Avançar para o conteúdo principal

bons vizinhos

não tenho razão de queixa. a cusca do lado, para além de povoar a escada com uma selva amazónica, não chateia mais do que ouvi-la a espreitar à porta de cada vez que abro a minha. no rés-do-chão, o homem-torre e a esposa de cabelo vermelho são caladinhos, têm um gato engraçado que já salvámos um par de vezes e só se vestem com fatos de treino ao fim de semana. o bêbedo do benfica só tem conversas um bocado longas e de bafo etilizado quando o encontramos na tasca, mas está fora no Brasil e tudo. os velhotes do segundo andar nem piam, e o outro velho esquisito só é massacrante nas conversas das teorias da conspiração nas reuniões de condomínio, uma vez por ano, ou quando teima que quando não consegue estacionar o carro dele na garagem não é por ser um azelha a quem devia ser retirada a carta de condução, mas porque o resto dos condóminos arrumam mal os carros deles. por fim, o Vasco está a administrar condomínio há 3 anos porque toda a gente se descarta e ele até faz um bom trabalho. razões de queixa do Vasco? só o facto de ter forrado a casa a tijoleira branca. de resto, é um porreiro pachola.
todos acham muita graça ao facto de terem um casal de artistas no prédio, a actriz e o fotógrafo, a quem por isso perdoam os horários fora do vulgar e o barulho da porta da garagem à hora do sono dos comuns mortais, as cantorias sobre legumes em tempos de ensaios e outras pequenas situações.
damo-nos todos bem, até se for preciso vamos bater à porta do lado a pedir emprestado um comando da garagem se o nosso parar de funcionar, pagamos cafés de vez em quando uns aos outros quando nos cruzamos na tasca, a coisa é pacífica, quase de pequena aldeia.
agora temos um novo vizinho, que veio ocupar a casa por baixo da nossa, sucessor da senhora que gritava com o marido a toda a hora e dizia coisas de um português que eu desconhecia. o vizinho é simpático, tem uma filhota (como quase todos neste prédio), apresentou-se na reunião de condomínio e disse logo que adora música.
gostei da sinceridade, até pisquei o olho porque tenho o mesmo problema.
agora deparo-me com uma "situação". o senhor é um querido, mas ouve kuduro e morangos do nordeste toda a santa tarde de sábado. num volume que nos faz pensar que se calhar isto é festa da junta de freguesia no largo do café... mas não, é já aqui por baixo...

aaaaii, é a dooooor, ai ai ai é a doooor, é a dooor :S

Comentários

espantaespiritos disse…
viva a boa vizinhança!

abaixo a música foleira...
Sara disse…
... Por um momento pensei... Ahhh, tão giro... Gostava tanto de morar num prédio assim, onde toda a gente convive...

Mas acho que kuduro killed it for me... Pobres vocêsses!
intruso disse…
ehehe
prédio animado!
:)


p.s.
morangos do nordeste?!
:/
colher de chá disse…
e se lhe oferecesses um cd'zito de música animada (como ele gosta) mas de qualidade?
;)
polegar disse…
espanta: e eu com problemas em ouvir os "franciscos fernandos" em dias de frenesim...

sway: killed all of us... argh!

intruso: ah pois é, é só do mais refinado estilo de tortura. todos os morangos, inclusive todas as bandas que já nasceram dos "morangos com açúcar"... bah.
polegar disse…
colher: e o senhor gostar? ele não tem culpa que eu seja er... esquisita ;)
Eduardo disse…
:) é um prédio à portuguesa com toda a certeza do mundo :)

O kuduro ainda se tolera... agora os morangos do nordeste.. eishhh :)
Oferece-lhe uma k7 de Dino Meira agora na páscoa :)
pinky disse…
uiiiiiiiiiii terrivel! e uma conversa simpática com o senhor?

Mensagens populares deste blogue

sabes quando te revisitas e já não te encontras? não sabes o que fazer de ti contigo. as perdas têm sido valentes, as estocadas mais fundas. pensei que por agora a pele estivesse mais grossa, mas não. pensei que estivesse de pés assentes, mas há força nas pernas. perdi o meu pai. perdi o meu chão. espero por uma fase boa. em que esteja tudo bem, organizado. nem que venha depois outra ventania, mas um pedaço de vida em que tudo esteja no seu lugar. só por um bocadinho. mas não. as peças estão espalhadas, quando começo a arrumar umas, caem ao chão as do outro canto da vida. um empilhar de pratos num tabuleiro demasiado cheio, que não se tem oportunidade de ir despejar à cozinha. até as metáforas me saem avariadas, já. tabuleiros de cozinha é o que me sobra. isto são metáforas, certo? é um padrão, o padrão caótico da minha vida, que tento desenhar em palavras que já não tenho. quero despejar-me aqui mas não sei bem como. os medos continuam, sabias? estão piores, diria, porque...

the producers

there comes a time in your life when you have to stand up straight and scream out loud so that everybody can hear: "Who the hell do I have to fuck to have a chance around here?!" The Producers | Mel Brooks | Drury Lane Theatre | Covent Garden quando ouvi isto, soltei a gargalhada amarga que me acompanha nas ironias da vida. agora já nem consigo rir. estou cansada. não dou o cuzinho e três tostões, mas dou o couro e três tostões. não conta, porra?

reviravoltas

[ms] mais uma para o currículo. descansa. estou cá, para te dar a mão. e um dia ainda nos vamos rir... os dois... entretanto, rimo-nos também, que não há mal que não desista à vista dos dentes desgarrados e das barrigadas de nós os dois. porque eu sei o que vales, quanto vales e como vales. e para cada ingrato, grato e meio. os destinos entrançam-se devagarinho. nada acontece por acaso. há quem consiga aguentar o nó na garganta de mão dada. sabes que quando se fecha uma porta... nem que tenha de rebentar uma janela à pancada... o céu troveja porque não sou só eu que estou revoltada... peito cheio, vem aí o vento... vamos apanhá-lo de velas içadas. vamos apanhar a chuvada de boca aberta ao céu... vou sair agora. vens?