tenho-me queixado frequentemente que a Baixa está moribunda. por falta da dedicação de... todos. falta-lhe uma pulsação própria fora do horário de expediente. falta-lhe gente que a viva. e também me queixo das pessoas, da apatia, do comodismo, da falta de vontade de sair dessa modorra que assola tudo e todos. da mania de se queixarem e de não se mexerem para fazerem o que querem. da incapacidade de se unirem no que realmente interessa. da incapacidade de se levarem menos a sério e de se entregarem mais uns aos outros.
ontem ouvi falar nisto. já conhecia algumas iniciativas dessa maravilhosa arte urbana do improviso com multidões, da espontaneidade deliberada em cheio na testa do quotidiano, a que se chama flash-mob. e quis fazer parte.
armada em agente infiltrada, com o rádio sintonizado na antena 2 e uma câmara na mão, fui ver como era.
e dei por mim submersa.
e soube bem.
soube bem porque à minha frente eram velhos e novos, deitados no chão a ouvir as trepidações dos passos. deitados no meio do chão. a sentir as reentrâncias das pedras que pisam a caminho de casa. estavam mornas, as pedras, mornas, com rugas, macias e polidas como pele humana.
andar de olhos fechados, sem medo de chocar, sem pensar no jantar mais logo. a rodopiar, sim, senhoras bem postas de salto alto a rodopiar, tão tontas como as donas de casa que rodopiavam mesmo ao lado.
estátuas, vivas, com o gesto que queremos que seja. faço eu, fazes tu, tira-me uma foto para não me esquecer que era isto que eu queria hoje.
colar-se aos vidros das montras, está fresco, e os reflexos, "olhe desculpe, o meu rádio deixou de funcionar, dá-me uma ajuda que eu estou-me a divertir tanto".
a cumprimentar-se sem se conhecerem, a tocar-se, as pessoas tocaram-se. e era isto tudo que eu lhes queria explicar, que é bom tocar, trocar, entregar, receber.
a correr rua Augusta abaixo, velhos e novos. os velhos tão entusiasmados como os novos, os novos tão compenetrados como os velhos, esquecem o vizinho que chateia com a música alta e esquecem a consola, esquecem as contas, o empréstimo, o sono, só um bocadinho. era isto, era isto.
dançar ao som de uma música que só nós ouvíamos. dançar, em bailarico, passos lentos, passos enraivecidos, está sol, estou vivo, e bater palmas - essa foi a verdadeira revolução, o motim às palavras da rádio, ninguém mandou bater palmas, mas isto de dançar sem bater palmas é maldade.
e os olhos, os olhos de quem não tinha rádio divertidos, confusos, deliciados. porque é estranho, é de loucos, é mesmo disparatado. mas estamos juntos, não nos conhecemos, tocamo-nos, rimo-nos, esquecemos, fazemos o que pensámos "um dia eu faço", vemos o céu deitados no chão porque parece uma boa sugestão.
e é.
brincar, simplesmente brincar. sem pensar no que estarão a pensar.
sim, era isto. era disto que eu falava. este é um outro sabor de liberdade.
video editado por mim, [quase toda a] imagem de espanta-espíritos
pedimos desculpa pela falta de qualidade, mas ainda somos amadores no rendering de videos...
ontem ouvi falar nisto. já conhecia algumas iniciativas dessa maravilhosa arte urbana do improviso com multidões, da espontaneidade deliberada em cheio na testa do quotidiano, a que se chama flash-mob. e quis fazer parte.
armada em agente infiltrada, com o rádio sintonizado na antena 2 e uma câmara na mão, fui ver como era.
e dei por mim submersa.
e soube bem.
soube bem porque à minha frente eram velhos e novos, deitados no chão a ouvir as trepidações dos passos. deitados no meio do chão. a sentir as reentrâncias das pedras que pisam a caminho de casa. estavam mornas, as pedras, mornas, com rugas, macias e polidas como pele humana.
andar de olhos fechados, sem medo de chocar, sem pensar no jantar mais logo. a rodopiar, sim, senhoras bem postas de salto alto a rodopiar, tão tontas como as donas de casa que rodopiavam mesmo ao lado.
estátuas, vivas, com o gesto que queremos que seja. faço eu, fazes tu, tira-me uma foto para não me esquecer que era isto que eu queria hoje.
colar-se aos vidros das montras, está fresco, e os reflexos, "olhe desculpe, o meu rádio deixou de funcionar, dá-me uma ajuda que eu estou-me a divertir tanto".
a cumprimentar-se sem se conhecerem, a tocar-se, as pessoas tocaram-se. e era isto tudo que eu lhes queria explicar, que é bom tocar, trocar, entregar, receber.
a correr rua Augusta abaixo, velhos e novos. os velhos tão entusiasmados como os novos, os novos tão compenetrados como os velhos, esquecem o vizinho que chateia com a música alta e esquecem a consola, esquecem as contas, o empréstimo, o sono, só um bocadinho. era isto, era isto.
dançar ao som de uma música que só nós ouvíamos. dançar, em bailarico, passos lentos, passos enraivecidos, está sol, estou vivo, e bater palmas - essa foi a verdadeira revolução, o motim às palavras da rádio, ninguém mandou bater palmas, mas isto de dançar sem bater palmas é maldade.
e os olhos, os olhos de quem não tinha rádio divertidos, confusos, deliciados. porque é estranho, é de loucos, é mesmo disparatado. mas estamos juntos, não nos conhecemos, tocamo-nos, rimo-nos, esquecemos, fazemos o que pensámos "um dia eu faço", vemos o céu deitados no chão porque parece uma boa sugestão.
e é.
brincar, simplesmente brincar. sem pensar no que estarão a pensar.
sim, era isto. era disto que eu falava. este é um outro sabor de liberdade.
video editado por mim, [quase toda a] imagem de espanta-espíritos
pedimos desculpa pela falta de qualidade, mas ainda somos amadores no rendering de videos...
Comentários
Então estiveste mesmo nas minhas costas e não dizes nada, magana?!...
manel: se ela te dissesse qualquer coisa soaria assim: aie a minha asma... argh.... estou a sufocar.... aieeeeeeeee... lol
manel: estive, mas é como diz o espanta... quando me cheguei ao pé de ti na passadeira, vinha a correr desde o início da rua Augusta. no vídeo original, só se ouve "ai, não me aguento" "asma" "arde-me tudo" "por dentro"... vi-te mas não conseguia articular ;)
espanta: temos de fazer isto mais vezes eheh
quem sabe, fazer "telediscos" para eventos, que o da rtp tá pobrezinho! ;)
Lindo, lindo! (Muitos suspiros)
Voltarei sempre...
tb apetecia ter feito parte!
(pena não estar por Lx...)
[para o "acordar" serão precisos mais flash-mobs e outras coisas que tais, digo eu...................]
bj
Está lindo! :)
:)
BEIJOS
miss lou: volta sempre :)
intruso: claro que é preciso mais. mas tem de ser aos poucos... senão há overdose lol
e o filme tá muito porreiro! parabéns aos 2 :P