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A mostrar mensagens de 2007

blog em suspensão temporária

[musiqueta de natal em bom[b] pelo meu Donaldim preferido, Achmed, the dead terrorist] porque: é Natal e as prendas são todas feitas à mão [grande agradecimento à Air pela dica da cola quente: elevou a velocidade do nosso trabalho a um patamar nunca antes conseguido] como as prendas são feitas à mão, a roupa está por lavar, a loiça por arrumar, o lixo por levar para a rua, o chão por aspirar. só parei de trabalhar ontem [dia 23], depois de várias maratonas durante semanas a fio, e tive jantar de natal da peça. hoje tenho prendas para terminar e só vou começar a dormir mais de 5 horas por noite amanhã. estou a aproveitar os últimos momentos de liberdade de fumar neste país para poluir o mais possível, enquanto não vedam aos fumadores o acesso aos cafés e esplanadas. os meus tios chegam de Espanha e quero aproveitar ao máximo esta visita-relâmpago. por isso, ficam os desejos costumeiros da época: aconchego, mimo, as pessoas que realmente interessam, e paz... pás pás. ;)

por uma fatia de pão-de-ló

eu e a Câmara Lenta conhecemo-nos há muitos anos. desde um projecto de leitura dramatizada na escola que ganhou tais dimensões que teve de subir para um palco. com lata para reposição e tudo. tempos de reuniões de 20 pessoas, em que todos fazíamos tudo, planeando minuciosamente os desastres à volta de uma mesa com pão-de-ló da avó desta mesma "pequenita". já na altura, se revelava moça com um humor desmedido e uma maturidade acima da média. desde sempre a chateei. escreve. escreve. insiste. nós fazemos, nem que seja num vão de escada. quando acredito no talento das pessoas tenho este problema. e ela muito hesitante, a dar passinhos de bebé. e eu a chateá-la sempre que a apanhava a jeito. mas a acreditar que um dia ia acontecer. e chegou o dia. um telefonema: um piloto. sem garantias, logo se vê no que dá. a minha resposta? "sim, sim, e há pão-de-ló da tua avó?" havia... este fim de semana acordei às 9 da manhã, contentinha como uma criança com um caderno novo. [eu,

polegar no cinema português

hoje foi o dia da "rodagem da cena com deixas". o nervoso miudinho ainda não tinha acordado, já eu tinha gravado. é que o despertar foi às 6 da manhã, entenda-se. chegar, comer uma sandocha, maquilhagem, cabelos, troca de mimos com o ex-patrão no cigarro da espera ["você nem imagina as saudades que eu tenho de si, minha cara", disse-me ele, e eu de lágrima de crocodila - oh - que - peninha - que - saudades - tenho - eu - do - escritório - e de - sua - azia - matinal quase quase a rolar-me pelo rosto se não fosse a pintura poder esborratar]. em bela diva meio acabada vou ao guarda-roupa e lá está o meu fardamento de criadinha insular do século passado antes do século que já é passado mas que eu não me habituo. vestidinha a preceito, já temos a perfeita mulher do campo, delicada mas vigorosa, com rosetas fornecidas pela secção das pinturas, e só me lastimei de não ter deixado crescer a sobrancelha-monocelha para ficar mais autêntico. e de não me deixarem fazer a coisa

cabo verde

teatro Meridional até 15 de Dezembro 4ª a 6ª às 22h; Sábado às 17h e 22h rua do Açúcar 64 - beco da mitra, Poço do Bispo, Lisboa bilhetes - 10 euros, vários descontos. eu não dava para crítica de teatro. ia ser acusada de ser amiga deste e do outro. de ser uma vendida a certas companhias. chega-nos uma compilação de textos de autores caboverdianos. prosa, verso, música. uma actriz, um músico. isolados numa ilha de caixas de madeira, uma enorme lua de papel e um espanta-espíritos para deixar aproximar apenas as almas boas. ele faz mar com arroz. ela faz um povo com o corpo. começa com "deus abençoa este espectáculo". e parece que sim, que há uma qualquer força que deixa que cada som, cada palavra e gesto saiam abençoados e contagiem todas as pessoas ali sentadas. são histórias. são coisas pequeninas, gestos de um quotidiano, de um imaginário - bem real - que ali se nos apresenta. são símbolos reconhecíveis por todos, são pequenos contos que lemos como num livro em que as letra

