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Mensagens

A mostrar mensagens de 2009

crise no peito

hoje recebi um postal que me doeu no peito. a crise em Espanha é tão real que já não se bebe café. e os meus tios, donos de um café, não podem, por isso, vir passar cá o natal este ano. pela primeira vez em... sempre... a casa vai estar mais vazia. só nós. nós, sós. só. se calhar não se justifica o bolo-rei. nem talvez a lareira. e a conversa solta perderá as vogais abertas e adocicadas. não vai haver o momento da corrida para o quintal para ajudar a descarregar as malas, e embrenharmo-nos no perfume forte e na gargalhada da minha tia, nas bochechas frescas e olhos enormes da minha prima, na pacatez sossegada e brincalhona do meu tio. não se afogará a distância de quase um ano num prato de presunto com 1000 quilómetros, cortado por mim com a língua de fora. inspiro forte e atiro-me à costura. as prendas não se poupam só pela distância. em breve, no correio, um embrulho grande com um bocadinho de amor alinhavado na nova máquina de costura. um feliz natal para quem está desse lad

balançar

não gostei de dar por mim a fazer balanços quando pisei a terceira década. de que serve encostar-me à ombreira da porta e olhar para a sala a ver o que lá está e o que sempre pensámos que por esta altura já devia lá estar? sabemos bem que o que está foi o que se conseguiu, que luta não falta por estes lados. ponho de lado esses balanços e enveredo por outros, que o que me faz falta é rir. nesta vida que se me apresenta, há sempre factos curiosos... ainda posso fazer compras na secção juvenil, mas quando acho que algo está mal, ainda armo arraial como se tivesse 2 metros de altura ainda não tenho celulite apesar de já estar na idade de usar creme anti-rugas, ainda estou a lutar contra o acne eventual ainda sei de cor grande parte da primeira peça que fiz há... uns bons 10 anos. mas não sei o que é que comi ontem ao almoço. (bem, se calhar foi porque não almocei) com meia dúzia de anos de vida nas dobragens, já dirigi uma boa dose de dinossauros com resultados extremamente posit

elo

o regresso a casa faz-se de passos inseguros de quem não toma as coisas por garantidas. são séculos debaixo dos pés. são vidas na roupa. são palavras que se atropelam à saída. há um sorriso familiar da parte da tarde, há gargalhadas a que já tínhamos esquecido o gosto. o corpo frio, falta de treino, estende-se para voltar ao elástico destes dias de pedras amareladas. tem-se como prenda um encenador que fica e ri. as articulações doem, estremecem. e a vaga lembrança sorri, cansada: amanhã há mais...

5º aniversário

este meu bloco de notas nasceu a 11 de Outubro de 2004. não te arranquei páginas, não te-me escondi, rasuras e tudo, como eu cicatrizes e tudo, o que foi foi para ser o que se é. mudas comigo sem mudar de sítio porque assim sou eu, não fujo, fico, bato o pé e quem vier que venha por bem ou leva porrada.  polegada há-de ser sempre polegada porque vire por onde virar serei sempre polegar e o meu mundo é uma amálgama de impressões digitais. para quem cá vem parar por engano, já vai sendo tempo: 1 polegada = 2,54 cm. boa viagem. para ti, que ficas, que estás, quero que saibas, e apesar da era do facebook ter chegado... gosto-te, blog. parabéns.

beautiful revolution

tirado daqui

primeiro amor e um punhado de neologimos

apaixonei-me por ti de caixão à cova quando tinha 9 anos. antes disso já me andavas a rondar. aprendi a ler e a escrever e a falar e isso libertou-me. devagar, em pequenos sabores no recreio, ao fim da tarde nos têpêcês em letra ensaiada porque nunca sabemos como há-de vir a ser a letra da nossa vida. sem medo do apagador, direita na cadeira, amarrecava-me para fazer a perninha do 'a'. e as regras todas de como se faz acompanhar o quê de nove, atrás de um bê ou de um pê vem sempre um mê. e eu praticava a letra, uns dias mais espraiada, outras mais arredondada: esfolei demasiado os joelhos para ser feminina, mas sempre gostei de batom, era assim, simples, podia ser-se tudo ao mesmo tempo porque há misturas que não fazem mal ao fígado. achei graça, dizia eu, a isto das letras, assim o caderno falava comigo e era eu que o punha a falar e sabia como dizer o que me ia na gana. ria-me muito. sempre me ri muito - é um problema que tenho, há-de dizer o cinzentista e o intelectual

