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o assobio da cobra

São Luiz Teatro Municipal, até 26 de Novembro.
Quarta a Sábado às 21h, Domingos às 17:30
um musical encenado por Adriano Luz


foi o meu primeiro convite oficial e directo para uma estreia deste teatro [a/c Polegar e tudo], fruto de uma colaboração que teremos num futuro próximo. peguei em mim e aproveitei, que os bilhetes estão pela hora da morte...

primeiro que tudo, uma nota: as vedetas por favor cheguem uma hora a trinta minutos antes do início do espectáculo sob pena de deixarem os anónimos na sala à espera enquanto voscenças são fotografadas para a posteridade do dia a seguir... é de muito mau tom fazer um espectáculo começar 20 minutos atrasado só porque a Catarina teve de ser fotografada e depois ainda teve de dar um beijinho ao Moniz e à Bocas...

a história: pois que não se percebe muito bem... passa-se numa noite, num bar desses de periferia, algures entre os dias de hoje e os anos 50, onde vão só os habitués beber até terem sangue no álcool em vez de álcool no sangue. cada personagem tem pequenos segredos. nesta noite específica, duas pessoas "estranhas" vêm destabilizar os frequentadores habituais e, supostamente, criar conflito. mas o texto foi criado a partir do CD, basicamente para estabelecer uma ligação entre as músicas... ora o que é que se faz quando não se sabe bem como colar músicas com texto? opta-se pelo "ambiente denso", os "mistérios implícitos", "as verdades ocultas" e... deixa-se o final em aberto... o problema é que o entretanto também está mal tecido, cheio de buracos. chegamos ao fim e ficamos absolutamente na mesma. os conflitos existirem ou não é o mesmo que deitar uma colher de água no mar. além disso é tanta música [que não adianta nada à história, simplesmente páram para cantar], que por vezes corta o fio lógico das cenas.

a música: ponto fulcral do espectáculo, ou não fosse um musical. dado o desconto dos nervos da estreia, temos uma banda fantástica, revelações de alguns actores como cantores [ou simplesmente bons profissionais da voz], letras bonitas. chateiam os microfones, que não estão calibrados para a projecção necessária do cantar, e fazem com que se ouçam pequenos estalidos durante a peça. coreografias simpáticas, mas o facto de terem metido um par de bailarinos na figuração desequilibra a coisa para os outros.

o cenário: girinho, dentro do estilo quase-cabaret. o espelho que revela os segredos mais profundos das personagens é uma mariquice... toda a gente percebe que o travesti vive na dúvida de quem é e no pânico de ser apanhado, que o abandonado queria casar com a que o deixou, que o cómico queria ter piada, que a velha queria ser nova...

os actores [estala os dedos, cospe nas palmas das mãos]: são demasiados. aquilo fazia-se com metade, e ainda se ficava a ganhar porque havia menos ruído visual nas cenas.

duas das senhoras mais velhas, por terem de cantar em palco fazem aquilo em tom revisteiro. cruzes, apetece dizer-lhes: olhe, desça até aos restauradores e atravesse para o outro lado... peça para falar com o senhor LaFéria.

puseram dois bailarinos carecas a fazer de machões... não convence.

a menina grávida [Adriana Queirós] é... indiferente. é o "vai benzinho"... o mesmo se aplica ao resto do elenco secundário que não encanta nem desencanta. o João Reis lá tem um acesso de fúria dramática, a passar-se por bêbado irado... mas até isso é desadequado.

destaca-se o Pedro Laginha [o D. Pedro de "Pedro e Inês" da RTP que ia tão mal, tão mal, que quando estava irado parecia apenas estar com um grave ataque de diarreia], uma surpresa em palco, num delicioso loser cujo único objectivo é ser comediante, tendo escolhido os "amigos" como público... eheheh má escolha, tão má que é tão boa de ver...

a Patrícia Vasconcelos, essa grande diva dos castings que diz que também é cantora... podia ficar-se a fazer os castings... um cepo, um cepo, um cepo... imagine-se uma Jessica Rabbit... agora imagine-se uma cantora de tasca de fados com a roupa da Jessica Rabbit. pronto. uma mulher que numa coreografia de braços parece a personagem do Monchique no saudoso C.R.E.D.O.. aplica-se: credo! não sabe porque é que está a fazer as coisas, os gestos saem maquinais e sem o mínimo de sensualidade... e desafina!

o Diogo Infante: salva o dia... uma delícia. a personagem mestramente construída, o homem que é travesti, que dá grandes espectáculos sem nunca saberem quem ele é, e que vive no pânico de ser apanhado, portanto, fazendo-se de machão. e o homem é isso tudo. e continua a contar-nos a sua história enquanto dança, só com os olhares, enquanto canta, ao descair-se... só vendo. um dos poucos que, de facto, não se preocupou só com as cantorias. bravo a ti, mais uma vez, que sempre tiveste o condão de me despoletar um arrepio que me sobe pelas costas e rebenta em lágrimas, só pelo bom que é ver-te trabalhar.

posto isto, nota final: vê-se, é levezinho, é rápido [1h20], é colorido. não aquece nem arrefece. para maníacos do acting com dinheiro para gastar, vale a pena pelo senhor Diogo Infante. só não levem em conta a sinopse...

mas isto sou eu...