no dia dos meus anos

desta vez ficámos por cá. e pela primeira vez em 28 anos, trabalhei no dia do meu aniversário. antes de parecer mal, digo que é feriado. levantar cedo, depois da tradicional meia-noite com os meus infalíveis e de doses inacreditáveis de amor até às 3 da manhã, que incluíram uma surpresa muito kinky-pinky e tentar afinar uma guitarra de ouvido. apaguei as olheiras com base e pó e cores e riscos. era dia de dose dupla. dos corredores de correntes de ar disparavam abraços, apertadelas, beijos repenicados e puxões de tranças. porque as pessoas do teatro são assim, expressivas. e eu gosto. o namorido levou-me à porta de artistas e entregou-me na mão do meu mr. bojangles . "seguro a minha mão na tua", já dizia o outro. e na mão de um e na lente de outro dancei a menina. e depois, ainda no palco, cantaram-me os parabéns. o público também, desconhecidos e quatro vozes que cantavam mais alto que as outras porque, já se sabe, a família. "não chora", dizia-me bojangles, sempr

auto-dedicação

foto de espanta-espíritos para mim, aos meus fantasmas de bolso, com banda sonora ou silêncios, sem dúvida em fôlegos apertados. caminhadas na minha cidade de vento frio a baralhar-me o cabelo. as imagens escorrem apesar de não serem chamadas. simplesmente estão lá. vivas, de bocas riscadas para baixo e palavras amealhadas em meias ilusões que almofadam a queda. é tempo. é tempo de as agarrar com os dedos e ignorar punhos cerrados. para que as sinta sem me magoar. para que não me esqueça. mas para que repouse. servir a gosto. mudemos de casa; porque é preciso arrumar as dores de outra maneira, certificarmo-nos da existência do corpo em novos lençóis, voltar a ter ilusões, lugar propício para a curiosidade de alguns que nos fazem acreditar que a vida é um amplo anfiteatro para as mãos. jorge gomes miranda agradeço à lebre e à menina limão , que me ajudaram a arrumar as ideias.

the extra

pediram-me que escrevesse, e escrevi. afeiçoei-me ao senhor e foi com um gostinho adocicado na boca que soube que ele tinha conseguido levar a sua avante e que os meus dedos tinham dado um pequeno contributo para isso. depois fugi, como se sabe, dos dias cinzentos, à procura de luz e de pinturas que me devolvessem a cor à cara. não sei por quanto tempo, mas isso agora não interessa à conversa. há pouco tempo inscrevi-me numa nova agência, onde trabalha uma colega minha. "procuramos actriz entre 20 e 30 anos, sem madeixas" - não se vê logo que sou eu? conhecendo a minha história, não hesitou em ligar-me: há aqui a hipótese de uma participação pequena no filme do teu amigo. o cachet é uma merda. queres? por acaso até quero. se andei com o bebé ao colo, agora, se posso, quero ajudá-lo a andar. fui, assim, conhecer o glamoroso mundo do cinema. num ambiente bastante aconchegado, ou não conhecesse eu mais de metade da equipa. incluindo os senhores do topo. todos acharam imensa graç

flippers

dá aqui, leva do outro lado, o que importa é não parar, não pares, senão perdemos o jogo e por isso agora toma lá mais porrada, tens de ir para cima, para a esquerda, não, não é essa esquerda é a outra, oh mas será que não percebes nada do que te digo, foda-se? e sim agora quero que deslizes devagar, mais devagar, porque tenho de te dar a traulitada na altura certa, és uma bolinha tão fixe, tás mesmo a jeito vá lá vá lá vá vá tá quase e... toma! agora vai lá, desvia-te da luz e entra lá ao fundo, naquele túnel. não, não percebes o bónus é se fores para ali, merda. mas que coisa, é preciso dar-te mais porrada para fazeres o que eu quero? plim plim plim, sim senhora, agora sim, desvia-te... mais... para... ali! toma, vá caraças, que merda, anda lá com isso, tenho mais que fazer que ficar à espera que acumules os pontos... parece que nunca sabes qual é o teu lugar. vá, mais uma, para ali, tás quase, pimba! eheheh rebola aí que eu gosto. espera, não! calma, se te der um safanão agora... oh

transições

daqui para aqui imagens de espanta-espíritos

goodbye my monochromatic friend

entraste-nos pela vida adentro assim de repente. um dia, de manhã, numa casa ainda meio inventada, meio improvisada, tecida aos poucos num terceiro andar, ouvia-se miar em plenos pulmões. abrimos a porta e nem pensaste duas vezes. entraste de rompante e encolheste-te a um canto. ainda guardamos os cartazes que não afixámos a perguntar de quem eras. evidentemente quiseste ser nossa. pinguim. porque sim. porque eras uma monochromatic friend com um ar apatetado. e pronto, seguiram-se os pêlos, os espirros, o acordar contigo em cima do ombro com um ar maquiavélico, as tuas marradas assassinas, o teu miado desesperado quando te cheirava a carne crua, o teu ar patusco quando nos olhavas, o teu constante ronronar de britadeira, os teus saltos cómicos quando nos mexíamos, a tua atracção fatal pelas minhas botas de trabalho ao fim do dia, os teus berreiros nas manhãs de fim de semana, a tua mania de quereres subir para o sofá, a tua paixão pela tenda azul três meses depois de ta comprarmos, o

