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Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2007

cartas de amor . procuram-se

das antigas, daquelas de autores portugueses às suas amadas [ou de autores portugueses aos amados, ou delas para eles, ou delas para elas, não sou esquisita], onde escreviam os seus dedos e não os dedos dos fantasmas das suas personagens. daquelas que eram caneta e lápis e papel e mata-borrão. das que eram saliva e selos e tinta manchada de sal. ando em pesquisas e falta-me o tempo, sempre o tempo. fica o apelo. sirvam-se de mail e comentários a gosto. como recompensa, há-de pensar-se em qualquer coisinha. muito agradecida.

frios

é acordar um dia com a parangona da TVI: "Portugal a bater o dente!" e ao domingo de manhã com uma mensagem da irmã a dizer "está a nevar!" - note-se a semelhança de pontuação entre uma irmã entusiasmada e um telejornal nacional. aliás, quando lançaram o alerta laranja, esqueceram-se de mencionar um pequeno apartamento às cores ali para os lados do subúrbio lisboeta... os dias fazem-se de várias camadas de roupa [hoje é uma long sleeve e 3 camisolas], de parecer um repolho farfalhudo com pernas, de abdicar de algum bom gosto no vestir em prol de ter o mínimo de arrepios possível. são lábios brilhantes de baton de cieiro, salas abafadas de fumo porque abrir uma janela é suicídio. é o ataque de asma porque está frio e depois o ataque de asma porque o novo aquecedor-ventilador queima o ar. são, portanto, pesadas bilhas cremes escada acima porque a Galp se esqueceu de preparar as novas Plumas-das-pernas-boas para os aquecedores a gás antigos. é também a noite de bastido

oioai-ai

costumo dizer que o mundo do espectáculo é um penico. mais um exemplo: um jantar de - espera-se - trabalho é o mote para uma noite que se prolonga porque, afinal, a companhia é tão agradável que não apetece ir já embora. pessoas que entram, passam, sentam-se, bebem um copo e voltam a sair ou ocupam de vez mais um lugar arranjado à pressa. aquele lugar é como mala de mulher. é como coração de mãe: cabe sempre mais alguém... conversas cruzadas com gente estranha e, de repente, um casal discreto - e até ao momento apenas semi-descontraído - perde a pose. eu - tu??? és o vocalista??? vb - s... sou... ee - epá, parabéns, pá, adoro esse single. eu - o Fred! o Fred trabalhou comigo nas dobragens! vb - fixe, gostaste? ah sim, conhece-lo? eu - quem é que não conhece o Fred... está metido em trezentas coisas ao mesmo tempo. vb - é verdade eheh... ee - deviam começar a fazer uma lista das bandas em que o fred não entra... [gargalhada] ee - epá, eu não gosto de músicas românticas, mas se ouço est

diários da perna de pau #5 . o princípio do fim

hoje é o princípio do fim. o grosso do nosso trabalho termina aqui. começa agora a verdadeira comunicação. a parte visível. não é um espectáculo fácil. tem, para mim, como mais-valia, um cenário chamativo, música forte, texto denso e interpretações com momentos muito bons. criticar, estando cá dentro, é muito fácil. desculpar também. tenho as minhas considerações, mas neste caso específico não quero ser tida nem achada "publicamente", porque pecaria. por excesso ou por defeito. acho que lhe chamaram ética profissional, eu chamo-lhe simplesmente bom senso. lembro-me do primeiro "ditado melódico" do patrão-encenador, que converti em projecto. lembro-me de tudo o que foi calcorreado, telefonado, enviado, recebido, reunido, viajado, investigado. as pessoas, tantas pessoas, tantos braços e gritos e chatices, sorrisos e motivações, injustiças e preocupações. tanta unha roída, tanta auto-estrada. sorriso. o papel e as palavras foram, em grande percentagem, o meu pedaço nes

