Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de 2010

os dedos de uma mão

feitas as contas, o que são. quantos são, afinal. os rostos, os suspiros, os sorrisos a que recorres quando olhos se encolhem de medo. aqueles que constam do álbum das tuas fotografias, do arquivo que não morreu. os que sabem o caminho. os que o fazem. conta-os. ou não. quando arrefece fazes as contas. sim, sempre. é do frio. mas conta, sempre agitas os dedos. e os que vêm quando pedes. ou quando o peito aperta. sabem-te? alguma vez te souberam? faz um exercício de não respiração. suspende, por um momento, o que vai e o que vem. fica-te com o que está. estás triste? fica-o. és tu, faz as contas. mas nunca foste grande coisa a matemática.

sorriso leste a oeste

tenho o peito cheio de coisas. coisas tantas e inomináveis. conto os dias e tenho medo e estou ansiosa por que chegue, por que vá, por que esteja, porque sim. não era eu se não fosse aos pedaços. desdramatizo respirando como me pediram para ensinar. sim, já ensinei a respirar quem me ensina aos poucos a lembrar-me de o fazer. reaprendo o meu peito, que desassossega de vez em quando, desabituado de ansiar assim. sem aditivos. e orgulhoso disso e com medo disso. mas é em frente sempre em frente, nunca fez tanto sentido. sorriso de leste a oeste. o sentido do sorriso. vincado, fincado, de pés no ar.

das modas

- boa tarde, queria um par de calças de ganga assim giras... - pois, olhe, temos aqui umas que já estão a tornar-se um clássico. skinny jeans. justinhas de alto a baixo, é garantido que se tem menos de um metro e oitenta e mais de quarenta quilos vai descobrir pneus que não conhecia e, portanto, ficar sempre com o super fashion ar de bola num espeto, sendo a bola o seu tronco e rabo, e o espeto as suas pernas. - ah... não tem assim mais nada? - temos também a nova moda dos bolsos de trás descaídos, disponível em todos os modelos justos. a par com a cintura super-descaída. o que acontece é que o bolso abaixo da zona da nádega vai fazer parecer que o seu rabo está mais em baixo, ao nível da coxa, o que portanto lhe vai dar um ar de anã desproporcional e flácida. o seu tronco vai ficar compridíssimo, as suas pernas vão parecer minúsculas. a cintura descaída consegue destacar cada abanão gelatinoso da zona abdominal, os seus pneus vão saltar! e não há cueca que se consiga vestir, ficam

terra molhada

não há cheiro que me dispa como o da terra molhada numa noite quente. despe-me e dança, devasso e lasso, brinca-me na pele em arabescos do sal que lá se esconde. fora saliva, mas fresca, lamber-me-ia sem vergonha. e o suor abranda-se. são estes pequenos momentos de paz, enrolada na brisa. são estes silêncios e músicas e.ternas. é a meia luz quente cá dentro e a lua azul pela janela. é assim que fecho as mãos antes que a sensação se apague. e perdura, agora.

check-out

uma sexta-feira, às sete da tarde, tiraram um género de dentro de um chapéu. não gostaram e tiraram outro. Mistério. levaram uma frase, uma personagem e um objecto obrigatórios. mandaram um e-mail para o outro lado do Atlântico e do lado de cá começou a espera. 3 horas depois chegou um texto, ligaram-se skypes e chats, distribuíram-se personagens, definiu-se o plano de trabalho, adereços, roupa e marcou-se uma hora para encontro no dia seguinte. a essa hora estavam lá todos, textos na mão. uns montaram equipamento, outros vestiram-se, maquilharam-se e ensaiaram. depois foi-se gravando, rindo, gravando, enervando, rindo. a avó Fernanda fez o almoço. às onze da noite foi declarado "that's a wrap" e deu-se o último aplauso no décor. depois foram para casa, uns dormir, outros editar, tratar som e imagem. às sete da tarde de Domingo, entregaram uma história com 8 minutos. na sexta seguinte, chegaram para ver o seu trabalho num cinema. ficaram contentes por o trabalho

retiro espiritual

wish me luck...

vai tudo a eito

Olá. aqui somos uns fixes, de brandos costumes, afáveis, garridos, pitorescos e temos uma comida do camandro. para não falar do cinema português, que é o supra-sumo da batata, a excelência do umbigo. aqui endividas-te para ter um LCD, um telemóvel topo de gama, ou o carro despesista que aparenta a opulência que nem sabes o que é. aqui não compras o jornal, compras o pasquim. aqui não lês livros, lês palavras já meio deglutidas para não dar trabalho a digerir - os medicamentos estão caros. aqui, os adolescentes passam de ano por saberem quanto é 5+2, e passam mesmo que respondam "cete", deus os livre de terem que saber o que seja para irem para a faculdade, porque o que interessa é mostrar à Europa que temos muitos licenciados. que os licenciados não têm trabalho é outra conversa. aqui, 30% das pessoas queixaram-se num inquérito, desgraçadinhas, que não tinham dinheiro para aquecer a casa num dos invernos mais frios de que me lembro. antes de puxares do lenço, fica a s

há algo que me rasga

agito os farrapos. esbofeteio o ar. estremeço. quão frenética me conheces? agora vibra. agora galopa. é suor? é sal. danço. Portishead - Chase The Tear from Mintonfilm on Vimeo .

