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Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2006

do desejo

prepara-se a turma para a apresentação final do workshop de teatro. emoções cansadas, demasiado tocadas, desabituadas nas suas redomas de segurança do dia a dia. ali são exploradas e quase violadas. e sabe bem a exaustão da reunião de olhos inchados, narizes a fungar, membros sem força, todos em círculo no fim. - sabem que no dia do espectáculo pode acontecer tudo... o teatro é de facto um mundo mágico. é uma adrenalina imensa, fortíssima. é uma sensação de prazer... olhem, melhor que o sexo. risos nervosos. silêncio. - mas sabes o que consegue ser ainda melhor que essa adrenalina? - hã? - é fazeres sexo no palco...

o vestido

[ms] vou vestir-me de mim. não espero outros ventos. podem não chegar. nos dias em que o tempo não corre, não valem a pena as palavras amarguradas. acredito em fases más, em tristezas, em soluços, em solidões. não acredito em olhares eternamente torturados. desconfio deles. normalmente inspiram demasiado egoísmo. e cansa. cansamo-nos nós de nós próprios. e depois cansamos os outros. tudo são gestos. desde umas águas-furtadas e lençóis brancos com sotaque ao girassol ali bem no caminho de quem vai do parque de campismo para a praia nos únicos quatro dias de férias deste ano. pequenas provas são-nos dadas todos os dias. pedaços de suspiro que finalmente chegam com o perfume do descanso. um amigo que aparece para uma noitada de conversa. ou um almoço inesperado. mais do que satisfações egoístas, são motivos. hoje, amanhã. logo. logo se vê. não. vou deixar de me desperdiçar. hoje são cores claras. azul, muito azul. do céu da minha cidade. uma saia que flutua. Chiado abaixo, Príncipe Real a

do patrao #5

[cada um no seu computador... silêncio...] - opá, porque é que não consigo ver o Helder? - o Helder? - sim... existem e os Helders e os Shoulders. ah! já está. eu estava aqui ó tio ó tio que não via o Helder... - tens aí a opção... change from Header to Footer. - pois, já vi... anda lá, Helder! [isto hoje está uma riqueza...]

do patrao #4

- ó polegar, esse computador tem uaiuôze? - tem o quê? - uaiuôze! aquilo dos fios. que apanha do ar. e o coiso... do blutu... - ah, wireless! - isso. - tem wireless mas não tem bluetooth. [silêncio] - [canta] I you be a uaiuôze, uaiuôze, uaiuôze.

do patrao #3 - crise dos quase quarenta

e uma pessoa assiste a isto... ele - ai, credo, nem acredito. é que é como se fossem quarenta anos! quarenta anos! e eu estou nesta vida! como? imagina só... se eu tivesse levado a vidinha normal que toda a gente leva... era... deixa cá ver... bancário! sim, bancário. já tinha uma casa muuunto grande... e um crédito para pagar a casa... e era casado... e tinha filhos! filhos, já tinha filhos! já me imaginaste isto? e depois, depois levava-os ao oceanário! mas não era para pedir patrocínios! cá agora! não, ia com as criancinhas ao domingo ver os peixinhos... sim, e ia ao teatro, pois ia... mas era a pagar! pagar o bilhetinho! com o cartão de crédito! ela - já viste, até cartão de crédito tinhas... ele - pois era! mas uma pessoa mete-se nesta vida... mas que raio. e depois deixar? como é que consegues? é uma coisa medonha! fica-se com uma sensação... uma sensação... que... que... sabe deus! não sei dizer. olha, se largares morres. ela - por isso é que cá andamos, maluquinhos, com este v

bom dia

[foto de ms] "Pois se eu agarro as coisas com estas minhas mãos, e sirvo-me delas, e uso-as, e gozo-as, e gasto-as até ao fim, sem deixar perder um único pedaço, e depois não fica nada, as mãos ficam-me vazias! Vazias! Exactamente como se nunca tivessem pegado em nada deste mundo, como se não tivessem nunca feito nada, como se eu nunca tivesse nada nestas minhas mãos![...] Farto de fantasias ando eu até aos olhos! " Pierrot e Arlequim , Almada Negreiros ... ou: há dias em que se acorda com o rabo virado para a lua...

fotossintese

[fotos ms | montagem polegar] do Gr. phôs, photós, luz + síntese s. f., combinação química causada pela acção da luz; Bot., processo químico através do qual os vegetais e certas bactérias e algas azuis produzem a sua própria matéria orgânica, a partir de energia luminosa e de substâncias simples, como a água e o dióxido de carbono, libertando no processo oxigénio para o meio.