os carros das eleições

quando era miúda, os únicos carros com música que passavam na rua eram, de facto, os carros dos partidos em época das eleições... e os do PCP e associações sindicais em qualquer época aleatória. por isso, vínhamos à janela, ver o carro enfeitado com bandeiras e "dizeres". não havia a chamada pegada ecológica e ainda se gostava do festival da canção e, portanto, das canções dos partidos - que, na época, ainda tinham partidos. eu entretinha-me a decorar as músicas e depois decidia que os meus pais tinham de votar no senhor que tinha a cançoneta mais mexida - coisa que fez corar de fúria a minha mãe um par de vezes e, se eu tivesse na altura um alter ego adulto, far-me-ia dar-me uma eficaz belinha na minha pessoa in [ingénua, inocente e infantil]. hoje em dia é outra fruta. a coisa de um carro passar com música não faz virar [muitas] cabeças, simplesmente calculamos que o dealer está a fazer o giro na nossa rua.

torre de marfim

a mulher cresce entre as insensatezes da vida. há chão que queria pisar. há forças que fogem da mão. o hesitante equilíbrio entre correr e ficar parado. o simples parece-lhe demasiado complicado, nada corre como nos filmes. ri-se e o amargo outra vez. retoma-se no espelho, de gestos certos mesmo que falhados e tira o dia do rosto. investiga-se para lá da moldura dos olhos e não sabe o que encontra. há vestidos pendurados na memória do querer, num quarto paralelo, entre os frascos de creme para a solidão. vêem-se nitidamente naquele lago de açúcar queimado. não são gavetas nem imagens confinadas, são espaços imensos de luz, janelas abertas e portas escancaradas, de vento contente rodopiado pelos passos de quem nunca está só. e quase ouve o tilintar de copos na sala. já vago e gasto, o som, de tanto o pensar. recua. está demasiado longe. já não se esforça tanto, sabe. já não pede ajuda, ironiza. convive consigo e basta-lhe que não lhe baste sem chorar. está crescida, seca, a menina. de v

da pausa

depois de meses de vozes, alheada do mundo, impôs-se uma pausa. enquanto esperava, fugi. sete dias na paz do Alentejo. amor, azul e fotossíntese. já vi pessoas, assim muito de quando em vez, mas já fui vendo as minhas caras. e continuo à espera que o trabalho resolva arrancar. pode ser que quando lhes der a vontade, eu já não esteja disponível. pode acontecer. porque hoje recebi uma mensagem: ensaios já quinta-feira. enquanto sim e enquanto não, fica aqui a promessa: tenho de voltar a escrever aqui. tem de ser. sinto-lhe a falta, apesar de não ter muito para contar...

a formiga avariada

sonho em australiano dobrado em português, com camisas havaianas e tudo. à medida que falam comigo no sonho, além de responder e viver o drama, dei por mim a corrigir batimentos. é o meu verão possível: ficar a ver praias e ondas e biquinis e bronzeados pelo ecrã, num estúdio escuro. pôr as palavras nas bocas dos veraneantes e mandá-los para quem está de férias poder comparar notas. o mar a sério, esse, vejo-o ao longe entre o glamoroso skyline dos prédios do Dafundo, quando venho à rua fumar um cigarro. qual formiga avariada, estou a trabalhar para lá do humanamente aconselhável no verão. e tive de recusar trabalho - comida - que me iria sustentar no inverno. amigos? nem vê-los. posso sempre aconselhar uma excursão ali para os lados do Dafundo, essa bela localidade. o que me vale? o namorido ter horários tão avariados como os meus, e os técnicos serem, de facto, os meus melhores amigos, e os actores serem tão extraordinários a gravar como são como pessoas.