animais - post com palavrões

um filho da puta com pretensões a artista de merda resolveu fazer a seguinte exposição / performance-instalação / peresfíncter como gosto de lhe chamar: perseguiu e capturou um cão vadio doente [o que justifica tudo], prendeu-o num espaço, perante uma parede onde se lia a frase "és o que lês" escrita com comida de cão. o bicho [o cão] morreu de fome ali. como forma de arte. o punheteiro intelectual chama-se Habacuc. os que permitiram a exposição não sei, mas gostava de saber, para fazer uma petição para lhes fechar a loja. assim como ir a casa de quem pagou bilhete para ver isto com um pau bem grosso e... bem. o cão está morto, não há nada a fazer sobre isso. resta apenas uma petição para que não o deixem participar na Bienal Centroamericana Honduras 2008 . é o mínimo, não? soube disto pelo blog da Manel , e lá encontram links para imagens da coisa. eu recuso-me a divulgar mais esta merda, apenas apelo a que assinem a petição.

a vedeta

simples. eu sou simples. protagonista dos meus filmes, bem disposta e efusiva quando o vento me corre de feição. mas claro, conhece alguém que o não seja? se sim, mente. e que divertido é, arranhar as paredes dos dois lados a ver qual cede primeiro. mas claro que cede. acabam sempre por ceder. se souber fazer as coisas, obviamente. surjo assim sem se dar por ela. por mim . uma comichão que se tenta ignorar mas que saltita de vez em quando. acabarão por ter de coçar . vai-se devagarinho em discreto. como as cicatrizes que se queixam do tempo. oh, lá estás tu dor, ainda não te foste embora? não, ia lá agora se aqui estou tão bem. sou assim qual doença urbana, rastejante, temperamental e fulminante . com paciência e olhar cínico perdão, clínico. se não espirra, há-de tossir. eu tenho é de saltar cá para fora em tcharã. andar assim modestinha e encolhidinha, ai de mim , até deitar a unha bem arranjada de fora. com um inocente relampejar de pestanas que por acaso atordoa. já se sabe:

é ali

que no momento antes de tudo está escuro e não sentes nada mais que pequenos arrepios dormentes. que tudo te passa pelos olhos sem te recordares exactamente do quê. então abres caminho e as luzes. e o frémito de queres mais e mais, de tomares conta daquilo, e de aquilo tomar conta de ti. choques eléctricos. passam a voar, arrancam-te a pele que sobra e levam-na para fazer casacos. estás ali em carne viva, o sangue a escorrer pela madeira gasta. e uns olhos vagos postos nos teus, no que dizes, no que mexes, na voz que dás. cuidado para não pingar, não te podem ver a esvair em sangue, enquanto tentas agarrá-lo o melhor que sabes. não podem ver que carregas também essa tua aflição do sangue na contagem decrescente para voltares ao escuro. só te podem ver a ti, brilhante e fugaz, nessa figura triste de sorriso contente. e tudo não passa agora de uma penumbra, de um fumo de cigarro pós-coital que já foi consumido antes de entrares nessa modorra cansada, alagada satisfeita. olham para ti com

gentes : ligue os três pontos com linha azul

passo largo ritmado de passeio. shuffle no leitor na lateral ainda bate o sol. fatos novos, linhas sóbrias, tailleurs, lencinhos ao pescoço, stilettos, preto, azul escuro, cinza, malinhas de mão. apanhados práticos, escadeados, brincos pequenos. verniz rosa transparente, manicure francesa. laptops. PDAs. alianças. agendas. a amiga de rabo de secretária em dieta, a amiga magra com o pastel de nata. argolas, fivelas. pilates. já viste o meu telemóvel novo, já ouviste dizer da Isabelinha, não sei que faça àquele miúdo. ângulos rectos, narizes para o céu, movimentos angulosos, direitos, directos. cheira a laca, a loção de barbear, Chanel, bmw. a primeira sapataria barata. atravessar para a sombra. calças de pinças coçadas nas bainhas, saias largas e turbantes. chinelas e saltos compensados. calças demasiado justas, pneuzito de fora, sapatos de descanso. sacos de compras com rodas. xadrez com riscas, meias de losangos, casacos de malha largos, xailes. cabelos lambidos, rabos de cavalos, raí

