agora paraste de respirar. agora evadiste-te das paredes já desgastadas do teu peito. arrastou-se o tempo e agora parou. ela, que nunca te abandonou nem quando a mataste de cansaço, estará lá à tua espera. e, para onde vais, andar não custa. respirar não custa.
as dores, as marcas, as horas, ficam.
agora não importa. que descanses em paz, avô.
as dores, as marcas, as horas, ficam.
agora não importa. que descanses em paz, avô.
Comentários
Um beijo
Daniel
beijo de mim, amiga linda.
um dia emagracem - partem
deixam-nos abandonados ao abandono
no interior duma dor inútil muda
e voraz
arquivamos o amor no abismo do tempo
e para lá da pele negra do desgosto
pressentimos vivo
o passageiro ardente das areias - o viajante
que irradia um cheiro a violetas nocturnas
acendemos então uma labareda nos dedos
acordamos trémulos confusos - a mão queimada
junto ao coração
e mais nada se move na centrifugação
dos segundos - tudo nos falta
nem a vida nem o que dela resta nos consola
a ausênia fulgura na aurora das manhãs
e com o rosto ainda sujo de sono ouvimos
o rumor do corpo a encher-se de mágua
assim guardamos as nuvens breves os gestos
os invernos o repouso a sonolência
o vento
arrastando para longe as imagens difusas
daqueles que amámos e não voltaram
a telefonar" (Al Berto)
não é preciso dizer mais nada...
B.