crisis management

taquicardia de cada vez que toca o telefone, respirar é tarefa árdua no fio da navalha. erradamente, pensei que já estava dispensada de aturar depressões e bipolaridades, pensei que já tinha tido a minha dose, mas afinal ainda terá de haver espaço na paciência para o malabarismo desses tristes fados entre ftps, relatórios de erros, revisões, marcações, remarcações e gravações. a vida não tem tido banda sonora, de auscultadores nos ouvidos, olhos divididos entre imagem e letras, frases à letra e jargão especializado. a contrapartida é das 5 à meia-noite, com a melhor equipa que podia pedir, aprender - sempre - vendo fazer, indicando e corrigindo, agudos graves e entoações, rindo sem dúvida às dúvidas e enganos, fechados numa cápsula alheia às confusões. o bom trabalho faz-se com boas pessoas e pessoas boas. não há praia, não há sol, há café na esquina se houver tempo, mãos dadas na cama e correr para o próximo ponto. dentro em pouco o resultado estará à vista, escrutínio de público-alvo

entalada

estou entalada entre joguinhos políticos, bichos esquivos, roer a corda e lavar as mãos. pergunto-me se respire, se faça o que me manda o mau feitio: deixá-los desorientar-se enquanto vou para a rua ler um livro ou acabar de pintar o meu quadro. que me telefonem quando se entenderem, que me digam que já não precisam de mim quando nunca cheguei a poder fazer o meu trabalho, ou que me digam que o faça então nas minhas condições. ... esta última é só para me rir um pouco. não tenho paciência politizada, não gosto de jogos de anca, do jogo da corda. disse logo que os objectivos eram impraticáveis, perguntei - oh, inocente frontalidade - porque é que não deixam cair este projecto se não têm condições para entregar uma coisa de qualidade. porque sou competente para perceber o que é fazível ou não, raios me partam se não trabalho nisto há 7 anos e se as pessoas que se cruzaram comigo no plano prático não voltam sempre, com um "vai ser um prazer voltar a estúdio contigo". por isso nã

disco riscado

chega uma pessoa para gravar e está o outro pós-estampado com o braço do rato ao peito. tu queres ver que os bonecos vão ter ruído?

meias nos pés ou pretérito imperfeito

se há dias que parecem por dizer, é do incompleto pretérito imperfeito onde vives. onde te vou buscar para um pouco de festas no cabelo ou umas meias porque tenho os pés frios. os meus pés lembram-se de ti e o coração ainda te ouve cantar. apesar de já não me lembrar da voz sei que era aguda e trinada como nos filmes antigos e não me lembro bem mas era assim. e confesso que se me atravessa um grão na garganta. há papoilas lá fora. perderam-se da primavera mas fizeram-se à estrada porque as memórias não se esvaem do nosso mapa genético só porque o dia não trouxe sol. é um consolo pequeno mas é consolo da família do abraço de vento que sinto de vez em quando. não me sais do sangue e da lista das saudades e do riso de miúda pequena e das coisas que dizias que eu digo e que ainda me chamo ao espelho e da obstinação e do revirar de olhos silencioso de quando em vez. sento-me a conversar com os pés no teu colo. eu estou bem, sossegada, sossega, em dias azuis como tanto gostavas que eu tivess

