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curtas dum regresso ao passado

numa passagem pelo bairro da minha infância a comprar o melhor frango assado do mundo, uma paragem para aquecer os beiços [congelados pelo vento frio] com um café e a melhor delícia folhada do mundo. sentada nas cores, sons e pessoas do meu tempo das papoilas, ouço o talhante [ainda por ali anda, ainda lá vai beber o café quando fecha o estaminé] dizer: "custa três mil reis" com a dicção perfeita de época: mérreis.

à saída do café, uma menina brinca rodando agarrada a um sinal de trânsito. espalha-se no chão de palmas das mãos directas na calçada. senti perfeitamente o ardor da gravilha a cortar-me a pele, como me acontecia com frequência, na estrada da praceta, no tempo das papoilas. gemi e tudo.

já a caminho de casa, nariz no ar. o nevoeiro acumulava-se em gotas nas pestanas. com o reflexo dos candeeiros parecia que tinha chorado daqueles choros de antigamente. em que a alma se despejava toda no sal sincero de um qualquer amuo sentido.
o nevoeiro cheirava nitidamente a um outro velho companheiro... o aerossol.

Comentários

Anónimo disse…
suspiros na brisa fria da tarde... é sempre bom regressar.
Anónimo disse…
A história repete-se...
Anónimo disse…
não esquecer a senhora idosa e a menina no meio da estrada a andarem aos "esses", que segundo me informaram do banco de trás são, e passo a citar:

"veículos prioritários nas estradas do pacato bairro."

vivendo e aprendendo as regras de trânsito.

p.s. e o nevoeiro a cheirar a aerossol é o fruto do progresso... mas que curiosamente tb relembra tempos frios em camarins cheios de colegas nervosos... só faltava o irritante som: pfffffpppfffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffff... e ao fundo a ecoar a ponte do rio kway (é assim que se escreve???)

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