grumpf bah argh grrau

quem tiver o meu "Despertar da Mente" que se acuse. já não se pode ser querida e querer partilhar os filmes da vida... ó raça ingrata de amigos da onça... raisparta... obrigada, menina-limão , pela ideia. sempre se poupa em telefonemas. a ver se resulta ;)

petição - propriedade intelectual

porque neste momento são os artistas que estão na berlinda lá para os lados de São Bento. porque somos explorados por todas as formas e feitios, apesar de ninguém se parecer importar com o facto de não podermos ser oficialmente desempregados, mas eternos "entre projectos a recibo verde mas que têm de pagar segurança social na mesma" - e agora querem tirar-nos os nossos direitos de propriedade intelectual. porque muita coisa está errada e ao menos uma assinaturazita online não deve custar muito a fazer. deixo aqui o endereço de uma petição que pode ser do vosso interesse analisar e subscrever [ou não]. os artistas até são considerados intelectualóides e tudo. já que temos a fama, que continuemos a ter o proveito, não?

antes que se desvaneça

pode ser que não dure, mas as coisas boas são para se gravar. para tatuar e lembrar no que dão tantas dores e tristezas. que fique aqui registado, antes que as garras transparentes voltem a atacar-me, antes que outra praga caia sobre esta casa, antes que chova, antes que venha uma tempestade de areia sabe-se lá de que buraco, antes que o tapete volte a sair-me de debaixo dos pés. antes que porque há sempre mas antes de tudo, que se registe aqui um momento, um meu momento de sorriso rasgado, de felicidade extrema. um momento fútil, podem chamar-lhe. ou demasiado comum para tanta gente. mas é um momento como eu não tinha há mais de dois anos. como nós não tínhamos há mais de dois anos, em que contámos, pensámos, ponderámos, hesitámos e evitámos. hoje houve lágrimas e vontade de gritar que é para já. foi empilhar nos braços contentes. assim, sem olhar para o lado, sem pensar alto, sem perguntar e se hoje fomos à Fnac. e enquanto os Clã cantavam ao vivo, comprámos 3 livros, uma colecção de

notícias do outro lado

o outro natal o dia em que encontramos o cenário, os adereços, os figurinos pela primeira vez. nesse dia reinventa-se tudo o que se criou até agora, com o novo peso, a nova forma. solta-se a fúria nas tábuas velhas, desgastadas, com pouca alma para além daquela companhia que as habita seis meses por ano. aqui estou, a cantar em tons de blues sobre dentes podres... fotos de carina_menina violação em massa M., entre tantas outras personagens de uso exclusivo em brincadeiras entre amigos criou A Violada . pode parecer ferir susceptibilidades mas não é mais do que um disparate bem-disposto, com direito a caretas e risos, que vai coleccionando fotos de auto-violações nos sítios mais estranhos, nas oportunidades mais raras [e toda a gente se pode juntar a este movimento, é só mandar as suas fotos por mail...]. assim, no momento em que nos apercebemos realmente da figurinha que íamos fazer ao cantar sobre a pobreza no mundo vestidos de legumes, resolvemos entrar em histeria colectiva. e, clar

dois minutos

faltam para sair daqui. vou voando nas teclas brancas, a olhar para o monitor da maçã. o último post desta torre de marfim no centro daquela a que chamam petulantemente a cinecittà portuguesa. a ver o tempo escorrer e sem saber bem se me faz falta. o passeio dos cheiros, é o que me ocorre. primeiro das árvores frescas do jardim, do nevoeiro espesso que não apetece saborear, dos bolos da pastelaria, do cimento fresco da loja em obras, da serradura, dos ares condicionados, dos fritos logo de manhã. as pessoas: a senhora que treme, o japonês que pinta sempre as mesmas imagens, o sr. Oliveira do quiosque e as suas piadas com chávenas, a senhora indiana dos jornais de sotaque cerrado, os empregados doces do Doce Real, o bêbado com o cão, a velhinha com o outro cão velhinho, a rapariga drogada e o namorado arrumador, o outro arrumador de óculos e discurso ainda fluente, o brasileiro do restaurante onde há o melhor bacalhau à lagareiro da cidade, o moço do banco. e a minha janela. os cigarros

malas aviadas

é inacreditável como dois anos e tal de trabalho se resumem a um saco de plástico com meia dúzia de bugigangas lá dentro: caneca para o café que nunca bebi (porque a máquina foi deixada ligada e estragou-se - e uma nova era demasiado cara), copo para as canetas, dois isqueiros bem feios e pesados para não mos roubarem, o respectivo gás, canetas compradas para escrever o mais depressa e perceptivelmente possível, lapiseira e minas, cadernos e agendas escrevinhados de uma ponta à outra, cds com coisas que fui acumulando no computador, uma pasta que usava para produção "no campo", postais que eu colava na parede, uma caixa de madeira que já teve chocolates, os eternos recibos verdes, pensos higiénicos e uma caixinha de lata com aspirinas. debaixo do braço, se aguentar com tudo, segue um rolo com os mupis das peças que produzi. para amanhã fica apenas o último caderno. dois anos e tal arrumam-se nos 5 minutos que a colega tirou para ir à casa de banho. não contei com o nó na garg