vazio com pedaços

cinza de cinzeiro, cinza de chuva, cinza de grafite. branco cego amarelado que seca os olhos embaçado de um respirar pesado que se cola. vozes ausentes de vidas paralelas, arrumam carros, assombram a janela, que, aberta, deixa passar na estrada e roer nos ouvidos os bichos de metal e as caras enfadadas. marasmo de azias, modorra que arranha o sentido dos passos, cerveja mole sem lábios de espuma. há dias em que a cidade se pega aos pés e não os deixa andar. não deixa. regressar e ver-te estendida nas sete colinas fez-me chorar. às vezes não te vejo as cores dos prédios, vejo apenas paredes cinzentas a desabar-me no ânimo. a esborrachar-me a vontade no chão sujo. a esventrar-me num qualquer beco sem saída. por ora não me lambes as feridas. só me sugas, desencaixas-me, onde perdeste o meu relógio? mas sei que algures me escondes o chão prometido. sei-te os cheiros do cimo do elevador, o livro do entardecer. sei-te o colorido debaixo do véu dos escapes, os ombros azuis da noite, dourados

galope

[ms] enquanto esta tarde vai mirrando na janela, o corpo abandona-se na cadeira. e escorre nos olhos cansados. já galopo o vento a trança escura a chicotear-me as costas o cantar áspero do caminho a sombra a galgar asfalto e plantas ao meu lado. num gigante cavalo preto feito da vontade de chegar. o pousar, o planar ouvir os sons que me parecem esquecidos de tão longínquos. sim o mar ainda está aí. o meu relógio será de sol. dir-me-á as horas na curva da minha anca. no subir e descer do peito pacificado. não me arrasta. não me despede. não me conta os suspiros. os rasgos de vida. mikado e um baralho de cartas. um livro. um tecto sem telhado. ciganos de joelhos esfolados. toalhas quentes de cores frescas. vinho tinto numa falésia. lamber os dedos de gelado e estender as pernas. matraquilhos. coisas pequenas. coisas bonitas. como as missangas no pátio central. como um saco de pástico a voar. como a minha pele morena e os teus olhos de caramelo. o meu relógio será de sal.

jantar de bloggers

Quatro bloggers [Macaso, Pinky, Mary Mary e Polegar] com um pouco de tempo a mais em mãos ponderam a hipótese de fazer um jantar de convívio. Mas, para isso, procuram os sábios conselhos do Altíssimo. Segue a conversa tida em confessionário com o Altíssimo [@] e Nós [N]... N - do you like friendship? @ - I love horses. I like Christian Rock. N - do you like posts? @ - I love horses. I like White. N - do you like bloggers? @ - I like pets. I like Creed. N - we have other plans @ - Interesting... I have a processor. N - what do you think of a blogger date? @ - Are you using Netscape or Explorer? N - what do you think of a blogger gathering? @ - I have to process that one for a while. N - why? @ - Reductionism. N - when will you have an answer? @ - Let me check my calendar and get back to you. N - we were thinking of a saturday... @ - I have to think about that for a while. N - what's your opinion on gathering lots of people who don't know each other? @ - Let me think about it. N

ó menina

- ó menina. [porque me aponta assim a muleta?] - ajude-a a vir para aqui. [estou atrasada. dê-me o braço.] - até ali ao extra... a perna prende. não estou a gozar consigo. prende, pára. ai, se um dia me dá para aí sou eu que me páro e acabo com isto tudo. [ao extra? sim, prende. mas depois desprende. vá, uma de cada vez. cheira a mijo] - o polícia, pedi-lhe ajuda e o filho da puta disse-me para ir curar a bebedeira! se ele fosse bardamerda mas era... eu que nem com café posso. eu não é bebida, é epilepsia. [confere, a álcool não cheira, cheira a mijo. paramos. degrau] - ai, agora é só tomar um banho para me darem os comprimidos e já fico boa. vamos pela passadeira, temos de cumprir o código da estrada. [mas afinal onde quer ir? não era no extra?] - é só virar a esquina, menina, ali na santa casa. ai se não fosse a menina. desculpe a puta da perna. [eu desculpo a puta e a perna, não desculpo o vento que te traz o cheiro para aqui. reprimo um vómito] - aquele é o bandido. ó bandido, tás

conduzir uma peça ou driving miss daisy

passou além do olhar crítico e da vontade de ser absorvida numa história. passou além do impressionante elenco e da impressão que faz ver a Eunice Muñoz com algumas paragens de memória, mas a retomar as palavras com a emoção toda lá, sempre... passou além do Guilherme Filipe a transformar um papel pequenino numa grande interpretação. passou além do boneco delicioso e ternurento que Thiago Justino conseguiu para o "seu" Morgan Freeman. passou além da tentativa de assassinato de uma peça que tinha tudo [pelo menos a minha base fundamental: texto e actores] para ser bom, através de uma má encenação, má música e de técnicos amadores. a certa altura Eunice leva a mão à testa e faz um esgar de dor. muita gente pensou que era da personagem, mas a mim fez-me confusão. na cena seguinte, um descontrolo de luz e um corte abrupto na música, bem como na cena. o público fica confuso. uns batem palmas a pensar que acabou. outros olham para as portas fechadas a pensar que é intervalo. outros