paralelismos politicamente incorrectos

devo ter sido das poucas pessoas que em vez de pegar no carro na sexta e só voltar no próximo domingo a casa [isto se não espatifaram o popó nas filas de sexta à tarde], peguei no popó para fazer os 15 km que me separam da junta de freguesia onde ainda estou recenseada, para votar. qual senhor bigodudo pega religiosamente no cachecol, nas bandeiras e na geleira que a Maria encheu de jolas e que vai, ao domingo à tarde - ou à quarta logo a seguir ao trabalho sem passar na casa da partida - para a catedral do seu querido clube, gastar o dinheiro dos livros da escola do mais novo. devo ter sido das poucas pessoas neste pequeno bairro de subúrbio que ficou a roer as unhas até saírem os resultados da última freguesia, qual bêbado na tasca da esquina já no desempate por morte súbita, enquanto comentava de cigarro no canto da boca os discursos pedantes e desenquadrados daquilo para que foram efectivamente estas eleições, como quem comenta os comentários ao desempenho dos árbitros e os fora

say it with flowers

© mário sousa 21 de Maio a 6 de Junho . quinta a sábado | 22:00 Lux.Frágil com | Graciano Dias . Maya Booth . Rita Brutt . Miguel Moreira . Francisco Tavares encenação | António Pires texto | Gertrude Stein . tradução | Luísa Costa Gomes cenário | João Mendes Ribeiro . figurinos | Luís Mesquita música | Paulo Abelho . João Eleutério . desenho de luz | Vasco Letria informações no site oficial . espreitem o vídeo no facebook há coisas que me ultrapassam. não sei porque gosto. sei que gosto. muito. porque podia ser tudo o que detesto. podia ser frio, asséptico, plástico, estético e só plasticamente estético. podia ser só bonito. podia ser vazio para, como muitos que por aí andam, supostamente pôr-nos a reflectir sobre o vazio. o tal vazio bonito. mas say it with flowers preenche-me. não tem uma história para contar. tem algo de burlesco, algo de físico, de coreográfico e, acima de tudo, algo de químico. chamar-lhe-ia a boa e velha alquimia. a alquimia do sentimento sem descrição. mostra-

cansaço extremo

durante o dia, estou nas obras em casa de uma amiga. saio de lá para ir dobrar bonecos. volto para as obras. e ensaios a partir das 11 da noite... a estreia é já na sexta. e as mãos que sentem o tempo que vai escoando devagar, para o momento em que já não poderei fazer nada por eles...

koniec*

obrigada, Vasco Granja. apesar de agora eu ser a única pessoa no país a admitir (sem medo de calúnias intelectualóides) que na altura achava os bonecos checos uma seca. são, ainda assim, silhuetas vivas que guardo na memória de dias compridos de algodão doce. enfim, mesmo assim, sempre criança, a gostar de bonecos. a fazer bonecos. graças a si. *fim, em checo.

vida de artista

quando preencho a minha declaração de IRS, toda eu sou suores frios e tremores. há um ritual: duas pessoas lado a lado com máquinas calculadoras, somar todos os valores duas vezes para ter a certeza ao cêntimo, cinzeiro a abarrotar de beatas, não saber onde encaixar os rendimentos desta coisa estranha que é ser artista, ler em voz alta a "ajuda" e ficar com a sensação de que afinal somos analfabetos. depois fica aquele aperto na barriga, um misto de fraqueza e descarga de adrenalina e de "será que foi este ano que cometi a argolada mestra e me vêm bater à porta para me empalar e penhorar os meus dedinhos em praça pública...?" queria ser rica, só para não ter problemas com isto dos impostos...

da construção de uma personagem

há dias na vida de uma "dobradeira" em que aparecem personagens e situações fora do normal. não me refiro a cães ou monstros. refiro-me a isto: a profissional da voz pára, inspira e questiona-se profundamente. ao que soa uma amêijoa em pânico? como será a personalidade da a mosca paranasal 1, e ainda como será essa personalidade por contraponto à mosca paranasal 2?

