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o vestido


[ms]

vou vestir-me de mim. não espero outros ventos. podem não chegar. nos dias em que o tempo não corre, não valem a pena as palavras amarguradas. acredito em fases más, em tristezas, em soluços, em solidões. não acredito em olhares eternamente torturados. desconfio deles. normalmente inspiram demasiado egoísmo. e cansa. cansamo-nos nós de nós próprios. e depois cansamos os outros.

tudo são gestos. desde umas águas-furtadas e lençóis brancos com sotaque ao girassol ali bem no caminho de quem vai do parque de campismo para a praia nos únicos quatro dias de férias deste ano. pequenas provas são-nos dadas todos os dias. pedaços de suspiro que finalmente chegam com o perfume do descanso. um amigo que aparece para uma noitada de conversa. ou um almoço inesperado. mais do que satisfações egoístas, são motivos.

hoje, amanhã. logo. logo se vê. não.

vou deixar de me desperdiçar. hoje são cores claras. azul, muito azul. do céu da minha cidade. uma saia que flutua. Chiado abaixo, Príncipe Real acima, Graça afora, Alfama adentro. mas não sou de modas. a saia flutua também pela noite do subúrbio, casa, ninho, bola de sabão, redoma de cores e sossego. flutuo também no subúrbio. e depois? onde as fotos nas paredes se acumulam. devagar, ao ritmo quente de quem dança com gosto e sem medo de ser feliz. momentos, disparates e recordações, antiguidades e estórias, tudo bem exposto, com honras de museu. espero os dias mais felizes do pó de palco. de mão dada. dar histórias. dar um corpo. dar a voz. dar as lágrimas. aí sim, tragédias de três em pipa, venham as mulheres perturbadas, as loucas e as depressivas!

por enquanto?

ouço rádio, ansiolítico para o bolso vazio que não, não me deixa ter os cds todos nem saber tudo de cor. a minha vida sempre teve banda sonora. como se pode. leio aos golinhos. como que a aproveitar uma simples água fresca na esplanada ali do elevador, num dia de calor. porque as páginas não duram eternamente, mas as palavras sim. e enquanto não pode ser outro livro, junto os tostões e vou lendo aos pedacinhos. viajo assim, levam-me por enquanto os olhos: hoje estou em Bali. um destes dias vai dar para ir ao cinema. ou ao teatro. ver o quê? interessa?

mais do que uma forma de me exibir numa montra fútil de intelectualidades e masturbações umbilicais, são simples formas de me complementar, de me preencher, de me entreter.

flutuo então, na minha saia fresca. de princesa, sim, e depois? preciso de ser leve. do que é simples, como sempre fui. e posso voltar a ser. se há a aprender com os erros, tropeções e desesperos, aprendamos. e o que é bom é para conservar e apurar. venha de lá mais uma gargalhada de menina.

visto por isso a tal saia de princesa. e o sorriso, bem justo, bem rasgado, em decote, descarado, sincero.
é o meu melhor vestido de festa.

Comentários

Anónimo disse…
magnifico...os vestidos de festa surgem na leveza do ser e propagam-se nos sonhos reais, de quem surge as cores, em formas. Com o sorriso rompe como em arco.íris basta apenas a leveza e depois cada um veste o vestido que lhe apetecer...porque um vestido não precisa de ser usado necessariamente nos dias de festa organizada, pk a vida já é uma festa repleta.

Vim parar aqui não sei bem como. Adorei.
Anónimo disse…
Fantástico, fantástico!!! Coisa maravilhosa, ler isso saído de ti. Tenho a certeza que vais estar linda. Mais ainda do que sempre.
Anónimo disse…
esqueci de dizer se quiseres passar pelo meu sitio e recanto...

www.diasoltos.blogspot.com
Anónimo disse…
Hoje é hoje, amanhã logo se vê, na certeza de quem somos e de quem podemos ser. Que a poeira do palco te volte a sujar os pés, as mãos, o rosto, e já agora que me permita tambem voar quiçá...
Um vestido de ti, sempre solto, casual e sempre de gala, para aproveitar todos os momentos...
Anónimo disse…
O sorriso...sempre o sorriso...a arma mais poderosa do mundo. Venha qualquer calibre de cano serrado, venham os scuds e as armas quimicas tão em voga. Venham as semi-automáticas e a já velhinha e eficiente kalashnikov. Venha também a navalha de ponta e mola, as matracas, o canivete suiço. Venham os punhos cerrados de Cassius Baloyi. Venha tudo isso.
Nada bate um sorriso desses dos que ficam depois de um suspiro. Um sorriso "bem justo, bem rasgado, em decote, descarado, sincero".
Não é do vestido, é do sorriso.
Anónimo disse…
voa voa...
Anónimo disse…
Isso!E como diz o outro, que tudo o mais vá pro inferno:)!
Beijinhos
Anónimo disse…
Andas de gorro com este calor? :)

Beijinhos e não ligues a quem não interessa.
Anónimo disse…
Os vestidos de festa são fantásticos. Sim, isso e o sorriso.
Anónimo disse…
«sexo no palco»..éeeeeeeeeeeeeeeeee!!!! imagino do a escorregar nos efeitos do «jato» de prazer...lol

Paulo

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