Comentários

Anónimo disse…
opáaaaaaaa e eu q tenho o álbum e estava mesmo tentada a ir ver o especatáculo, sim, eu que nem gosto de musicais... Acho q depois disso, nem diogos infantes nem nada me convence. Fico-me pelo cd refastelada no sofá.
Anónimo disse…
Se estivesse em Lisboa juro que ia ver, só para poder concordar contigo em tudo. Beijo
Anónimo disse…
Mas olha que és mesmo boa a fazer críticas.
Anónimo disse…
Boa!!! uma crítica de teatro! a menina tem jeito sim senhor!!! Lá se foram os castings da Patrícia Vasconcelos mas valeu o sacrificio a favor da verdade e da critica construtiva!! é caso para dizer: que se lixem os castings!!! ( com F grande )
Anónimo disse…
colher: olha, nada como ir ver e tirar as conclusões para ti própria. é que o que eu achei pode não ser a tua opinião ;)

macaso: isto das críticas são, como disse à colher, uma questão de opinião... para mim valeu mesmo pelo Diogo Infante...

Rantas: ehhehehe ela nunca me chamou, também ;) de qualquer das formas eu penso que esta senhora naquela peça é, de facto (e ironicamente) um erro de... CASTING :P
Anónimo disse…
Sendo em Lisboa, o mais provável é que não vá . Mas eu ia só por causa do Diogo Infante:)!
Beijinhos!
Anónimo disse…
hummmm...acho k vou mesmo vêr, fiquei curiosa! kiss kiss
Anónimo disse…
O ASSOBIO DA COBRA
És capaz de ter razão nalgumas coisas que dizes. Já fui ver, (tenho o disco que acho excelente), mas é um bocado imbecil a maneira como desancas o espectáculo. A banda é muito boa, sem dúvida. O texto falado fica aquém da excelente qualidade das letras,também concordo. A prestação dos actores é boa, embora desigual, e conseguem imprimir densidade a alguma fragilidade do texto. O teu idolatrado Diogo Infante, é sem dúvida muito bom,mas a sua personagem é tão frágil como outras. Como cantor foi uma revelação.(já o tinha ouvido cantar na peça SEXO DROGAS E ROCK AND ROLL, mas como era a avacalhar e cheio de tiques, era bem mais fácil. Aqui o rapaz esmerou-se). Também gostei muito do Laginha. Espanta-me que na tua tão detalhada observação, não tenhas reparado na Lia Gama, na Isabel Abreu e no António Durães, talvez os actores mais interessantes e eventualmente sub-aproveitados que lá estão. Na minha modesta opinião há que olhar para este musical, ou pseudo-opereta, como um todo, e esse todo é francamente interessante, até porque se distancia ,e muito, do primarismo idiótico vigente.
Também é só a minha opinião, mas esta peça, ou como qiserem chamar-lhe, é muito mais do que o Diogo Infante. Aconselho vivamente, e esperemos que o seu sucesso justifique mais peças como esta
em próximas temporadas. Afinal o monopólio do género está no Politeama, e a existência desse monopólio é que é arrepiante.
Já agora, concordo contigo no que respeita aos atrasos por causa do côr de rosismo, (ou por outra causa qualquer), mas terá sido por essa razão? Quem é que te disse? As altíssimasas esferas que decidem o subir e descer das cortinas do S. Luís ?
Bom. Eu não fui convidada para a estreia e paguei o meu bilhete.Tenho a dizer que o preço não esteve pela hora da morte. Até aos 30 anos pagar-se-ão apenas 5€. Dos trinta em diante, vai de 12 a 20€.

Aconselho-te, tal como aos leitores deste teu blogue
a irem também ao Maria Matos, (sala dirigida pelo homem que te despoleta arrepios que te sobem pelas costas), ver o PILLOW MAN, que não sendo a mãe de todas as peças, é muito boa. Na minha opinião, claro.
Anónimo disse…
maria: agradeço a tua opinião e gosto de pontos de vista diferentes. já agora, é engraçado porque esta foi a primeira opinião positiva que ouvi/li (a pessoas não bajuladoras ou com interesses envolvidos). se todos gostássemos do amarelo...

não mencionei os actores de que falas porque, como o restante elenco, não me aqueceram nem arrefeceram. a Lia Gama e a Isabel Abreu estavam revisteiras, com variações de intensidade desajustadas e uma presença apagada e o António Durães tem (infelizmente) uma personagem tão dúbia e mal desenvolvida (muito por culpa do texto/encenação) que não me mereceu destaque nem pela positiva nem pela negativa.

a densidade de que falas passou-me perfeitamente indiferente, mas, claro, eu fui à estreia e nesse dia os nervos estão à flor da pele. além de que com o passar do tempo os espectáculos apuram.

Pillow Man está na minha lista dos "por favor deixa-me conseguir ir ver".

como falas nos preços, de facto, 5 euros é barato, mas o meu nível de vida não comporta infelizmente capacidade de ver tudo o que quero. tenho de fazer opções. portanto os convites são bem-vindos. faço mais depressa questão de pagar espectáculos pequenos, sem ajudas nem patrocínios.

nas estreias é comum um pequeno atraso. no entanto, conhecendo por dentro o que se passa nestes eventos, podes ter a certeza que só fecharam as portas quando a última vedeta foi fotografada. quanto mais menções nas revistas, mais publicidade. é a máquina da produção.

o Diogo Infante é um fantástico actor (feitio à parte) e com todos os bons actores acontece-me esse arrepio e as lágrimas. tenho uma sensibilidade que me concede esse - considero-o - privilégio. mariquices...

o espectáculo está, realmente, acima da média das "Politeamices", mas nem sequer estava a compará-lo. avalio cada espectáculo pelo que se me apresenta.

quanto à minha imbecilidade, é (mais uma vez) um ponto de vista... não podia falar bem quando não gosto. especialmente quando estou do lado de cá do sistema e conheço um pouco dos dinheiros/cunhas/processos envolvidos. sempre fui exigente e apaixonada (agressiva? eheh) nas opiniões. mais ainda no que toca ao teatro, o meu habitat. quando não sinto justo, não faço esforço para ser consensual. para o bem e para o mal.

beijinhos e volta sempre.

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