Avançar para o conteúdo principal

dark motives

desde que esta empresa produziu a última peça que há muita gente a enviar currículos, a oferecer os seus serviços, a, vá, pedir trabalho.
a menina aqui, encarregue do e-mail geral, é que os recebe a todos. e como sabe o que custa não ter resposta, vai respondendo aquelas coisas nem-carne-nem-peixe: de momento não estamos à procura mas se surgir essa necessidade eporaífora...

bem, o que eu queria mesmo dizer era "pela tua saúde mental e financeira, pela tua capacidade intelectual, pela tua auto-estima, pela necessidade básica de comer que todos temos, agarra-te aos neurónios e foge! que nunca ninguém venha a saber que querias trabalhar aqui." mas não dá jeito...

ora... hoje recebo um mail de um actor. como sempre, vou espreitar o cv, ver se o conheço. o que descubro acerca das habilitações e percurso desta pessoa leva-me a responder o seguinte:

"se viermos a necessitar de actores pessoas na sua área, o seu currículo será tido em conta."

eu sei, sou uma menina má. mas já estou tão cansada...

Comentários

espantaespiritos disse…
devia haver mais gente como tu nas empresas.
as pessoas podiam logo perder as esperanças mas ficavam a saber no que se iam meter e suspirar de alívio por não ter acontecido :)
intruso disse…
ahah...

essa coisa de receber mails/CV no sitio onde trabalho (aliás, trabalhava) e ter que repetir essa lengalenga do costume é-me familiar...
(...assim como o "não queiras! foge!!!" eheh)
:)

p.s.
ri-me muito com o texto
:)
MPR disse…
Respondeste mesmo com o risquinho?
polegar disse…
espanta: tens a certeza ;))

intruso: ah pois é!

mpr: não. escrevi actores e depois apaguei e substituí por pessoas. e depois de lhe ler o cv, acredita que fui meiga LOL

Mensagens populares deste blogue

sabes quando te revisitas e já não te encontras? não sabes o que fazer de ti contigo. as perdas têm sido valentes, as estocadas mais fundas. pensei que por agora a pele estivesse mais grossa, mas não. pensei que estivesse de pés assentes, mas há força nas pernas. perdi o meu pai. perdi o meu chão. espero por uma fase boa. em que esteja tudo bem, organizado. nem que venha depois outra ventania, mas um pedaço de vida em que tudo esteja no seu lugar. só por um bocadinho. mas não. as peças estão espalhadas, quando começo a arrumar umas, caem ao chão as do outro canto da vida. um empilhar de pratos num tabuleiro demasiado cheio, que não se tem oportunidade de ir despejar à cozinha. até as metáforas me saem avariadas, já. tabuleiros de cozinha é o que me sobra. isto são metáforas, certo? é um padrão, o padrão caótico da minha vida, que tento desenhar em palavras que já não tenho. quero despejar-me aqui mas não sei bem como. os medos continuam, sabias? estão piores, diria, porque...

q.b. de q.i.

como é sabido, neste centro de escritórios funciona também uma das maiores agências de castings do país. há enchentes, vagas de gente daquela que nos consegue fazer sentir mais baixos e mais gordos do que o nosso próprio e sádico espelho. outras enchentes há de criancinhas imberbes que nos atropelam no corredor de folha com número na mão. as mães a gritarem hall fora "não te mexas que enrugas a roupinha" ou "deixa-me dar-te um jeitinho no cabelo ptui ptui já está"... e saem e entram e sentam-se e entreolham-se naquele ar altivo as meninas muito compridas e muito fininhas, do alto ainda mais alto dos seus tacões e com a mini-saia pendurada no osso da anca, que o meu patrão já diz "deixem passar dois anos que elas começam a vir nuas aos castings... pouco falta... têm é de vir de saltos altos... isso é que já não descolam dos pés!" bom, nesses dias aceder à casa de banho é um inferno. é que elas enfiam-se lá dentro nos seus exercícios de concentração preferid...

there goes my hero. 1 ano

Pergunto-me o que acharias acerca desta demência toda, desta distopia rocambolesca mas ainda assim não suficientemente diferente do “normal”. Deste bailado em corda bamba da auto-idolatria com os gestos incrivelmente abandonados de ego. Desta atrapalhação profundamente honesta e refinada que se aprende fazendo e se desfaz em ilusões como uma teia fininha. Deste viver no presente forçado, fincados no agora até à dor no pescoço porque agora é que não sabemos mesmo o que vem depois de amanhã.  Provavelmente discutimos aces amente sobre uma merda política qualquer que não controlamos, para a seguir nos estarmos a rir cúmplicemente de qualquer coisa pouco apropriada. Cheira a grelhados, que o vizinho tem quintal, e aí a coisa custa mais. Esse peso bom da mão inteira na cabeça que me guardava a inquietude faz falta. Distopia é não estares aqui. O resto aguenta-se com um cravo ao peito. Contigo cravado no peito.