algo

algo denso, escuro, escorre nas paredes. acumula-se de baixo para cima, espessando as paredes que incham na direcção uma da outra. algo crepita, vago, ao longe, uma cacofonia desencontrada, desconcertada. vai-se calando devagarinho, desaparece como aquela baforada de fumo no peso de uma manhã fria. é a sensação que fica. um eco, talvez. bata-se na parede e regressará talvez um sopro. pingado. não vale, assim não vale, é preciso barulho e já não há voz. desde quando é preciso nadar para se ficar seco? e quem gostava de, uma vez, ficar quieto? uma medida. de quantos passos se faz a claustrofobia. já se medem a dedos, não passos. seriam polegadas, eventualmente, no sorriso irónico de quem cá passa. e de quantos passos se faria o abraço. esses são largos, com botas de sete léguas. afastam-se. pois. afastam-se e o algo escuro e denso escorre goteja agarra-se e fica. já esse, fica. outro sorriso irónico. afinal, o abraço é a cura para a claustrofobia.

pequeno almoço

comme il faut.

coisas que me danam

esclareça-se: o teatro e a dança são artes vivas [como em "ao vivo"]. contando histórias ou não-histórias, vivem|existem da|na comunicação a outrem-em-massa [chamemos-lhe público]. devem ser, no final de contas, um serviço público não obrigatório e não são totalmente auto-suficientes. esclareça-se ainda mais: uma grande percentagem das companhias mais badaladas não põe um "ovinho" cá fora [entenda-se por ovinho, espectáculo] sem "choco" valente [leia-se por choco, subsídio]. esclareça-se que os subsídios vêm dos nossos impostos e são distribuídos de acordo com certos e determinados critérios de avaliação em concursos públicos [e não nos alonguemos por aqui, para eu não ficar com urticárias]. esclareça-se ainda que a maior parte das salas de espectáculos de Lisboa [convencionais] são pertença de empresas semi-públicas, públicas, ou das próprias companhias. a programação é efectuada com base em critérios de avaliação que... vamos encurtar - nos ultrapassa

credo

apercebi-me no outro dia, ao passar numa livraria, que a partir de agora só poderei comprar dicionários em alfarrabistas...

do alcatrão . actualização non troppo

queria actualizar o post anterior com mais novidades, notícias, avanços. mas depois do clássico " sacuda a água do seu capote ", as notícias cessaram. que isto de serviço público não é para o jornalismo. nem para o site da Brisa. era aterro, tinha problemas geológicos, mas afinal já sabiam disso tudo, mas ninguém foi ver porque a responsabilidade é sempre de alguém mas de ninguém em especial. já têm lá as escavadoras e continuam a ver se a terra continua a cair. agora esperem. sentados, na segunda circular. todos vocês, os 40 mil utilizadores.

do alcatrão ou a importância do tom

a A9 - CREL é, na minha vida, a diferença entre demorar hora e meia ou meia hora a chegar ao trabalho. um percurso entre duas zonas sem transportes públicos que as unam. na passada sexta feira houve um aluimento de terras na dita Cintura Regional Externa de Lisboa, de manhã. soube pela rádio que cortaram uma faixa, no sentido oposto ao que eu seguia. pensei... tudo bem, aquilo com umas vassouradas vai ao sítio até ao fim do dia, logo à tarde estou safa. estúpida. estúpida. no regresso ouço pela rádio - já tarde demais - que afinal já ia em duas faixas cortadas e 4 km de fila. e eu na fila. durante uma hora e vinte minutos. quando finalmente passo pelo "sucedido", vejo primeiro que tudo uma fila de uns trinta - não estou a exagerar - topos de gama lindos e brilhantes estacionados ao longo da berma. mais à frente um ajuntamento de uns trinta senhores e senhoras, de fatos de corte impecável, sapatinho bicudo, pasta no braço e mão no queixo, visual profissionalizado pelo

o bilhete

entraste, simplesmente. recortaste-te na luz contra a penumbra atrás de ti. a noite já se fundia no céu azul. o outono é assim. recortaste-te não pela tua figura imponente, mas pelo vermelho da gabardine, subitamente incendiado pelos néons do restaurante. olhaste em volta e em cada resquício de movimento li que o sistema da loja não te era familiar. estavas mais próxima, agora. encostaste-te ao balcão. levaste a mão ao bolso enquanto esperavas que a velha dos sacos à tua frente fosse atendida. tiraste um pequeno leitor de mp3 de marca branca e carregaste num botão. levantaste o olhar e o empregado esperava-te. esticaste o pescoço para a frente, levando os dedos aos phones e tirando-os dos ouvidos. fizeste o teu pedido. as bebidas são self-service. seguiste-lhe o dedo indicador espetado e dirigiste-te aos copos, de passo hesitante. uma cola. lá do fundo ele perguntava-te mais coisas. quer queijo? quer salada? a tudo respondias com um sorriso cansado. sentaste-te a comer isolando os olh