Avançar para o conteúdo principal

say it with flowers


© mário sousa

21 de Maio a 6 de Junho . quinta a sábado | 22:00
Lux.Frágil
com | Graciano Dias . Maya Booth . Rita Brutt . Miguel Moreira . Francisco Tavares
encenação | António Pires
texto | Gertrude Stein . tradução | Luísa Costa Gomes
cenário | João Mendes Ribeiro . figurinos | Luís Mesquita
música | Paulo Abelho . João Eleutério . desenho de luz | Vasco Letria
informações no site oficial . espreitem o vídeo no facebook


há coisas que me ultrapassam. não sei porque gosto. sei que gosto. muito.
porque podia ser tudo o que detesto. podia ser frio, asséptico, plástico, estético e só plasticamente estético. podia ser só bonito. podia ser vazio para, como muitos que por aí andam, supostamente pôr-nos a reflectir sobre o vazio. o tal vazio bonito.

mas say it with flowers preenche-me.
não tem uma história para contar. tem algo de burlesco, algo de físico, de coreográfico e, acima de tudo, algo de químico. chamar-lhe-ia a boa e velha alquimia. a alquimia do sentimento sem descrição.
mostra-me, contra todas as minhas resistências, que todo o género de teatro pode ser bem feito. desarma-me olhando-me nos olhos. ri, chora, salta, corre e cai. joga à macaca. descruza-me os braços e depois levanta-me a cara e pede-me um abraço.
o texto de Gertrude Stein não tem histórias. tem música feita com os sons das palavras entrelaçadas. e pronto, é isto. podia ser só isto.
mas através de uma sincronia de estranhos exercícios ou danças de cores e portas de vidro e espelho à vez e a música vibrante entrecortada e a língua que se enrola à volta das letras, 5 actores criam o mundo imaginário de António Pires. e há nele lágrimas a sério, e risos a sério e imagens fictícias de momentos de todos os nossos dias. que arrebatam. mesmo que as palavras não as contem.
é um exercício drenante, o de viver este espectáculo. é sensorial, na total abrangência da palavra.
é estranho gostar disto. mas foi-me estranhamente fácil gostar.
de facto, o Pires é o Pires é o Pires...

aconselho a todos, mesmo aos cépticos à freakalhada como eu.
a temporada - como de muitos espectáculos sem panelinhas - é curta. mas pode-se ficar por lá já a postos para o pézinho de dança.

Comentários

espantaespiritos disse…
há espectáculos que são tudo.
este é um deles.
intruso disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
intruso disse…
(não vi,
mas ainda vou a tempo)

bj


p.s.
Isolda pela Cnb/O.Roriz, a não perder
(integrado no 4 coreografos)

Mensagens populares deste blogue

sabes quando te revisitas e já não te encontras? não sabes o que fazer de ti contigo. as perdas têm sido valentes, as estocadas mais fundas. pensei que por agora a pele estivesse mais grossa, mas não. pensei que estivesse de pés assentes, mas há força nas pernas. perdi o meu pai. perdi o meu chão. espero por uma fase boa. em que esteja tudo bem, organizado. nem que venha depois outra ventania, mas um pedaço de vida em que tudo esteja no seu lugar. só por um bocadinho. mas não. as peças estão espalhadas, quando começo a arrumar umas, caem ao chão as do outro canto da vida. um empilhar de pratos num tabuleiro demasiado cheio, que não se tem oportunidade de ir despejar à cozinha. até as metáforas me saem avariadas, já. tabuleiros de cozinha é o que me sobra. isto são metáforas, certo? é um padrão, o padrão caótico da minha vida, que tento desenhar em palavras que já não tenho. quero despejar-me aqui mas não sei bem como. os medos continuam, sabias? estão piores, diria, porque...

q.b. de q.i.

como é sabido, neste centro de escritórios funciona também uma das maiores agências de castings do país. há enchentes, vagas de gente daquela que nos consegue fazer sentir mais baixos e mais gordos do que o nosso próprio e sádico espelho. outras enchentes há de criancinhas imberbes que nos atropelam no corredor de folha com número na mão. as mães a gritarem hall fora "não te mexas que enrugas a roupinha" ou "deixa-me dar-te um jeitinho no cabelo ptui ptui já está"... e saem e entram e sentam-se e entreolham-se naquele ar altivo as meninas muito compridas e muito fininhas, do alto ainda mais alto dos seus tacões e com a mini-saia pendurada no osso da anca, que o meu patrão já diz "deixem passar dois anos que elas começam a vir nuas aos castings... pouco falta... têm é de vir de saltos altos... isso é que já não descolam dos pés!" bom, nesses dias aceder à casa de banho é um inferno. é que elas enfiam-se lá dentro nos seus exercícios de concentração preferid...

there goes my hero. 1 ano

Pergunto-me o que acharias acerca desta demência toda, desta distopia rocambolesca mas ainda assim não suficientemente diferente do “normal”. Deste bailado em corda bamba da auto-idolatria com os gestos incrivelmente abandonados de ego. Desta atrapalhação profundamente honesta e refinada que se aprende fazendo e se desfaz em ilusões como uma teia fininha. Deste viver no presente forçado, fincados no agora até à dor no pescoço porque agora é que não sabemos mesmo o que vem depois de amanhã.  Provavelmente discutimos aces amente sobre uma merda política qualquer que não controlamos, para a seguir nos estarmos a rir cúmplicemente de qualquer coisa pouco apropriada. Cheira a grelhados, que o vizinho tem quintal, e aí a coisa custa mais. Esse peso bom da mão inteira na cabeça que me guardava a inquietude faz falta. Distopia é não estares aqui. O resto aguenta-se com um cravo ao peito. Contigo cravado no peito.