Avançar para o conteúdo principal

o sangue novo

ontem viajámos no tempo. devagarinho, primeiro de passos envergonhados. os olhos são os mesmos, terão apenas outras histórias para contar. os gestos e os abraços pareciam não ter conhecido mais um segundo. parecia que tínhamos parado no tempo, ou recuado mas no bom sentido. a ida e a volta e as pedras que nos reúnem sem podermos pisá-las outra vez. foi estranha, a sensação. mas familiar, quente e desenvolta. de pantufas, pode dizer-se. no chão empedrado mas de pantufas. com os fantasmas colados às costas. estávamos assim, como sempre e há tanto tempo que não. isso não devia ser possível nestas dinâmicas de grupo.

pergunto-me como teria sido se tivesses deixado este sangue novo correr-te nas veias, nos corredores, sem medo de nós, percebendo que caminhávamos todos no mesmo sentido e com o mesmo respeito. com diferenças mas o amor intacto. onde te queríamos incluído.
pergunto-me se pensarás nisso, lá longe disto tudo mas com essa aura pegajosa que deixaste que nos afastasse. que te mentisse sobre nós. se tens consciência que essa aura é pegajosa e que te mentiu. que te afastou de um novo fôlego. em que seria novo mas contigo. como daquela primeira vez em que nos pediste para não deixarmos o teatro morrer.

ontem senti esse sangue acordar. doeu, que as cicatrizes avisam sempre o tempo.
acordou logo, o sacana. entre frango, alho francês à brás e duas de tinto...
tu, aí, lá do outro lado do oceano, sentiste? é que, num erro de logística, até se pôs a mesa a contar contigo.

Comentários

colher de chá disse…
...
foi muito bom, mas estes momentos têm sempre o reverso. resta sempre um pouco de melancolia, de saudade pelo que poderia ter sido. se ao menos...
e se agarrásemos nesse sentimento para construirmos castelos no futuro?

obrigada pelo texto tão bonito e tão verdadeiro. mais ninguém poderia ter descrito esta noite tão bem.
colher de chá disse…
errata:

agarrássemos
Linha Recta disse…
Oooohhhh...
Eu proponho um brinde! Mais um, somente, a tudo o que se disse lá e aqui.
Petroni disse…
"Eu não sou criativa!", gritava a pequenita quando ainda era pequenita e não tinha feridas profundas.
Agora tem asas e é um Porto maduro. Um brinde a ti e a todos por esse belo texto!
polegar disse…
colher: o sentido é sempre esse, para a frente. mas com a bagagem da vida nos bolso ;)

linha recta: tchim tchim!

Petroni: curiosa, essa tua perspectiva. no entanto, permite-me que te corrija: era pequenita e de feridas abertas. agora já as lambi devagar, aceitei esse novo mapa na pele. deixei que se fermentasse o sangue, apanhei os cacos e tenho sempre à mão uns belos copázios de tinto... [até à próxima derrapagem].

brinde a todos nós :)

Mensagens populares deste blogue

take me away

uma música triste de Silence 4, uma balada doce de Lifehouse... o estado de espírito desta quarta feira. vou-me embora. por alguns dias, vou-me alhear do mundo. desta vez a redoma é minha. pegar no carro e ir. fazer-me à estrada. com destino marcado a vermelho no mapa, para uma despedida em grande. depois, logo se vê. vou poder descansar. a cabeça [das ansiedades], a máquina [que anda outra vez aos saltos], o corpo [fraco e dorido]. mas acima de tudo, vou poder ser. sorrir quando realmente me apetecer. chorar se e quando me apetecer. vai ser um fim de semana prolongado de apetecimentos.

o duende feliz

não, não é nenhum post acerca do nosso amigo linkado aqui ao lado, esse mestre dos contos e das fantasias... se bem que merecia... é que recebi uma prendinha de Natal e pude voltar às dobragens... algures nesta quadra [ergh, detesto esta palavra] passará na TVI o filme de animação "O Duende Feliz", ou "The Happy Elf". a Molly sou eu. [não tem que enganar é a miúda cuja primeira cena se passa a apedrejar o dito Duende, o Eubie... eheheheh] e também sou eu [kind of] que abro o filme, com a Irmã... esta não tem nome próprio, mas é a ela e ao irmão [que ela entretanto transformou em árvore de Natal à pancada] que se vai contar a história do Duende. sim, sim, calharam-me as miúdas reguilas e ainda por cima as duas dentro da mesma faixa etária... e agora fazer duas vozes distintas...? seria cantado pelo Harry Connick Jr. [essa maravilhosa voz que me persegue com a banda sonora de When Harry Met Sally] mas agora deve ser o Quim Bé a cantar... também não está mal... tu, jov

q.b. de q.i.

como é sabido, neste centro de escritórios funciona também uma das maiores agências de castings do país. há enchentes, vagas de gente daquela que nos consegue fazer sentir mais baixos e mais gordos do que o nosso próprio e sádico espelho. outras enchentes há de criancinhas imberbes que nos atropelam no corredor de folha com número na mão. as mães a gritarem hall fora "não te mexas que enrugas a roupinha" ou "deixa-me dar-te um jeitinho no cabelo ptui ptui já está"... e saem e entram e sentam-se e entreolham-se naquele ar altivo as meninas muito compridas e muito fininhas, do alto ainda mais alto dos seus tacões e com a mini-saia pendurada no osso da anca, que o meu patrão já diz "deixem passar dois anos que elas começam a vir nuas aos castings... pouco falta... têm é de vir de saltos altos... isso é que já não descolam dos pés!" bom, nesses dias aceder à casa de banho é um inferno. é que elas enfiam-se lá dentro nos seus exercícios de concentração preferid