d'O Método

fui ver um ensaio, daqueles tipo treino à porta fechada mas para gente da arte. subiu-me até certo ponto a expectativa porque eram pesos pesados a trabalhar, com um peso pesado a dirigir, com uma técnica supostamente peso pesado. foi pesado de digerir. não no sentido de um texto forte com interpretações marcantes e encenação de choque. foi pesado de digerir como aqueles almoços de cozido à portuguesa desenxabido que nem sabem bem e ficam a trabalhar no estômago o dia todo. foi pesado de digerir porque foi... uma seca. compriiido, com má encenação, atabalhoada e com cortes injustificados longuíssimos, actores em overacting constantemente, sem um estudo dramatúrgico do texto feito como deve ser, que se notava nas variações de personalidade completamente desenquadradas... uma contra-regra que fazia trabalho desnecessário se os actores se dessem ao sacrifício de mexer uma cadeira e trazerem na mão os adereços, um texto que podia ser forte se não fosse tudo o resto ser mau ao ponto de nos d

meada

acorda. a despedida do calor da pele. o frio a vestir. voar às costas de um anjo. frio que corta. espera e café de saco. carrinha. o meu tamanho não carrega plasmas de 44 polegadas. o caminho é por aqui. música do mundo. falta um dvd. pequeno almoço com guia. folhear o Y, "olha tu!". regresso com sotaques. "sou o único que nunca teve um acidente com a carrinha". manobra perigosa, desvia, acidente. pára que pára pára na calçada. triângulo. esperar e praguejar. arrancar o pedaço de plástico. regresso à base, telefones malditos. "venho pela presente informar V. Exa.". o spot de rádio ainda não saiu. os plasmas não são assim. os convites estão a esgotar. "solicitamos o envio de um fax de confirmação até à data limite". a tua mãe já reservou? sim, sim, é ao estilo teatro de rua. não te estou a falar desse, do outro. falta um logo. muda o lettering. afinal tenho de te dar mais um parágrafo. pára. almoço, dividir a dose. cheira a fumo, está calor, tenh

diários da perna de pau #4

clic para aumentar ph.t. ms | txt polegar palavras e fotos. há histórias incontadas por detrás de um produto final. poucos saberão, no fim de contas, o que foi dito. o que foi realmente dito e apontado num caderno velho, com letra apressada, depois de dias a implorar uma hora de atenção para cumprir prazos. de tópicos trôpegos de um génio, ao "pesquisa tu que eu não tenho tempo", como se chega a 28 páginas de simples papel? poucos, porventura, terão acesso a uma imagem que teve de ser - para tristeza geral - retirada. os motivos são compreensíveis, claro [por uma vez?]. outras imagens igualmente geniais perdurarão, chegarão a ser folheadas, apreciadas, disfrutadas. para meu orgulho, com os devidos créditos em letras garrafais. esta é a página perdida. de histórias que ficarão por contar. do equilíbrio ténue entre vitórias agarradas com unhas e dentes e sabores amargos de letras que faltam. de um trabalho de equipa que, como sempre, como em tudo, funciona como pouco

de outras equipagens

uma manhã, cheia de nervos de segundo dia para dois actores. dia normal para os outros, sem descréditos nem diferenças. maquilhagem, roupas, frio e cigarros. o rádio só apanha a RCP e isso são risos e playbacks acrescidos. na torre, no camarim, recebo um telefonema esbaforido da assistente de produção: um dos alunos que vem hoje está numa cadeira de rodas e os professores não tinham avisado. e agora, e agora? faltam 10 minutos para começar. o espectáculo decorre nos claustros superiores, não há elevadores. ainda penso depressa: vamos passar o cenário e charriot com roupa para o claustro de baixo. ainda me surpreendem os outros: sem queixas, sem resmunguices, todos acorrem, todos trabalham, todos carregam. telefonema para as altas entidades que de sentadas à secretária são demasiado burocráticas e não suportam ondas: temos de agir depressa, temos de ter autorização para ocupar os claustros do piso térreo. primeiro um não que gela o sangue, depois o sim. para dar tempo para alguns se ves