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floribelas

suo por todos os poros. não aguento quando a ventoinha se afasta de mim. zapping de tarde. estou a tentar poupar os DVD's de "O Sexo e a Cidade", os filmes emprestados, os livros. dou uma desesperada oportunidade aos programas da tarde da televisão nacional.

do alegre Malato e as suas velhinhas e emigrantes, salto para uma qualquer coisa sobre segurança no trabalho, e depois para...
um concurso de mini-Floribelas. sim. as crianças deste país adoram a menina das flores e das saias às flores, e as canções das flores e as purpurinas e o enredo de novela mexicana... com flores. querem ser tal como ela. e o abençoado canal responsável pela súbita explosão de adeptos à horticultura continua a exploração até ao tutano desse grande acontecimento cultural. agora as nossas crianças mandam vídeos das suas interpretações e coreografias, desenhos, e têm até direito a aparecer no prime time das donas de casa: os programas da tarde.

ali estavam: três meninas pequenitas que tinham de cantar, em competição, claro, a canção do "sou pobrezinha mas boa pessoa" - essa grande lição de vida, tão útil nos dias que correm, em que, de facto nos devíamos conformar com a crise. os ricos que fiquem cada vez mais ricos! serão sempre infelizes! eu não sei como pagar as contas, mas sou do Bem! toma!
e por isso, um dia um rico oxigenado há-de apaixonar-se por mim, ver como a vida de pobre é muito mais alegre, deixar de fugir ao fisco, cancelar as contas na Suíça, para se vir meter comigo num apartamento no subúrbio cheio de flores, com o rendimento mínimo, onde alegremente lhe passajarei as meias e criarei os nossos 5 filhos a big-macs e danoninhos.
não, espera. não é assim... ah! o rico apaixona-se por mim e pela minha alegria de pobre e leva-me com ele para a sua mansão em Cascais onde viveremos felizes para sempre, ricos, e onde alegremente lhe passajarei as meias e criarei os nossos 5 filhos surfistas a big-macs e danoninhos.


ah, essa mais recente geração que ainda mal sabe falar mas que os papás já estão ansiosos por meter nessas novas amas que são as 12 horas de gravação por dia com catering e carrinha, ou a fazer anúncios a ecopontos para depois os progenitores se gabarem - sim, já aconteceu à minha frente - perante as outras crianças que estão nas filas para novos castings.
essas filas de carne para canhão, de gente que vinda do nada espera a sua oportunidade no mundo do tudo, tão fácil, tão evidente, dispostos a serem explorados pelos seus 15 minutos de fama sem terem noção do que estão a fazer no mercado em termos de condições de trabalho para os profissionais que depois quiserem exigir as coisas como deve ser e bem pagas... mas isso é outra conversa...

regressando ao ponto alto do meu dia: Nuno Graciano entrevistava então a mais novinha das três... errr... concorrentes. tinha uns três, quatro anos. de cada vez que o apresentador lhe punha o micro à frente para responder a uma pergunta feita com aquele tom paternalista que cai sempre bem, a piquenita começava com o sumido mas assumido "não te-no na-da ma te-no te-no tu-do". todos no público sorriam, derretidos, paternalistas, viam-se nos écrãs e compunham o colete e o vestido que tinham comprado para o baptizado da Cátia Marisa. ai, a menina, que encanto: caracolinhos escuros, purpurinas nos olhos, sainha com flores... era de facto uma gracinha.
depois a gracinha, à pergunta do Graciano "bem, agora vamos ouvir as outras meninas a cantar?", respondeu... levantando a saia e voltando a catarolar "não te-no na-da..."
Nuno Graciano não se deixa demover com a manobra de marketing infantil e pergunta:
"oh, então que é isso? de cuequinhas à mostra na televisão?!" com o grande sorriso profissional embebido no tom de cutchi-cutchi-bilu-bilu.
mas a pequena é ainda mais profissional. e entre um plano da suposta mãe babada, a menina mostra a autenticidade do seu à-vontade perante as câmaras: mete as mãos entre as pernas e coça-se. sempre a cantar, como qualquer bom entertainer.
nesta forte competição, não entre Floribelas, mas entre profissionais de gabarito, Nuno Graciano aposta em não se deixar intimidar pela nova artista de palmo e meio:
"queres fazer xixi, é?"

foi a estocada final no meu dedo, que desligou a televisão e me obrigou a estourar mais uns episódios de "Sexo e a Cidade".

