cama por fazer avisa que ficám

taxicidade

"Um táxi. Cinco motoristas. Cinco dias úteis. Inúmeras histórias escritas nos estofos gastos de um velho Mercedes. O passo lento do taxímetro leva ao destino personagens que se revelam durante o percurso da viagem e das suas vidas". o Damon , um blogger que me acompanha quase desde o nascimento deste cantinho, sempre me surpreendeu com textos de ficção lindíssimos. nas poucas vezes que nos vimos [ele é do Porto], sempre veio à baila um sonho, um projecto, mas que lhe parecia muito longínquo. cá para mim ele tem talento para dar e vender, força e, acima de tudo, merece. mas pronto. ele achava que não. sinto-me, portanto, muito honrada em anunciar que saiu para as estantes das livrarias o seu bebé, o livro Taxicidade, escrito em parceria com outros 4 jovens. além de ter um tema que apetece e a garantia do contributo criativo deste meu amigo, tem ainda uma capa lindíssima [que as capas são logo um chamariz para a gula literária]. no próximo sábado, os autores descem à mouraria

há coisas fantásticas, não há

sexta feira foi um ponto de viragem nesta pequena família suburbana. resolvemos que o orçamento familiar aguentava mais um compromisso a longo prazo: tv cabo e internet normal. o nosso sonho de há muito tempo: mandar o leeento e limitaaado modem zapp à vida, e despedirmo-nos sem pompa nem circunstância das noites de tvshop e aqueles concursos de telefonemas com as mamalhudas de cérebros monocelulares. pesquisámos muito, porque o orçamento é curto. eu queria alinhar nos pacotes da Clix: mais baratos, mais velocidade de internet, tráfego ilimitado, conjunto de canais compostinho em que depois se pode escolher mais uns quantos, tipo pizza. mas a Clix não tem as Foxes todas. e um amigo [ainda não decidi se convicto ou com acções na TvCabo] aconselhou-nos a optar pela TvCabo/NetCabo. porque diz que os outros não podem garantir isto e o outro, cabo de fibra óptica e mais uma catrefada de coisas. e tem as Foxes todas. pronto, siga. começou, então, a aventura a caminho da civilização. mal se c