alcatrão

disse para mim mesmo: não. isto não. e o pragmatismo caiu-me aos pés, ficou a mirar-me lá de baixo, do chão raspado, enrolado nas pernas da maca para não cair nos solavancos. era o cabelo. espalhado na miséria de almofada, soltava o teu cheiro e o que eu adivinhava ser a tua textura. emanavas dali, daquele corpo inerte, apesar de não seres tu. e eu só podia olhar para os monitores e ver aquilo a esvair-se. via-te a ti a esvaíres-te. puxava o cérebro para o comando das operações, tinha de estar alerta e no entanto duvidava agora de quem precisaria mais de medicação. delírio, confusão. vi os teus olhos raiados de verde naquele rosto pálido de olhos baços castanhos, revirados. vi-te. a surgir na rua que o meu sonho recorrente desenhava numa geometria apurada. uma rua que nunca vi na vida, mas ali era a minha rua. a única rua que interessava. porque estavas lá todas as manhãs, perto da hora de acordar. caminhavas para mim em passo lento e encostavas-te a mim. do que mais gostava era da min

simplex, pastilha!

o simplex supostamente simplifica. há um ano atrás, quando me roubaram a carteira, passei um dia no parque de diversões do estado que é a Loja do Cidadão mas consegui fazer quase tudo [continuo sem cartão de contribuinte porque de cada vez que lá vou as Finanças têm o sistema em baixo]. agora, um ano depois, a história repete-se, desta vez com o namorido , que desastrosamente perdeu a carteira no nosso subúrbio encantado. que se revelou não tão encantado porque a carteira [apesar de também vazia de tudo excepto de documentos] não apareceu. se há um ano atrás, entre filas e momentos de humilhação a implorar por um rasgo de inteligência e compreensão aos funcionários, as coisas se faziam num único prédio - escada acima escada abaixo, com muito dinheiro, originais e fotocópias -, em praticamente 365 dias o simplex complicou. senão vejamos: para pedir o B.I., agora a coisa não vai lá com a certidão de nascimento. além deste maldito papelinho [que tem de ser tirado na Fontes Pereira de Mel

schmooze

v. intr. to converse casually, especially in order to gain an advantage or make a social connection. "to chat intimately," 1897, from Yiddish shmuesn "to chat," from shmues "idle talk, chat," from Heb. shemu'oth "news, rumors." Schmooozer is from 1909. ganhei um prémio, o prémio do Schmooze [santinho]. diz esta senhora que eu schmoozo muito. que tenho o chamado poder de schmoozar. lendo a definição de schmooze do dicionário , concluo que terá a ver com, vá, conversas da treta, mas daquelas que sabem bem. depois diz ela que devem nomear-se outros, mais ou menos num obrigadinhos por vir cá meter conversa com a pobre blogger abandonada. aqui a pobre blogger abandonada anda a portar-se mal. escreve pouco, poucos nadas inundam esta paginita virtual. daí o abandono da caixa de comentários. sabendo que no mundo do teatro não há justificações, mas que no mundo da vida elas existem, cá vai a minha desculpinha: agora tenho dois trabalhos. s

mimi...

ainda sobre o canto , e descobrindo no blog do meu Mr. Bojangles a perfeita ilustração da situação - por alguma razão somos irmãos gémeos -, roubo-lhe o marreta e mostro ao mundo como [também eu] me sinto quando tenho de, vá, chamemos-lhe "cantar"...

hoje à noite

cine-lençol. filme projectado à antiga, num [para quem não tinha percebido] lençol. no meu jardim preferido. eu acho que vou regressar aqui ao Príncipe Real esta noite, trazer umas almofadinhas e uns agasalhinhos e ver o que me espera. às 21h. toda a informação aqui ... obrigada Público [o jornal]

da voz

para mim, há algo de tenebroso num estúdio de gravação. apesar de ser a minha casa quando faço os bonecos [e aí ninguém me pára], quando se trata de fazer música com a minha voz, parece que o meu mundo está a sofrer um tremor de terra. e os meus sons saem aos saltinhos. e não me salvam mezinhas, propolis, euphons, chás de perpétuas roxas, copos e copos de água ou exercícios de respiração. não me salva vizualizar-me sozinha no carro com o velho cd do Chicago aos berros e eu a fazer coro com a Zeta-Jones. é que ali ouço-me... e a fantasia vai ganhando forma, porque estou a cantar uma coisa meio Broadway, e já estou num palco escuro com uma cartola e com o follow spot em cima e o público está ao rubro e a minha voz sai densa e intensa e... pimba, a nota sai ao lado, não consigo fazer a ponte para o maldito - agudo - tipo - dedo - no - chamado - orifício. e então vejo as caras do outro lado do vidro duplo, vejo-os mas não os ouço e por isso penso logo que não têm mais nada para fazer qu