um mano de cama

o serviço nacional de saúde tem destas coisas e só agora, uns... errr... dois anos depois da primeira crise é que o homem ficou com os olhos amarelos o suficiente para chamar a atenção dos médicos. agora já só operando, mas antes só esperando que a infecção estabilize. antes disso, a médica tinha de ir almoçar à uma e meia, por isso mandou-o para casa esperar por uma consulta no posto. agora já está de scrubs azul cuequinha, dieta zero no soro, droga legal e as manhãs da Fátima. [ai as dores, dona Fátima] já lhe levei o bloquinho e a caneta e convenci-o a ir-nos actualizado das suas aventuras com a vesícula numa cama nos Capuchos via sms... fico eu meio desorientada, com uma direcção de actores que só estava a resultar a quatro mãos. é que eu só tenho o dom da estalada e ele o dom de repetir o que já se disse mil vezes de uma forma nova e convincente... ai, que é dos Coen sem um? hã, mano Coen?!

valor

há algo de reconfortante no cheiro daquele mofo, naquela subida claustrofóbica torre acima, nas dores das escadas que nunca acabam, no arrastar das palavras em cuecas, na dança das partículas com arabescos de fumo. são os "já tinha saudades disto" na boca de todos, não só de um ou dois. depois de tão-só duas semanas de ausência. depois de seis meses todos juntos. sem [a]pesares.

a cadela fala e a dona canta

vá de nova série de animação, com estreia na RTP. vá. agora vá de ter de cantar... vá. chama-se terapia de choque ao bloqueio mental. de auscultadores nos ouvidos, a ouvir-me a mim e à voz guia, a ler uma métrica duvidosa e vai de suores frios. mas vai de fazer. olaré se foi. a ver se começa agora a minha carreira musical eheheheh

como seria de esperar

com as pressas e as atrapalhações e os gritos com o blogger, acabei por apagar as minhas listas de links. peço a todos os que estavam linkados e que tenham interesse em manter-se aqui na lista do lado mas que a minha memória abandonou, que me dêem uma grande reprimenda aí na caixa dos comentários... bah... [isto é... se é que alguém ainda lê esta coisa...]

limpeza facial

quis fazer uma limpeza facial ao polegadas. claro que, como não nasci para sopeira, isto não me está a correr de feição... portanto, apesar de o template ser do mais básico que há e já ter feito isto noutro blog , desta vez não estou a conseguir pôr a barra de imagem no topo do blog, nem o texto justificado como pré-definição, enfim... andarei de volta de html, tanto quanto o tempo me permite. entretanto vai ficando como está, liso, azul-céu e antracite. a ver é se recomeço a escrever mais frequentemente, caramba. se calhar é por isso que não me deixa inserir a imagem, está chateado comigo pela falta de atenção...

o sangue novo

ontem viajámos no tempo. devagarinho, primeiro de passos envergonhados. os olhos são os mesmos, terão apenas outras histórias para contar. os gestos e os abraços pareciam não ter conhecido mais um segundo. parecia que tínhamos parado no tempo, ou recuado mas no bom sentido. a ida e a volta e as pedras que nos reúnem sem podermos pisá-las outra vez. foi estranha, a sensação. mas familiar, quente e desenvolta. de pantufas, pode dizer-se. no chão empedrado mas de pantufas. com os fantasmas colados às costas. estávamos assim, como sempre e há tanto tempo que não. isso não devia ser possível nestas dinâmicas de grupo. pergunto-me como teria sido se tivesses deixado este sangue novo correr-te nas veias, nos corredores, sem medo de nós, percebendo que caminhávamos todos no mesmo sentido e com o mesmo respeito. com diferenças mas o amor intacto. onde te queríamos incluído. pergunto-me se pensarás nisso, lá longe disto tudo mas com essa aura pegajosa que deixaste que nos afastasse. que te menti

