são os pontos de encontro da respiração. tudo está ligado, todos os lábios se beijam.
cruzámo-nos. tu viste-me, não te vi.
levantaste os olhos por momentos dos teus pés que acompanhas com devoção para não teres o mundo por perto, ombros descaídos sob o peso da mochila e da vida que escolheste. levantaste os olhos vagos, vagueantes, imensos, imersos, submersos, subterrâneos. triste momento despejado por ti abaixo, gelado. desenraizado. viste-me na minha distracção abstracta com as músicas enfiadas nos ouvidos, as letras nos olhos, o livro nos dedos hesitados, sem saber o que me leres na tal aura em que acreditas. e por ali ficaste, sem um gesto, sem uma inalação, à espera que essa suspensão me sugasse direito a ti. à espera que me vaporizasse em mil estilhaços que se te arrastassem pela cara, te cortassem as veias e a escultura do perfil, para ser culpa minha outra vez. nada. só os ecos. invadiram-te. mas não eram teus, eram só perspectivas distorcidas do espaço em volta, que te tocava e não querias que te tocasse. invadiram-te, assim, sem pena nenhuma, os passos e o cérebro, a carne a rasgar-se para jorrar no chão e nas paredes tudo o que guardaste e coseste a fio grosso com agulha ferrugenta. tudo o que crias suturado. tudo o que querias queimado. cheirou-te a carne queimada. e assim a tua divindade apodrecida, e assim os véus de chumbo, os ventos de dúvidas e a tua causa em causa. o ego tem sustentos frágeis, carcome a realidade, a carne da certeza, para se manter de pé. assim fechaste os olhos e assim o altar da tua veneração te inalou. a tua cara semicerrou-se num punho altivo e desengonçou-se na estranha dança que evocas quando te assombras. sempre te disse: nada pior que os teus fantasmas para te aninhares na solução dos medos. o medo de não seres como te constróis. conhecem-te demasiado bem para te dar conforto. conheces-te demasiado bem. já não te conheço. por isso nem te vi.
desapareci no fundo da escada, alheado dos espinhos que já não procuro.
nunca foste húmido ou hidratado. choras sem água, devagar, degustando o ritmo dos teus soluços. são pequenos sulcos ressequidos, intervalos de ar grave que te soam perfeitos, como tudo na tua tristeza.
não te vi. mas todas as peles se tocam, todas as almas se respiram.
cruzámo-nos. tu viste-me, não te vi.
levantaste os olhos por momentos dos teus pés que acompanhas com devoção para não teres o mundo por perto, ombros descaídos sob o peso da mochila e da vida que escolheste. levantaste os olhos vagos, vagueantes, imensos, imersos, submersos, subterrâneos. triste momento despejado por ti abaixo, gelado. desenraizado. viste-me na minha distracção abstracta com as músicas enfiadas nos ouvidos, as letras nos olhos, o livro nos dedos hesitados, sem saber o que me leres na tal aura em que acreditas. e por ali ficaste, sem um gesto, sem uma inalação, à espera que essa suspensão me sugasse direito a ti. à espera que me vaporizasse em mil estilhaços que se te arrastassem pela cara, te cortassem as veias e a escultura do perfil, para ser culpa minha outra vez. nada. só os ecos. invadiram-te. mas não eram teus, eram só perspectivas distorcidas do espaço em volta, que te tocava e não querias que te tocasse. invadiram-te, assim, sem pena nenhuma, os passos e o cérebro, a carne a rasgar-se para jorrar no chão e nas paredes tudo o que guardaste e coseste a fio grosso com agulha ferrugenta. tudo o que crias suturado. tudo o que querias queimado. cheirou-te a carne queimada. e assim a tua divindade apodrecida, e assim os véus de chumbo, os ventos de dúvidas e a tua causa em causa. o ego tem sustentos frágeis, carcome a realidade, a carne da certeza, para se manter de pé. assim fechaste os olhos e assim o altar da tua veneração te inalou. a tua cara semicerrou-se num punho altivo e desengonçou-se na estranha dança que evocas quando te assombras. sempre te disse: nada pior que os teus fantasmas para te aninhares na solução dos medos. o medo de não seres como te constróis. conhecem-te demasiado bem para te dar conforto. conheces-te demasiado bem. já não te conheço. por isso nem te vi.
desapareci no fundo da escada, alheado dos espinhos que já não procuro.
nunca foste húmido ou hidratado. choras sem água, devagar, degustando o ritmo dos teus soluços. são pequenos sulcos ressequidos, intervalos de ar grave que te soam perfeitos, como tudo na tua tristeza.
não te vi. mas todas as peles se tocam, todas as almas se respiram.
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