vela

isqueiro ou fósforo. cera. bruxinhas. vento e ventania por dentro. conversa de olhos nos olhos. assertividade. franqueza. fraquezas sem vergonha. depois o vinho, o brinde, a alegria, a verdade de um salto sem rede mas com vontade. revelações. revoluções. o meu corpo terá de reaprender a dançar. a minha voz terá de reaprender a musicar. a minha caixa de sentimentos terá de ser reaberta. hoje foi o meu último dia inteiro na janela com vista para o Príncipe Real. vou fugir. o vento não me levou com ele mas soprou-me um pouco de ar. enfunou-me as velas. vai-se devagarinho, de cabelos nos olhos. e braço dado com os amigos. obrigada a todos. não me deixaram cair. não vos irei desiludir.

ventania II

montagem a partir de fotos de espanta-espíritos depois da queda, os braços, doridos, que me agarram. sempre eles. pisca para a direita e agora não vamos para casa. hoje a terapia não será papel de parede. e o tempo arrefece e as árvores que também abraçam. a terra dos feitiços. segue-se o labirinto e deixo que quem conhece aquelas artérias nos navegue pelo sangue verde de asfalto e silêncio. aos poucos o encanto vai descendo, à medida que subimos. subir até ver as nuvens a cair. não pairam, rodopiam, entram pelos ramos e chamam. e ali não há sol nem calor neste pleno verão tão tremido. no reduto, no local secreto que me dás. está ali, como da outra vez, todo o meu estado de espírito. se antes havia luz, azul e vista limpa, hoje não se vê nada. o vento vergasta, uiva, puxa e empurra, faz de nós joguetes de vontade, que sim, chegarão lá acima só porque querem ou seriam derrubados num sopro. equilíbrio precário. frio e adrenalina que não dão espaço ao fraquejar da carne. rajadas que nos c

sorriso-tupperware

imagem montada por mim a partir daqui , com foto deste senhor alô? estou, estou aqui. não. não sei. vais ou voltas, adias e afinal tu não és bem tal e qual. mas eu aviso, prometo que aviso. apitou? sabes, é que há outras coisas em jogo e a tua saúde mental não entra na equação. cartão "saia da cadeia". pois, deve ser. espera. desespera. preocupaste-te? sentes-te ridícula, tanta pena tiveste, tanto medo de fazer mal, de tudo ser em cima da hora. medo de estar nas tuas mãos. deixa-me rir. esta história só pode ser tua. espera. mais logo. espera, agora só amanhã. garanto-te. nada garante é que valha a pena. até foste melhor mas não vale a pena. sentes-te ridícula? queria ser daquelas que não deixa margem para dúvidas. mas devo ter uma margem. dessas das dúvidas que todos têm, que tudo é diferente no que toca a ti. não és suficiente. nunca foste. isto é estranho, nem sei o que pensar. como me devo sentir? não sei. ah não? pois, temos pena. ao menos isso, temos pena, podiam dizer

ventania

saio em reboliço e lá fora o tempo azul brilhante parece de acordo comigo. rebelam-se folhas em círculos, pairam sacos de plástico, o meu cabelo já acompanha a dança. o vento levantou vôo. está a estender-me a mão. são noites brancas, a preparar as asas. tenho medo que estejam enferrujadas, tenho noção do agora ou nunca, entre o desespero de querer fugir e o terror de já não saber como se faz, espero ser forte e conseguir apanhar a próxima rajada. não quero magoar os teus braços com uma nova queda, nem desiludir o vento que me espera. acima de tudo, quero saber que ainda consigo voar. imagem de Maria Flores e Fernando Figueiredo, resgatada daqui

granada sem cavilha

o telefonema chegou. e pôs-me entre a espada e a parede. interrompo neste momento a emissão para um escarcéu vergonhoso de auto-comiseração porque é que comigo tudo é assim? porque é que as coisas me saem das mãos e me chegam feitas ultimato, e me obrigam sempre, sempre, sempre, a fazer o que não quero? não se pode fazer isto às pessoas, eu não sou assim, eu não funciono assim. não quero maus ambientes, não quero que me olhem assim. outra vez não, não tenho forças. porque não têm razão. eu não quero que seja assim. mas nunca vão saber isso porque o que é, é o que aparece. pensa em ti, pensa em ti, lixa-te nos outros. não. pois. sim. terá de ser. não posso rebentar mais comigo. e agora tenho na mão a granada sem cavilha e só tenho de escolher para onde a atiro.