Comentários

Anónimo disse…
Uma cadeira com rodas mais um computador portátil e consegues manter-te sempre à frente da ventoinha. :-P
Anónimo disse…
hum... pois... que bem... Tivemos a geração rasca. tivemos/temos a geração à rasca. a próxima é a geração morangos com açucar (cambada de fúteis que só pensam em curtir uns com os outros. em portugues correcto PINAR!). depois vai ser a geração floribela. pessoal, fujam ou dêm um tiro na cabeça antes que alguém se magoe... é que estes últimos... só vão pensar em vestir cor-de-rosa e só vão saber dizer hiper-ripa-mega-fixe...
And that's a no, no!
Anónimo disse…
Não conhecia a Floribela e... estou feliz por isso!
Sabes, eu achava que aqui em França isto andava muito mau, com os "putos do bairro" que andam por ai com calças no abaixo das nádegas, a falar como australopitecos, a ouvir hip hop de "artistas" franceses que imitam os americanos mas dizem mal deles, e que queimam carros para comemorar o ano novo!
Mas sinceramente, com o recuo necessário confirmo cada vez mais que os nossos putos andam podres! Nenhum país avançará enquanto a preocupação individual e grupal seja comentar a novela do dia e logo de seguida as "cenas dos próximos episódios"!
Viva o futebol (nunca pensei dizer isto) que pelo menos serve para se perceber que existe um hino, uma bandeira e uma nação!
"não te-no na-da ma te-no te-no tu-do" : Não vos faz lembrar um bocado o ideal salazarista? Repara como a Floribela rima com a bela canção "é uma casa portuguesa concerteza" que toda a gente canta, muitos sem saber de onde veio e para quê!
Enfim... para quando as tuas crónicas num jornal, tal Antonio Lobo Antunes "croniqueiro"?
Beijo!
Anónimo disse…
Sabes, Polegar, cada país têm o povo que merece e este mal nacional é a prova disso.
Convenhamos que akilo só passa por que miudos e graudos gostam de ver a menina a dançar com roupa e atitudes que fazem chorar darwin pq contraria a teoria da evolução das especies.
Daqui a 50 anos vamos ver em retroespectiva estes primeiros anos deste século e será um estudo sociologico bem catita: " A década em que o cerebro se suicidou".

Quem, como tu, que olhas com desespero para a "programação" imposta pelo share de mercado (eu ainda estou para saber quem os faz e a quem pergunta) não têns sensação que há algo tão errado que é quase demoniaco? Não será isto que Nostredamus mencionou como o fim do Mundo? A mim parece-me...

Como dizia o Bruce Sprngsteen - 57 chanels and nothing on

Kiss
Anónimo disse…
E.A.: não tenho cadeiras com rodas. mas nos momentos de maior desespero fixo a direcção da ventoinha ;)

estranho: já pensaste que esta será a geração activa quando andarmos de muletas...?

Simão: mas o revivalismo é da moda, e revive-se também os bons velhos tempos do Estado Novo. é o pacote completo. não sabias?
quanto à crónica.... LOLOLOLOL

Terapia?: tenho cada vez mais medo e dúvidas acerca das pessoas... se dantes o conhecimento não estava ao seu alcance, agora estamos em tempos em que pura e simplesmente recusam o acesso a coisas melhores... além dos carros e dos telemóveis 3G, claro...
Anónimo disse…
People don't drink the sand because they're thirsty, they drink the sand because they can't tell the difference.

As pessoas não recusam o acesso a coisas melhores. O problema é a educação que a maioria não tem. São os livros que não leram na fase das suas vidas em que as pessoas moldam os gostos. São os filmes que não viram, as músicas que não escutaram. E aqui, a culpa também é, e muito, das televisões que entopem a programação com programas e séries de terceira categoria, apostando no popularucho em vez de apostar na qualidade.

O mundo será sempre dos ignorantes, porque é isso que convém aos senhores do poder. Quanto mais ignorante é a multidão mais fácil é manipulá-la.
Anónimo disse…
Uma tarde a ver os quatro canais tugas pode causar lesões muito graves. Mas, a julgar pela foto em baixo, estás a ler Gabriel Garcia Marquez e quando assim é, podes ver o Graciano, a Merche e as telenovelas com letras fascistas até pelo menos ao Outono
Anónimo disse…
R.: temo que tenha de concordar contigo. o meu problema é e sempre será a inocente crença de que se deres algo de bom às pessoas, vão notar a diferença e começar a exigi-la.
eu não tive a educação mais rica do mundo mas consegui ir aprendendo com o que me foi aparecendo à frente.

mas é um facto que terei de me conformar cada vez mais com este mundo em que o sofrível é tão apetecível para tanta gente. onde os poucos que exigem qualidade não são suficientes para mudar o que seja.
em que a tangibilidade da fama confunda e ofusque toda a gente, pareça tão possível como fácil. não seja preciso habilitações ou experiência. e que com esta atitude estejam a prejudicar cada vez mais aqueles que são profissionais e que perdem margem de manobra para exigirem condições para fazer as coisas.
e em que os que mandam estejam mais ocupados a encher os bolsos com essa carne para canhão do que a preocupar-se com o que oferecem.

argh... detesto ter de pensar assim...

SGTZ: pois... tenho de compensar ;) LOL
Anónimo disse…
"Whenever people agree with me I always feel I must be wrong." (Oscar Wilde)

Thumbelina, don't ever do it again! (Haha...)


Quanto ao resto, c'est la vie, que se dane! Bom Natal a todos. Um mundo que tem a "#41" de Dave Matthews não precisa de se preocupar com Floribelas...
Anónimo disse…
Já não bastava os morangos agora ainda temos aquela rapariga que canta músicas mexicanas traduzidas para português! Será uma daquelas pragas divinas que de quando em quando afectam o mundo? O que será daqui a uns anos com toda uma geração falar aos gritinhos quais zé robertos? Pobres, ignorantes e felizes, assim serão as novas gerações? Isto lembra-me o estado novo, porque será?

Beijinhos e bom Verão
Anónimo disse…
R.: garanto-lhe que não tornarei :P

André: como alguém dizia, será que são estes os sinais do fim do mundo e ninguém está a dar por isso???...
Anónimo disse…
Televisão à tarde ou a estupidificação da alma...

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