lndn . shortstop

Santa Apolónia . 13:45 com o befe bem assentado já estamos no pouca-terra. parte dentro de 15 minutos, está só a repôr o carvão. vamos no vagão da frente, a levar com o fumo... Oriente . 14:12 os iogurtes em promoção do Pingo Doce de Santa Apolónia são para consumir até Agosto de 2004 ou Abril de 2008... Porto . 18:00 sem congestão pelos iogurtes, paragem digestiva pelos preços da bica no magestic Porto . 18:30 em toda a parte encontramos gente. muita merda, M@nel :) Porto . 20:30 matraquilhos na sala de embarque, matraquilhos na sala de embarque, matraquilhos na sala de embarque! Ar . 21:40 bless you diazepam! Stansted . 00:20 não fuma, corre para o comboio. comboio vomitado. não fuma, mas também não respira. Lndn . Liverpool St . 01:50 autocarro de madrugada, de 15 em 15 minutos. cheio, utilizado. ah, isto é civilização. Lndn . Camden Town . 02:20 um homem já aviado pára em trip onírica a olhar para as bolas do meu casaco. outro está em movimento interno a olhar para um copo pousad

um fósforo

cheguei para o colo do meu encenador: "O senhor presidente entrou por aqui adentro e disse logo, antes de pôr os olhos na exposição da Agustina: vim ver a Puligari". risos. cumprimentar os amigos de sempre, que por acaso ou não, partilhariam a tela comigo . fugir dos flashes e baixar a cabeça nos discursos. e alea jacta est . a cadeira já doía no rabo, ainda nem íamos a meio. o senhor presidente velava-nos lá do camarote. aguardava-me, com certeza, ri-me. o fado de Simone de As Vedetas cumpriu-se em grande escala: ou puta ou criada, a criada já está. reconheço o ensemble da cena. enfio-me pela cadeira abaixo, sapatos adentro. os meus 20 segundos. o resto é o resto é o resto. cinema português é cinema português é cinema português. sair porta fora a rir à gargalhada, de coisas pequeninas se torce o pepino. puxam-me pelo braço. estavas tão bonita. como assim? ias tão bem! mas mal se vê. diz quem sabe - ou acredita - que a magia se fez nas pequenas coisas. não sei, mal vi, enfiad

Black Vox - histórias negras em teatro de terror

textos e encenação . Ana Lázaro, Patrícia Andrade, Ricardo Neves-Neves com . Ana Lázaro, Patrícia Andrade, Ricardo Neves-Neves, Sílvia Figueiredo, Vítor Oliveira vídeo . Dora Carvalhas curta de animação . Solange Santos e Mário Sousa [polegarfilmes] a partir do texto de Ana Lázaro Casa Conveniente | 6 a 15 de Março | todos os dias às 21:30 Teatro da Trindade | 29 de Abril a 17 de Maio | 4ªa a Sáb às 22h . Dom às 17h bilhetes . 7,5€ . normal | 5€ . para jovens até 30 anos, maiores de 65 anos, profissionais do espectáculo, grupos de mais de 10 pessoas, coveiros, talhantes e médicos legistas info e contactos: 964096484 | 913938899 | www.teatrodoelectrico.com chegada de Braga, passei a última semana e meia a recuperar um trabalho de 3 semanas que se tinha evaporado no éter digital de um velho programa de computador. quinta-feira à noite, depois de várias madrugadas e uma directa a trabalhar ininterruptamente [saindo apenas de frente dos fumegantes computadores para ir fazer espectá

trezentos e quinze quilómetros

vinte e um dias. já as malas vão de viagem, ainda me fico por aqui a deambular nos fios que me cosem ao meu chão. pouco me falta, nada me falta, já falta pouco. passo o dia na cama, deixo o corpo dormir quando quer, comer qualquer coisa nos intervalos. olhas-me sonolento e nessa lassidão recupero-me devagar. para o que me há-de desgastar. são demasiadas horas longe do meu porto, lá no Porto. vou-me desenterrando dos lençóis e pensando no que falta levar, as pontas soltas que não me apetece atar. recordo quem fica com um peso no coração, entre bolsas e bolsinhas livros e cartões de memória. se por cada bolsa mil beijos e um olhar cúmplice. depois de amanhã lá me solto, sem muita vontade, à estrada dos meus vinte e um dias. conto, sim, com as mãos de sempre que me farão companhia, este ano o Porto é nosso e o Artes em Partes e a Miguel Bombarda e Serralves e a Ribeira e pôres do sol na piscina. este ano, Bojangles, tomas conta de mim e eu tomo conta de ti, mostras-me o teu Porto que aind