agulhas de crochet

são pequenas rendas de imagens, que me surgem à velocidade dos dedos da minha avó a fazer crochet, com aquela agulha retorcida na ponta e gestos hábeis de quem se esquece da idade no passeio pelas linhas brancas. era assim que me aparecia aquela dança e eu muito atenta aconchegava os óculos de massa cor de rosa - éramos tão pirosos nos idos 80 - na cana do nariz e absorvia o "vês, é assim, passas por aqui e dás a volta" e eu de língua de fora passo por aqui e dou a volta. depois é a minha mãe, agora aprendo a fazer malha, e o barulhinho suave das agulhas que já não são retorcidas a roçarem uma na outra e a lã a queimar-me o pescoço porque me entusiasmo e vou por ali fora até quase estar enforcada na minha obra de arte que nunca chegará a ser mais que um semi-cachecol preso a um pau de metal. assim se desenroscam os novelos da minha ideia, maldita a hora em que o homem e a mulher são animais racionais, só pensam quando não devem, no que não devem, eu, animal racional com fanta

na alegria e na tristeza

esta manhã, a caminho do trabalho - uff, ter ataques de choro logo de manhã é chato. fica-se sem forças e ainda nem começou o dia. - mas limpa-te a alma. ficas mais leve. hoje pelo menos estás mais animada que ontem. - achas? - sim. ontem estavas com cara de gases.

connect the dots

imagem de Quino , obviamente. acordar todos os dias com o nó na garganta. deitar todos os dias num pleno vácuo de força anímica, esgotada em ansiedades. entre cá e lá, não me encontro em lado nenhum. um lápis, de carvão macio. que me junte, finalmente, os pontos. transforme as reticências em linhas sinceras. e me trace os caminhos na palma da mão. eu depois preencho os espaços com tinta da china e aguarelas de cores vivas. I'm Jack's inflamed sense of rejection

bajji

não tenho por costume fazer posts ambientalistas, excepto quando me chateio com o trânsito. mas hoje ouvi na rádio que o golfinho branco desapareceu. assim. não há mais. morreu o último, no prato de algum chinês que não gosta de chop suey de galinha. ou de crepes de vegetais. ou de arroz. e aquilo fez-me impressão. doeu cá dentro. não sei se, por achar muita graça a esta espécie, a coisa não me terá afectado ainda mais, confesso. o que importa reter é que os golfinhos brancos andavam por cá há 20 milhões de anos. e um senhor predador, mais jovem do que todos os outros predadores dos golfinhos brancos, conseguiu acabar com eles sozinho. e por puro e simples capricho - não foi de certeza por não ter mais nada para comer... por acaso o senhor predador até é omnívoro. apesar de pensar que tento dar o meu pequeno contributo para aguentar este nosso mundinho por mais uns tempos [carro "verde" e utilizado só em casos de real necessidade, reciclagem, sistemas de poupança de água, ban

sweet fifteen

segundo este teste , tenho um corpinho de 15 anos e vou viver até aos 86. isso explica muita coisa, inclusive a medida do soutien... eheheh através do caríssimo frutos de sombra

família feliz

sentam-se falando alto, de comida. a mãe é enorme e tem a voz aguda. parece "uma bola de berlim com um berlinde em cima". a filha é um ser sobrenutrido de sobrancelha farta e testa curta, com "corpo de trintona com 2 filhos" mas que gosta do Noddy e do Ruca. o senhor, que não parece ser o marido|pai, é grisalho e usa pólos brancos com uma risca e bolsinho no peito, à antiga. dá cotoveladas brutas na rapariga, mostrando que é um velhadas-à-maneira, percebe de tudo e da vida de todos e nada o impressiona. atacam uns bitoques oleosos enquanto discutem não sei quem, que está gordo e devia ter cuidado. diz que não era assim, que foi depois de largar o futebol. mas tem de ter cuidado com o que come, caraças, já não é novo. entrementes o senhor comenta que não gosta do Macdonas, que não é pessoa de ambrugas nem de sande. só assim para ir para a praia é que o convencem à sande. a moça atalha que até gosta do Macdonas, mas não vai muito. a mãe torce o nariz. nada bate a comi

