Avançar para o conteúdo principal

sleeping in my car...


nokia by thumbelina no meio da autoestrada...
é uma canção foleira dos Roxette... mas é uma frase que se aplica a uma forma de vida. um pouco a minha.
este carro conhece-me há tantos anos... fui buscá-lo bebé à oficina, tinha uns poucos meses de carta (sim, ainda se vivia bem, nesta família. era suposto ser o carro da minha mãe mas ela tem medo de conduzir... temos pena ;)
é bordeaux, ou vermelho vinho, ou lá o que quiserem chamar. lembro-me que não simpatizei logo com a cor. it's something that started growing on me (porque é que há expressões que só saem em inglês?). acabei por em certas alturas usar as unhas da cor da pintura...
lembro-me que, no primeiro dia, tive medo de o conduzir. medo de o estragar.
depois tornou-se o meu melhor amigo. ganhou logo um diminutivo, que nessas coisas sou terrivelmente foleira. é o jippy... e nos dias maus é o cabrão do carro. fofinho, não?
foi comigo tirar o curso, dando um fim aos dias em que tinha de acordar às 5 da manhã para chegar às 8 à faculdade (para jogar matrecos, mas isso fica para outro post...)
tornou-se o táxi de toda a gente com quem antes me encontrava no metro do Campo Grande às 7 da manhã. passámos a ir todos de popó. de cuzinho tremido, como dizia a minha avó. e passámos a passear nele. e a fazer raves nele, no jardim da faculdade (lembras-te, V?).
a partir daí, fui 'boleieira' oficial de meio mundo. nele conheci Lisboa, Portugal, arredores...
este carro assistiu a todos os episódios da minha vida. nele tive ataques de choro convulsivo de que ninguém soube. nele tive o primeiro ataque de ansiedade. nele tive ataques de riso. nele estudei. nele bati texto. nele me deixaram bilhetes, e recados, e flores(!), e mensagens desenhadas nas janelas. nele me deixaram marcas de cigarro. nele andaram afixados todos os cartazes de peças em que entrei. nele andaram a balançar baldes de cola para andar a colar cartazes por Lisboa inteira. nele abri prendas. nele dormi. nele discuti. nele beijei. nele fui ombro. nele precisei de um ombro. nele cantei em plenos pulmões. nele dancei. nele carreguei cenários. nele andaram bolos e frangos assados. nele tive dois despistes. nele me maquilhei, penteei, mudei de roupa. nele andou areia e neve. nele ultrapassei os limites de velocidade. nele apanhei multas de estacionamento. nele apanhei desilusões. nele apanhei chuvadas, trovoadas, choques eléctricos, escaldões à camionista. nele aterrei noutros mundos. nele vi luas, estrelas, entardeceres e amanheceres. sozinha. acompanhada. nele trouxe a casa de uma amiga. nele trouxe turcos do aeroporto. nele trouxe a minha avó ao teatro. nele anda o meu perfume, o canivete suíço, a última multa, as chaves da casa da minha avó, o chapéu de chuva, o boné, a tenda, a agenda, os cds, a máquina fotográfica, livros... a minha casa. e os cheiros dos que fazem o meu mundinho.
nele sou independente. nele muitas vezes me apeteceu ignorar a tabuleta que indicava a saída da auto-estrada para minha casa e seguir. só seguir.
são quase 180.000kms. são 7 anos.

nokia by thumbelina
é muita música.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

take me away

uma música triste de Silence 4, uma balada doce de Lifehouse... o estado de espírito desta quarta feira. vou-me embora. por alguns dias, vou-me alhear do mundo. desta vez a redoma é minha. pegar no carro e ir. fazer-me à estrada. com destino marcado a vermelho no mapa, para uma despedida em grande. depois, logo se vê. vou poder descansar. a cabeça [das ansiedades], a máquina [que anda outra vez aos saltos], o corpo [fraco e dorido]. mas acima de tudo, vou poder ser. sorrir quando realmente me apetecer. chorar se e quando me apetecer. vai ser um fim de semana prolongado de apetecimentos.

o duende feliz

não, não é nenhum post acerca do nosso amigo linkado aqui ao lado, esse mestre dos contos e das fantasias... se bem que merecia... é que recebi uma prendinha de Natal e pude voltar às dobragens... algures nesta quadra [ergh, detesto esta palavra] passará na TVI o filme de animação "O Duende Feliz", ou "The Happy Elf". a Molly sou eu. [não tem que enganar é a miúda cuja primeira cena se passa a apedrejar o dito Duende, o Eubie... eheheheh] e também sou eu [kind of] que abro o filme, com a Irmã... esta não tem nome próprio, mas é a ela e ao irmão [que ela entretanto transformou em árvore de Natal à pancada] que se vai contar a história do Duende. sim, sim, calharam-me as miúdas reguilas e ainda por cima as duas dentro da mesma faixa etária... e agora fazer duas vozes distintas...? seria cantado pelo Harry Connick Jr. [essa maravilhosa voz que me persegue com a banda sonora de When Harry Met Sally] mas agora deve ser o Quim Bé a cantar... também não está mal... tu, jov

the producers

there comes a time in your life when you have to stand up straight and scream out loud so that everybody can hear: "Who the hell do I have to fuck to have a chance around here?!" The Producers | Mel Brooks | Drury Lane Theatre | Covent Garden quando ouvi isto, soltei a gargalhada amarga que me acompanha nas ironias da vida. agora já nem consigo rir. estou cansada. não dou o cuzinho e três tostões, mas dou o couro e três tostões. não conta, porra?