depois da apneia

já com a órbita mais estabilizada, depois de tudo o que podia correr mal correr bem, depois de ver o meu pai de volta ainda meio grogue mas de sorriso em riste e cheio de fome, posso preocupar-me com pormenores. e depois de passar um dia inteiro num hospital, a fazer de conta que não estava nervosa, que até conseguia ler e essas coisas, posso declarar que devia haver uma nova lei: os senhores que fornecem ares condicionados para os hospitais deviam financiar a distribuição gratuita de anti-histamínicos a todos os utentes e acompanhantes. raistaparta, filhos da mãe que me puseram outra vez com o cérebro a sair pelo nariz, um peso de toneladas nos olhos e a voz toda lixada. assépticos, assépticos ma non troppo...

génios

quem foi o néscio que inventou a campanha dos Açores que consiste em deixar três vacas a apanhar frio e gases de tubos de escape [e um camadão de nervos*] em plena Praça de Espanha?! [*os senhores dizem que preveniram situações de stress, e as vacas não são Açorianas. já se sabe que as de cá já estão a Xanax há duas décadas]

agenda

ando desencaixada das horas que me rodeiam. demasiado, demasiado. preparar uma ausência e estar já ausente de onde não devia. mas estar presente onde posso, quando posso, que são as horas que me sobram do dia, as desoras da madrugada. para levar avante promessas antigas que calharam em prazos apertados, para recriar uma passagem de ano que não houve. entre compromissos, há o subentendido de presenciar descoordenações emocionais que me desgastam por osmose, tentar desligar-me para me manter onde tenho de estar. e tudo tão relativo. quase que dá para uma gargalhada amarga, ali, entre as três e as quatro. a cabeça estala. o cansaço deita-se cá dentro e aninha-se. e penso se aguentarei o mês da ausência, sem o porto seguro, e sem aguentar o forte que devia aguentar. e penso, sempre, que não estou agora onde devia estar. que tudo tem uma razão, mas que não concordo comigo.

a garrafa partida

cabeça quente, mãos geladas, terceira ou trigésima reclamação no banco, o vapor sai-me da boca, passos largos, não sinto os dedos dos pés. dois homens discutem. penso que talvez a típica disputa territorial dos arrumadores, sigo em frente. mas os meus olhos agarram uma mão que aperta uma garrafa partida. páro e alerto. ele tem uma garrafa partida. as palavras chegam-me vagas, um sotaque, um torvelinho entre os berros de um e os sussurros lunáticos do outro. queres-me matar? este é redondo e escuro, de casaco verde que deve ser pouco consolo neste frio. tem uma faca. o outro tem uma ponta-e-mola, aninhada no punho. o outro, de fato, gravata e cachecol mas cabelo desalinhado e óculos demasiado grossos, um olhar demasiado perdido, mais perdido, tem uma ponta e mola. percebo a garrafa partida. para arrumador de espírito enevoado de vícios ou só demasiado azar na vida, até teve presença de espírito. procuro um polícia. desespero, o frio a cortar-me os olhos e o medo que se corte algo mais

ano novo, peça... velha

dez da noite é sempre uma boa hora para receber uma chamada do antigo trabalho a pedir para ir lá amanhã fazer uma substituição. no dia em que tinha combinado com os novos colegas ir assistir ao namorido. assim, um quatro-em-um: sei que há sítios onde ainda faço falta e onde faz sempre sentido regressar, volto por um dia ao mosteiro e aos bons dias de camarim demente na torre, tenho público "amigável" e vou fazer uma personagem que nunca fiz. assim, do pé para a mão. há coisas que nunca mudam. aqui entre nós, que ninguém nos lê, ainda bem ;) vou para dentro. tenho de acabar de roer os cotos...