salvar a pátria

a colega - que é a que trata dos dinheiros e pagamentos - andava atrás dele com o livro de cheques desde a semana passada. a resposta já podia gravar um disco: "hoje não me apetece assinar nada". a colega ia de férias durante 15 dias. na sexta-feira a cena repetiu-se: não lhe apetecia - ao outro - assinar nada. nem mesmo os nossos cheques - cócegas no meio de ivas e i-érre-cês. lá foi ela de férias, deixando-me o nib dela para lhe fazer o depósito do ordenado e, claro, a lista dos pagamentos a fazer quando se soltassem os apetecimentos do outro. o meu habitual "mas eu sou de letras" sacou uma gargalhada na despedida, um encolher de ombros cúmplice e dorido de uma batalha mensal sempre igual, mas de pouco mais adiantou. hoje ele chega-me a suar muito, conta histórias de como o chão da casa dele ferve. rimos todos. ele diz que quer comprar uns sapatos. os meus alarmes disparam, isto é um sinal de pairanço [ s.m., forma de estar do patronato num escritório quando há p

a história verdadeira

era uma vez uma formiga e uma cigarra que eram muito amigas, apesar de terem feitios muito diferentes. no Outono, a formiguinha trabalhou incansavelmente, a armazenar comida para o Inverno. não parou para descansar, não aproveitou os fins de tarde nem o pôr-do-sol, não esteve com amigos, não se foi divertir... já a cigarra passou o Outono na rambóia: ele era festas, estar com os amigos... andava sempre de guitarra debaixo do braço e toca de cantar em todo o lado e divertir-se comme il faut . chega o inverno e a formiguinha lá vai para a sua toca quentinha e confortável, recheada de provisões. está ela a ver se descansa um bocadinho as pernas quando batem à porta. é a cigarra, que lhe aparece num lindo casaco de vinil todo pimpão, guitarra debaixo do braço, óculos escuros e lenço na cabeça. - então! tá-se? - pergunta a cigarra - tá, tá. - diz a formiga espantada - e tu, como estás? - fofa, vou-me pisgar por uns tempos e precisava que me tomasses conta da toca. regar os bonsais, ver o co

etiqueta 1.0.1.

não pedir a uma pessoa a quem pagas por mês um quarto do que recebes por semana - de outro sítio - para fazer o teu trabalho... desse outro sítio. confuso? pois, deve ser...

na soleira da porta

perdi os olhos no rio, à minha direita. perdi-me. em cogitações sobre os efeitos da luz do entardecer na água. como parecia uma amálgama de recortes de papel de alumínio colados com cola de batom UHU, no chão, para reflectir o céu. perdi-me nisto tudo. só no fim do percurso me apercebi que o meu corpo se recusara terminantemente a virar-se para a esquerda, a encarar as luzinhas bonitas da cidade do outro lado. a encarar o regresso. acordei e vi uma nódoa. por mais que a esfregasse não saía e uma aflição tomou conta de mim de tal forma que chorei. chorei por uma nódoa e cheguei atrasada. recuperei e esvaí-me a um só fôlego, parece-me. ou não me consigo reservar espírito para os dias úteis-inúteis. a ordem das coisas está ao contrário, isso é certo, mas o inconformismo desgasta-me e, mais uma vez a um só tempo, não consigo ser de outro modo. fazes-me falta. há demasiado tempo que não te tenho, que não me tens. faz-me falta o teu cheiro e as nossas noites longas. o esforço, o suor, e os m

humming

promessa cumprida, para uma amiga. pinta de artolas à parte [inimitável], agora já sabes o que andámos a cantar naqueles loucos 4 dias ;) I’m gonna sing this song with all of my friends and we’re I’m from Barcelona Love is a feeling that we don’ t understand but we’re gonna give it to ya We’ll aim for the stars We’ll aim for your heart when the night comes And we’ll bring you love You’ll be one of us when the night comes I´m from barcelona | we're from barcelona

volver

três mil e sessenta e nove quilómetros, quarenta e cinco horas e quinze minutos de estrada. cinco etapas, ao longo de quinze dias. o asfalto comprido, os ventos, os cheiros, os mosquitos, os ataques dementes dos condutores espanhóis, a curiosidade por uma casa caber em dois pares de alforges e em sorrisos felizes apesar da distância. uma pequena cidadela com uma praça curiosa, rodeada de história e um teatro secular, o mais antigo da zona ibérica. igual ao que era, tratado como devia ser. o primeiro café-bombom e catalana do itinerário. os caminhos de Dom Quixote. e um só moinho. a aldeia perdida na montanha, a casa no campo, a praia, o descanso, a família, as guloseimas, as agua-cebadas, os percalços, a aflição e a determinação em seguir caminho. os picos, a areia. rincón de santi. a entorse. o mar da minha infância, ainda quente, ainda turquesa. vambú. noche hache, caiga quien caiga. breathe. crisis-is de celulitis-is. gilipollas! a primeira metrópole do caminho. um sorriso às sarda