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é ali

que no momento antes de tudo está escuro e não sentes nada mais que pequenos arrepios dormentes. que tudo te passa pelos olhos
sem te recordares exactamente do quê.
então abres caminho
e as luzes.
e o frémito de queres mais e mais, de tomares conta daquilo, e de aquilo tomar conta de ti. choques eléctricos. passam a voar, arrancam-te a pele que sobra e levam-na para fazer casacos. estás ali em carne viva, o sangue a escorrer pela madeira gasta. e uns olhos vagos postos nos teus, no que dizes, no que mexes, na voz que dás.
cuidado para não pingar,
não te podem ver a esvair em sangue, enquanto tentas agarrá-lo o melhor que sabes. não podem ver que carregas também essa tua aflição do sangue na contagem decrescente para voltares ao escuro.
só te podem ver a ti, brilhante e fugaz, nessa figura triste de sorriso contente.

e tudo não passa agora de uma penumbra, de um fumo de cigarro pós-coital
que já foi consumido
antes de entrares nessa modorra cansada, alagada
satisfeita.

olham para ti com olhos de choro que lá no fundo é uma pitada de sofrimento afogado no orgulho - porque as melhores receitas têm sempre um ingrediente secreto, uma pitada de qualquer coisa que só tu sabes.
- é mesmo ali, não é?
é.

Comentários

intruso disse…
aqui.
lá.

("figura triste de sorriso contente")

bj
MPR disse…
Arroz com feijão e bife com "batata frita"!
colher de chá disse…
sim, é mesmo ali. ;)

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